terça-feira, 12 de junho de 2012

UE lança programa para aumentar emprego”, como reação ao número recorde de 10% de desempregados na Europa. Perante as violentas críticas contra a política de austeridade na Europa, a Comissão Europeia agarra-se a um bastião nacional: a política social e o mercado de emprego. O comissário encarregue do dossiê, László Andor, deverá apresentar esta semana um “pacote para o emprego” que terá como objetivo a criação de 17 milhões de novos postos de trabalho na Europa até 2020. As principais medidas desse plano são a total abertura dos mercados de trabalho, tanto público como privado, a todos os cidadãos europeus – incluindo romenos e búlgaros –, “salários mínimos adaptados” que permitam aos trabalhadores viverem do seu ordenado, reconhecimento dos respetivos diplomas e diminuição dos impostos sobre o trabalho. A Comissão espera maior potencial de setores como a saúde, os cuidados a pessoas idosas, o desenvolvimento económico sustentável a nível climático e as tecnologias de informação. Resta saber se os Estados permitirão uma tal ingerência nos seus assuntos sociais: o plano será discutido durante a cimeira europeia do próximo mês de junho.

A grande “conspiração federalista”


Nas últimas semanas, o fracasso da fórmula "ajuda + austeridade", até agora adotada para fazer face à crise do euro, fez surgir uma certeza, partilhada por um número cada vez maior de pessoas: a única maneira de manter de pé a periclitante união monetária é dotá-las das pernas que esta não tem – devido, entre outras razões, à rejeição pelos eleitores do projeto inicial de Constituição europeia, nos referendos de 2005, em França e nos Países Baixos –, ou seja, de uma união orçamental e bancária. Para a governar, não seria possível evitar uma forma mais completa de união política. Os Estados Unidos da Europa, até então situados no domínio da fantasia, tornar-se-iam realidade.
Se a austeridade e o medo de que uma parte importante da economia do continente se afunde são necessários para pôr termo à resistência dos eleitorados nacionais e para que seja dado um passo decisivo num processo que se arrasta há cerca de 50 anos, será possível que as elites europeias tenham, conscientemente, "gerido a crise" da zona euro, deixando-a agravar-se durante 4 anos, de modo a poderem colher os frutos do pânico,  de não existir alternativa?
 "Penso que os criadores da união monetária já sabiam que o seu modelo [que era imperfeito e não previa uma cláusula de saída] causaria uma crise e que essa crise conduziria a uma solução federalista". "Era a única maneira de chegar ao federalismo."
 Nos anos 1950, perante a agitação causada pelo processo da construção europeia, o promotor mais venerado dessa construção, proferiu um aforismo que se tornou célebre: "Os homens só aceitam a mudança quando sentem necessidade e só veem essa necessidade quando há uma crise" (Jean Monnet, Memórias). Palavras que, à luz dos acontecimentos em curso, se tingem de uma triste clarividência. Monnet era o líder dos tecnocratas europeus e não tardaria que a sua utopia administrativa se visse confrontada com os limites impostos pela política. Hoje, parece ter voltado a soar a hora dos tecnocratas e Monnet talvez possa ter a sua vingança.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Em busca de uma solução

Para a Comissão Europeia, trata-se de uma descoberta pelo menos chocante e perturbadora. Ao fim de dois anos de discussão, parece agora que as emissões indiretas deveriam ser introduzidas na legislação e está prevista para este verão a apresentação de uma proposta nesse sentido. Contudo, isso não significará o fim dos biocombustíveis. Hoje, o biogasóleo representa 80% do mercado europeu de biocombustíveis, sendo a quota restante detida pelo bioetanol, o equivalente do biogasóleo para os motores a gasolina. A história dos biocombustíveis constitui uma prova adicional da dificuldade em encontrar uma solução fácil para a crise ambiental atual. A Europa corre presentemente o risco de se tornar alvo de ridicularização por parte dos que se opõem à teoria do aquecimento global e de outros adversários da tese de que o homem é responsável por esse aquecimento. Apesar de tudo, mesmo que manchada por alguns fracassos, a ideia de criar um futuro sustentável continua a ser uma meta legítima.

Óleos vegetais

A Europa argumentou que pretendia impor os biocombustíveis numa ótica de desenvolvimento sustentável. Segundo a legislação atual, ao contrário do gasóleo clássico e da gasolina, as plantas das quais é extraída a matéria-prima para os biocombustíveis destinados aos motores europeus garantiriam, no mínimo, uma redução de 35% das emissões de gases com efeito de estufa. Não podem, portanto, ser cultivadas em zonas de floresta virgem ou de outro ecossistema inestimável, porque, se isso acontecesse, o limiar fixado não seria atingido. Então, por que motivo mais de cem organizações não governamentais enviaram recentemente à Comissão Europeia uma carta aberta, que constitui um alerta? A resposta resume-se a quatro letras: ILUC, Indirect Land Use Change, ou seja, alteração indireta do uso do solo. Semear colza em terrenos europeus, com vista à produção de biocombustíveis, é conforme com a legislação atual. É indiscutível que obteremos uma redução de emissões, mesmo que sejam integrados nos cálculos o gasóleo utilizado para proceder às colheitas, para produzir adubos, etc. Mas, dantes, os óleos alimentares satisfaziam as necessidades locais. Hoje, a produção de colza vai parar aos motores diesel e a Europa importa óleos vegetais. Estes são produzidos, designadamente, a partir da palmeira-dendém, cultivada em enormes plantações, na Malásia e na Indonésia, em terras frequentemente conquistadas através da destruição de florestas virgens e da drenagem de zonas pantanosas. Se tivermos em conta essas emissões indiretas, conclui-se que o biocombustível produzido a partir da colza tem um impacto sobre o clima mais negativo do que o petróleo tradicional.
Para atingir os seus objetivos em matéria de redução das emissões de CO2, a UE incentiva a exploração de biocombustíveis em terrenos agrícolas. Mas esse incentivo leva a que as culturas destinadas à alimentação e a poluição sejam transferidas para os países em desenvolvimento. Por conseguinte, a Comissão seria forçada a alterar constantemente a regulamentação nesta matéria. Há três anos, a União Europeia assumiu um compromisso: fazer com que, até 2020, um décimo da energia dos meios de transporte europeus provenha de fontes renováveis. A frota sempre crescente de veículos elétricos, alimentados em parte a energia eólica e solar, deveria contribuir para esse objetivo. A partir de 2015, começariam a ser rapidamente comercializadas viaturas a hidrogénio, que, em princípio, podem também funcionar com energia "verde". Deste modo, seria possível reforçar a segurança energética e reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. Mas a revolução tecnológica atrasou-se e, portanto, teriam de ser os biocombustíveis a assegurar o cumprimento do objetivo. No entanto, ergueram-se vozes críticas, entre a comunidade científica e as organizações não governamentais, que alertam para o facto de a energia "cultivada nos campos" não ter apenas vantagens. Contribui igualmente para o aumento dos preços mundiais dos produtos alimentares. Os agricultores tradicionais dos países em desenvolvimento são expulsos das suas terras, que são absorvidas pela agricultura industrial – que traz consigo os pesticidas, os adubos artificiais e um impacto negativo sobre a biodiversidade. E, acima de tudo, conduz à devastação de florestas tropicais.

Europa precisa de três planos

O enfraquecimento das finanças públicas foi o resultado previsível de um crescimento fraco e de bancos pouco sólidos. Foi prestada ajuda financeira aos países em maiores dificuldades, mas só na condição de cumprirem objetivos rígidos para a redução dos seus défices. Cortes na despesa e aumento de impostos conduziram a um crescimento ainda menor, a bancos ainda mais fragilizados e os anunciados objetivos de redução do défice não foram cumpridos, espetacularmente em alguns casos. Vejamos a descrição do que aconteceu na Grécia, onde a recuperação previamente anunciada para 2013 foi agora – surpresa, surpresa – novamente adiada. "Diversos fatores dificultaram a sua concretização: instabilidade política, descontentamento social, problemas de capacidade administrativa e uma recessão muito mais grave do que se previra." Isto resume quase tudo, mas nada garante que – mesmo agora – Bruxelas reconheça o que se passa. Fala em conseguir o devido equilíbrio entre necessidade de consolidação, reforma e crescimento, mas não reconhece que a atual combinação está completamente desajustada. A Europa precisa de três coisas: um plano de crescimento, um plano de recapitalização dos bancos e um plano para distribuir o fardo de uma forma mais equitativa entre o Norte, rico, e o Sul, pobre. Atualmente nada disto existe. E é por isso que a Europa luta agora pela sua sobrevivência. Mas como conseguir tais objetivos se não existe liquidez!
Apesar dos indícios claros de que as suas políticas de austeridade estão a conduzir os desesperados Estados-membros para uma situação económica ainda mais aflitiva, a Comissão Europeia apresentou, no seu Relatório de Contas anual a 30 de maio, a defesa de uma estratégia que leva à bancarrota. Com os títulos da dívida pública espanhola quase a atingir os 7%, a economia grega à beira da rutura e o futuro da moeda única cada vez periclitante, a ocasião não podia ter sido melhor para Bruxelas publicar o seu Boletim sobre os 27 Estados-membros da União Europeia. Era o momento ideal para a Comissão Europeia estudar a situação, avaliar eventuais políticas e anunciar um plano para solucionar a crise generalizada. Os documentos refletem um cenário negro. Reconhece-se que a União Monetária atravessa o período mais conturbado de sempre. Admite-se – se assim podemos dizer – que as políticas atuais não estão a resultar. E há sugestões, ditadas pelo desespero, sobre possíveis reações da Europa: eurobonds, uma união bancária e a injeção direta nos bancos fragilizados de fundos retirados do fundo de financiamento permanente. Seria o suficiente para estimular os mercados financeiros enquanto os operadores de mercado ficariam satisfeitos com o facto de Bruxelas estar talvez um pouco menos perdida do que aparentemente esteve nos últimos meses. Porém, como estratégia de resolução da crise, revelar-se-ia mais uma vez inútil. Pela simples razão de que todas as grandes ideias tidas anteriormente se depararam com o rotundo "Nein!" de Angela Merkel. Mas a questão mais vasta é que, mesmo agora, a Comissão parece estar num estado de abjeta negação da situação de falência de uma estratégia demasiado confiante sobre austeridade fiscal. O que está a acontecer no ponto fraco da zona euro é os países estarem a ver as finanças públicas a deteriorarem-se à medida que as economias se vão debilitando com a recessão. Para alguns, como é o caso dos gregos, o problema sempre foi o excesso de dívida pública. Para outros, como é o caso de Espanha e da Irlanda, o problema começou com uma orgia de investimentos descontrolados no setor privado que levou a que o Estado tivesse de pagar quando as bolhas rebentaram.

Plano B para o euro

Crise da dívida É a repetição de 2010. Os títulos da dívida pública espalham-se pelo continente, tendo em consideração que a taxa de juro de Portugal dos empréstimos a dez anos subiu para 6,7%. A estratégia de financiamento da Europa, destinada a acalmar os mercados financeiros e a criar uma barreira entre o centro e a periferia da zona euro, não está a resultar. A solução?Um plano B: Restruturar a dívida pública. Se não se conseguir fazer isto, o resultado será ainda pior, levando em conta de que a intervenção do FMI tem de ser conjugada com alguma coragem política da UE.

Zona euro



Barroso defende união bancária

À margem da apresentação do relatório anual da Comissão sobre as economias dos Vinte e Sete, a 30 de maio, Durão Barroso admitiu a hipótese da criação de uma “união bancária” para apoiar o setor financeiro na zona euro.  Essa “união bancária” deverá garantir um sistema de proteção dos depósitos e de controlo comum dos bancos.
"Barroso defendeu uma futura união bancária que permita garantir ajudas diretas provenientes dos fundos do MEE [Mecanismo Europeu de Estabilidade] às instituições em dificuldades, em vez dos créditos unitários entregues aos Estados ou aos acionistas. O MEE deverá entrar em vigor a 1 de julho e será dotado com 700 mil milhões de euros. Precisamos de um plano que conceda tempo, disse Barroso. A partilha de encargos é uma condição essencial para a retoma de confiança dos investidores."

terça-feira, 15 de maio de 2012

O regresso ao dracma??

No momento em que aumentam as especulações sobre a saída da Grécia da zona euro, é preciso perceber que o país não pode sobreviver sem a moeda única e que a Europa não pode permitir a sua saída. Por isso, ambos têm que colocar as cartas na mesa. Em diversos países e regiões, o veredicto dos eleitores está dado. A solução baseada apenas na austeridade é um fracasso. Agora, há que o interiorizar e iniciar negociações, que se preveem difíceis, que poderão levar a compromissos penosos. Mas, é urgente que a Grécia esteja pronta para tudo. E será necessário distinguir a realidade das ameaças e das chantagens que se trocam neste momento. Em primeiro lugar, a Grécia não está preparada para sobreviver por si mesma. Sem as ajudas da Europa e do Fundo Monetário Internacional (FMI), em breve o dinheiro faltará para pagar os salários dos funcionários públicos e para comprar ao estrangeiro aquilo de que necessita para sobreviver, a começar pelos produtos alimentares e pelo petróleo. Em segundo lugar, após as reestruturações impostas aos credores privados, atualmente quase metade da dívida grega está nas mãos da Europa ou do Fundo Monetário Internacional. Portanto, se a Grécia não pagar, serão sobretudo os contribuintes da zona euro, ou seja, todos nós (mil euros por cabeça, numa estimativa sumária), quem irá desembolsar. Em terceiro lugar, o regresso ao dracma só seria vantajoso na imaginação de economistas pouco informados, quase todos americanos. O governo de Georges Papandreou encomendadou um estudo que concluía que mesmo os dois setores que proporcionam à Grécia os seus rendimentos principais, o turismo e a marinha mercante, não beneficiariam com uma moeda desvalorizada. Em quarto lugar, a verdade desconhecida é a dos prejuízos colaterais – para além do incumprimento da dívida – que uma eventual bancarrota da Grécia causaria aos outros países da zona euro. O diferencial em relação aos títulos do tesouro alemães [spread] não deixaria de crescer. Certamente, as consequências não teriam o mesmo peso para todos. Seriam mais pesadas para os países fracos, a começar por Portugal, em seguida a Espanha e a Itália, e mais leves para a Alemanha.

Europa não sabe como dar a volta à situação

Há muito quem diga que só uma união bancária europeia pode livrar a banca e os governos deste sufocante abraço. Uma união bancária com um fundo de salvação alimentado pelos próprios bancos, de modo a que os governos deixem de estar obrigados a compensar falências: isso permitiria resolver o dilema atual do "too big to fail" [demasiado grande para cair], que faz com que os grandes bancos façam o que lhes apetece, porque têm a certeza de serem salvos pelo governo quando a situação lhes correr mal. Se forem penalizados pelos seus atos, passam a avaliar os riscos de forma diferente. A Comissão Europeia preparou uma proposta. Mas a sua publicação já foi adiada dois anos porque os Estados-membros não a querem. Porque implica uma vigilância europeia forte. Isso equivale a uma transferência de soberania nacional, o que é, para muitos países, difícil ou tema tabu. A Europa não sabe como dar a volta à situação. Como os governos não querem um sistema europeu de forte regulação financeira, aumenta o risco de o contribuinte levar com uma série de faturas europeias, sob a forma de ações de recuperação financeira, no valor de muitos milhares de milhões de euros. E resta muito pouco dinheiro para estimular o tal crescimento económico de que François Hollande é atualmente o paladino. "A maior ameaça para a estabilidade financeira da Europa é o facto de os países da zona euro serem financiados por bancos que, se forem à falência, estarão dependentes dos governos aos quais emprestam dinheiro".

Ato patriótico permite grandes lucros

Taxas de juro mesmo muito vantajosas. No inverno passado, o Banco Central Europeu concedeu créditos muito baratos para mil milhões de euros, a fim de manter as trocas de empréstimos europeus. Os bancos da Europa do Sul aproveitaram estes créditos de muito boa vontade, a uma taxa de juro de 1%, para depois emprestarem aos governos cobrando-lhes 6% ou mais. Um ato patriótico que lhes permite ir tendo grandes lucros. Parece ser uma solução, mas cria uma dinâmica perversa: os bancos e os governos tornam-se de tal modo interdependentes que se enfraquecem mutuamente. "os bancos gregos estão absolutamente desgraçados". Parece ser um problema nacional. Mas isso é uma ilusão de ótica. O que vai acontecer se, de repente, os bancos do Sul não pagarem (não conseguirem pagar) os seus empréstimos ao BCE? "Por causa do euro, estamos todos no mesmo sistema". Indiretamente, o BCE somos nós. Todos nós, de todos os países do euro. Se as coisas correrem mal no Sul da Europa, outros países da zona euro terão de ajudar, para salvar a união monetária europeia. O BCE está, pois, sob forte pressão da Alemanha e da Holanda, no sentido de impedir esses empréstimos especulativos. O mercado financeiro interno é a base do euro. A fuga de capitais do Sul para o Norte destrói esse tecido. "A integração financeira da Europa está a recuar, pela primeira vez desde o início dos anos 1980". Os bancos retiram-se para as suas fronteiras: para serem mais fortes num país, deixam de conceder empréstimos a outro.


Não é possível tirar o crescimento da produção de uma cartola, como por magia,
e não há de facto dinheiro para investimentos.
Por isso há que manifestar uma certa estupefação com a forma como os políticos europeus,
encabeçados pelo novo Presidente francês, martelam uma simples palavra: crescimento.
Para o  grupo de reflexão de Bruxelas CPSE, a dicotomia "austeridade ou crescimento" é um "falso debate", que não faz avançar um passo na solução da crise do euro.
O verdadeiro debate, segundo ele, deve centrar-se nos bancos, especialmente os do Sul da Europa, que estão muito pior do que se pensava.
"Os bancos gregos e espanhóis estão sentados numa pilha crescente de dívidas”. “Só a Europa os pode salvar, os Governos grego e espanhol são demasiado fracos. É um problema europeu da maior importância."
No ano passado, depois de forte pressão política, os bancos europeus aceitaram cortes no pagamento da dívida do Estado grego, através de um perdão parcial. Depois disso, os mesmos bancos retiraram-se do Sul da zona euro, antes de novos cortes. Espanha, Itália e Portugal foram massivamente abandonados pelos investidores estrangeiros. Na Grécia, a fase seguinte já começou: até os gregos colocam o seu dinheiro no exterior. Estamos perante   uma imensa fuga de capitais. "Quatro, cinco, seis mil milhões de euros por mês. Ninguém os consegue travar."
Esta evolução acompanha a par e passo outra, igualmente prejudicial: devido à saída dos bancos do Norte da Europa, os do Sul vão-se afundando cada vez mais em dívidas. As obrigações de que os investidores estrangeiros se estão a livrar são compradas precisamente por bancos europeus do Sul. Fazem-no por pressão dos governos, mas também porque ganham dinheiro com isso. É que, em troca desse favor, os governos contratam novos empréstimos, a taxas de juros mais interessantes para os bancos.

terça-feira, 8 de maio de 2012

UE-CHINA

China cerca a Europa. Mas não percamos a esperança! A crise da dívida europeia é um alvo fácil para o investimento externo chinês. Por isso, precisamos de perceber que espécie de poder se está a tornar a China, escreve Timothy Garton Ash. Por vezes, a Europa colonizou pedaços da China. Agora, é a China que está a colonizar pedaços da Europa. Informalmente, é claro, e de uma forma muito mais bem-educada do que nós o fizemos. O crescimento da China tanto ilumina como explora o relativo declínio da Europa. Durante a sua visita à Europa, o primeiro-ministro Wen Jiabao vai visitar a Alemanha, o Reino Unido e a Hungria. Porquê a Hungria? Porque, por um lado, tem atualmente a presidência rotativa da UE mas, também, porque a China ali tem grandes investimentos e quer ter ainda mais – como acontece um pouco por todo o lado no sul e no sudeste da Europa. Um estudo recente do Conselho Europeu de Relações Externas (ECFR) estima que 40% do investimento chinês na UE está em Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Europa de Leste. Porquê tanta atenção à periferia? Bom, porque há investimentos prometedores a serem feitos lá e porque estas pequenas e periféricas economias são a porta de entrada mais fácil para um mercado único europeu de 500 milhões de consumidores. O mercado da UE está muito mais aberto aos chineses do que o chinês está aberto aos europeus. Investir muito nestes países também traz recompensas políticas. Não é excesso de cinismo ver Pequim construir uma espécie de lobby da China dentro das estruturas de tomada de decisão, onde o Estado mais pequeno é, pelo menos teoricamente, exatamente igual ao maior. Com a maior reserva de divisas do mundo – cerca de três biliões de euros, atualmente – a China pode comprar metade dos bens públicos gregos a privatizar, de uma só vez. A Grécia deverá ter cuidado com estes presentes chineses? Bem, quem pede não escolhe. Acreditar no comércio livre Não devemos ser excessivamente paranoicos sobre este assunto. Se acreditamos no comércio livre e nos mercados, temos de praticar o que defendemos. No entanto, não há dúvida de que o poder económico chinês está a crescer na Europa – e a traduzir-se em influência política. Alguns dos vizinhos asiáticos da China sofreram muito mais com o crescimento da China. Enquanto alguns, na Europa, ainda sonham com um mundo pós-moderno de soberania partilhada, em que a UE seria um modelo de governo global, a geopolítica da Ásia está cada vez mais parecida com a da Europa do século XIX – em vez de se assemelhar à do fim do século XX. Para além das dimensões económica e militar do poder emergente da China, há ainda uma terceira dimensão: política, cultural ou de “suave” poder.

Campanha xenófoba para 2012

Depois da Espanha e da França, que introduziram novas restrições no mercado de trabalho por causa dos romenos, vários outros Estados anunciaram que vão alterar a legislação a fim de reduzirem a imigração. Com o pretexto de salvaguardar os empregos locais, o acesso dos imigrantes ao mercado de trabalho. Não se tratam exatamente de razões económicas, mas de entorses aos princípios democráticos da União, que foram ignorados. Sempre que a economia dos países de destino se contrai, aparecem atitudes de rejeição dos imigrantes. E, inevitavelmente, é o grupo mais importante de entre eles que é visado. Assim, os romenos são o alvo de várias campanhas nesse sentido. Apesar disso, apenas uma pequena minoria de romenos volta ao seu país. Apesar disso, apenas uma pequena minoria de romenos volta ao seu país, apenas 5% dos que partiram voltaram ao seu país, e por períodos curtos. Depois, voltam a partir para outros destinos.

Migração do género "bilhete só de ida"

A migração do género “bilhete só de ida”, como a dos italianos e dos irlandeses que embarcavam num navio com destino aos Estados Unidos e ali ficavam até morrer, desapareceu. Hoje, a migração é itinerante, de um país para o outro, em função do mercado de trabalho. Os migrantes distribuem-se tacitamente pelo mercado em função da aceitação e da penosidade do trabalho. Há, por isso, uma enorme diferença entre os emigrantes espanhóis e os romenos. Estes últimos são conhecidos como “apanhadores de morangos” porque, na sua maior parte, trabalham na agricultura dos países de destino e ocupam os empregos menos qualificados. Quanto aos espanhóis, estes vão para países onde encontram empregos especializados. A diferença entre romenos e espanhóis não é tanto a competência, mas a aceitação” de empregos diferentes. Na Irlanda, o número de habitantes que atualmente deixa o país é superior ao dos imigrantes que entraram no país na época em que era conhecido como “o tigre celta”. No último ano fiscal, abril2010-abril2011, mais de 40 mil irlandeses abandonaram a ilha, contra os 36 mil imigrantes que ali chegaram. A tendência migratória atual vai manter-se, por causa da crise e da recessão que atinge a Europa. Sobretudo porque os países que se juntaram à União em 2004 já ultrapassaram o período de transição (de sete anos, no máximo) que um Estado membro lhes pode impor para proteger o seu mercado de trabalho. A data limite para a Polónia, a República Checa, a Hungria, a Estónia, a Letónia, a Lituânia, a Eslovénia e a Eslováquia foi 1 de maio deste ano.

Emigração

A crise leva os Europeus a retomar o caminho da emigração. É no norte do Continente que se encontra a salvação, tanto para os jovens dos países mediterrâneos, como para os da Europa oriental. No espaço de um século, os países europeus passaram do estatuto de países de emigração para países de imigração – transformaram-se em países de acolhimento. Como um íman, o desenvolvimento industrial tem atraído a população dos países pobres. Muitos migrantes voltaram depois aos seus países de origem, mas foi precisa uma injeção de mão de obra externa para cobrir o deficit de trabalhadores. Os últimos países de acolhimento foram os do Sul da Europa, destino preferido dos romenos, sobretudo. Neste momento, estes imigrantes concorrem, no mercado de trabalho, com os autóctones no desemprego. Perante esta situação, e às novas restrições em matéria de emprego de estrangeiros, imigrantes do Leste e autóctones do Sul tendem a procurar trabalho na Europa do Norte. No passado, a Europa já viveu grandes movimentos migratórios. Entre 1950 e 1970, cerca de 10 milhões de italianos, gregos, espanhóis e portugueses puseram-se a caminho de países europeus mais desenvolvidos. Depois de 1973, com o início do declínio demográfico no arco mediterrânico, os Estados que dele fazem parte abriram as suas portas aos trabalhadores estrangeiros. O ponto de inflexão – quando a imigração ultrapassou a emigração – foi atingido nos anos de 1980. Os fluxos vieram da África do Norte, depois, da Europa Central e Oriental. O processo acelerou-se depois da queda do Muro de Berlim. Agora, a Alemanha, o Reino Unido e os países nórdicos poderão ter de enfrentar um assalto sem precedentes porque, para além das populações com grande tradição migratória (Espanha, Itália, Irlanda e mesmo Grécia), há hoje uma enorme pressão dos países da Europa de Leste, com os romenos à cabeça. Quanto à Roménia, tornar-se-á, por sua vez, um país de imigração, mas tratar-se-ão, provavelmente, de trabalhadores vindos da Ásia, do Médio Oriente e da África. As últimas estatísticas britânicas mostram, por outro lado, uma dinâmica invulgar na relação com a Espanha. O número de espanhóis registados no sistema de segurança social britânico aumentou 85% durante o último ano fiscal (abril -2010-abril - 2011), por comparação com o ano anterior. Pela primeira vez, a Espanha faz parte dos cinco principais países de proveniência de imigrantes para o Reino Unido – depois do Paquistão, do Sri Lanka, da Lituânia e da Irlanda. Segundo a filial espanhola da agência de trabalho temporário Adecco, cerca de 110 mil pessoas deixaram a Espanha com um contrato de trabalho na mão entre 2008 e 2010, enquanto a taxa de desemprego naquele país ultrapassou os 21%. Mais de 4,2 milhões de pessoas estão sem emprego. Também entre os italianos se registou um aumento significativo: os 60 mil curriculuns vitae enviados para o Eurostat em março de 2010 passaram a quase 90 mil em setembro de 2011.

25 milhões de desempregados e o eldorado alemão

Em fevereiro, o desemprego na UE atingiu a taxa mais elevada dos últimos quinze anos. Segundo o Eurostat, 10,2% dos europeus estão sem emprego, ou seja, 24,55 milhões de pessoas. Na zona euro a taxa é de 10,8%, o que significa 17,13 milhões de pessoas. Com 5,7% (só a Holanda, a Áustria e o Luxemburgo têm menos desemprego) a Alemanha faz figura de eldorado, “Berlim faz publicidade junto dos europeus” para atrair mão-de-obra. Em algumas regiões e setores profissionais, a Alemanha está numa situação de pleno emprego e procura aumentar a mão-de-obra estrangeira que fala alemão. Um especialista em imigração afirma, no entanto, que as expectativas não devem ser muito elevadas: “A Alemanha não é a primeira escolha para os trabalhadores qualificados, tem que concorrer com outros Estados”. Refere-se sobretudo aos licenciados que falam inglês que procuram emprego sobretudo no Reino Unido. Por isso, Berlim não espera um grande assalto de desempregados gregos e espanhóis.

Mercado negro para resíduos biológicos

Terceiro: os que produzem energia através da cultura do milho podem dar-se ao luxo de pagar rendas muito mais altas pelos terrenos, chegando aos 1500 euros por hectare, o que gera uma concorrência desleal em relação aos que precisam de pastos para o gado. É o mesmo fenómeno que está a ser criado com os parques fotovoltaicos, pelo que se repetem os mesmos erros. Quarto: as próprias instalações, as de um megawatt, são estruturas de grandes dimensões, cuja construção sacrifica definitivamente terrenos agrícolas. Quinto: já se ouvem rumores sobre o surgimento de um mercado negro de detritos orgânicos, nomeadamente de sobras de matadouros, vendidos ilegalmente para produzir biogás. Nunca deveriam ser utilizados como biomassa, porque os resíduos da "digestão" são espalhados nos campos como fertilizantes, e esse tipo de desperdício não só polui como propaga doenças. É um problema de escala. Em si, o biogás a partir de biomassas é benéfico. Mas se for produzido para fins especulativos e sobredimensionado, se intensificar a produção de milho com o único propósito de alimentar as instalações de produção de energia, se fizer subir os preços dos solos, se os esgotar e poluir, então é preciso dizer basta. Alto e bom som. Estas questões devem ser colocadas sobre a mesa e discutidas durante os debates sobre a nova Política Agrícola Comum (PAC), que começaram há dias, em Bruxelas. Mais cedo ou mais tarde, os subsídios vão acabar. O biogás e as suas grandes instalações são um cautério na perna de pau da nossa agricultura doente e podem mesmo representar o seu golpe de misericórdia. A verdade é que vai ser muito difícil voltar atrás: os terrenos férteis não são recuperáveis, os lençóis freáticos estão contaminados, a salubridade desaparece, os que se esforçam por praticar uma agricultura correta são entravados por uma competição impiedosa e insustentável. Agricultura industrial, que paradoxo!

Produzir alimentos para produzir energia

O que está a acontecer? Muitos agricultores, em apuros por causa da crise generalizada no setor, tornam-se produtores de energia e deixam de produzir alimentos. Na verdade, cultivam apenas milho, de forma intensiva, para encherem os "biodigestores", geradores de biogás. Os investidores ajudam-nos e, por vezes, exploram-nos. Há quintas onde os agricultores são pagos por quem instala os equipamentos para cultivar apenas milho: tornam-se operários do setor energético, deixam de ser camponeses. Tudo começou em 2008, quando foi introduzido um novo certificado verde "agrícola" para produção de energia elétrica através de instalações geradoras de biogás a partir de biomassas. "Pequenas" centrais com potencial elétrico não superior a um megawatt. Mas um megawatt é muito e atiçou os empresários: é que foi atribuída uma tarifa de 28 cêntimos por quilowatt/hora aos produtores, ou seja, o triplo do preço que pagam pela energia "normal". E foi assim que o sistema de subsídios energéticos, somado ao da União Europeia para a produção de milho, tornou muito rentável a construção de grandes e dispendiosas instalações (podendo atingir os 4 milhões de euros), com custos que podem ser amortizados em poucos anos. Só na região de Cremona [norte de Itália], das cinco instalações licenciadas em 2007, passou-se hoje para 130. Calcula-se que o milho para produção de biogás ocupe atualmente 25% das terras cultivadas. Em 2013, deverá haver 500 instalações em toda a Lombardia. O meio ambiente e a própria agricultura estão ameaçados. Vejamos algumas constatações. Primeiro: deixa-se de produzir alimentos para produzir energia. Segundo: a monocultura intensiva do milho é prejudicial para o solo, implicando o recurso a grandes quantidades de fertilizantes químicos, e consome uma enorme quantidade de água, retirada de lençóis freáticos cada vez mais pobres e poluídos. Sem rotação de parcelas, a fertilidade fica comprometida e facilita-se a disseminação de parasitas – que são atacados através do uso de pesticidas.

O paradoxo da agricultura industial

Agricultura industrial: meditemos sobre este paradoxo. Em nome dele, o homem pensou poder produzir alimentos sem agricultores e acabou por expulsá-los do campo. Vigora hoje o conceito de campos cultivados sem produzir alimentos: uma agricultura não alimentar. Uma agricultura baseada exclusivamente no lucro e na especulação, que consegue transformar em desgraça tudo o que há de positivo: os alimentos, os terrenos férteis (que são cada vez menos) e até as energias limpas e renováveis. Como a fotovoltaica ou o biogás. Já me referi à forma como a energia fotovoltaica se pode transformar numa máquina de devorar solos e recursos alimentares. Agora é a vez das unidades de biogás, que exploram a biomassa, ou seja, os resíduos da criação de gado, as palhas e outros vegetais. São instalações ideais para resolver o problema do estrume, que é um martírio para os criadores, bem como de outros resíduos biológicos, aumentando os proventos através de uma energia que pode ser usada na agricultura ou vendida. Mas quando o conceito de negócio se intromete na questão, quando investidores que não querem saber minimamente se a agricultura produz alimentos (nem de que maneira) farejam um bom negócio e correm a tomar conta do biogás, aí a sua produção pode tornar-se uma maldição. É o que está a acontecer em muitas zonas do vale do Pó, especialmente onde há grandes concentrações de pecuária intensiva.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Financeiras islâmicas, um novo ator global

Sem os seus apoios agrícolas, a UE e a NAFTA não suportariam a concorrência dos produtos baratos africanos. O comércio externo do continente negro continua a ser mínimo, enquanto os conflitos, a falta de tecnologia e uma dívida monstruosa o remetem para um atraso de várias décadas. A esperança para África vem hoje da Índia e da China, que expatriam empresários em vez de comboios humanitários, e investiram cerca de 80 mil milhões de dólares nos últimos anos. Também o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) se está a tornar um ator de peso. Se os seus membros decidirem investir o dinheiro do petróleo em tecnologias e instituições financeiras, as suas economias deixarão de estar dependentes das matérias-primas e poderão dominar as economias estrangeiras. Quanto à iniciativa de um sistema bancário fundado na lei corânica, promovido pelo CCG, os seus benefícios (nomeadamente a estabilização do sistema financeiro, por meio da proibição da usura) estão ainda por demonstrar. Mas quem sabe se essas medidas não virão a constituir um valor completamente novo à escala mundial.

PIB da NAFTA comparável ao da UE

O sucesso inicial da UE incitou, contudo, as outras regiões do mundo a criar uniões. A maior parte terá poder real apenas dentro de algumas décadas; mas conseguem já impor-se em mercados até aqui reservados à Europa. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, a participação da UE no PIB mundial passará, em 2014, de 30% para 25%. A NAFTA (ALENA) – Acordo de Comércio Livre da América do Norte –, união aduaneira entre os Estados Unidos, o México e o Canadá, dispõe já de um PIB comparável ao da UE, mas que progride mais rapidamente, mesmo em tempos de crise. A sua força reside, não somente numa política aduaneira harmonizada, mas também numa política voltada para investimentos recíprocos nos países-membros. Embora não seja uma criação perfeita (nomeadamente devido à política de imigração dos Estados Unidos, que exclui a livre circulação de pessoas), a NAFTA ambiciona tornar-se numa união económica das Américas. Chegou-se a falar de moeda comum – o "amero”. Até à data, a adesão dos países da América do Sul à NAFTA não foi possível, pela simples razão de que esses países criaram a sua própria – e poderosa – união. Desde 1969, Peru, Bolívia, Equador e Colômbia fundaram a Comunidade Andina, que, em 2008, participou, ao lado do Mercosul (com o Brasil e a Argentina a liderá-la), na criação da União das Nações Sul-Americanas (UNASUR). Esta pretende unificar toda a América Latina, à imagem da União Europeia. A UNASUR vai certamente levar tempo a tornar-se um concorrente sério, já que a América do Sul enfrenta regularmente crises económicas. À excepção do Brasil, que continua a ser um país poderoso, com uma política económica fiável.

Um contrapeso económico

Já em relação à união entre a Bielorrússia, a Rússia e o Cazaquistão, igualmente lançada no passado dia 1 de Janeiro, podemos interrogar-nos sobre qual o seu poder de atracção. Estes países, membros fundadores da Comunidade Económica Euro-Asiática (CEEA), formaram, para já, apenas uma união aduaneira. O objectivo anunciado de criar um "contrapeso” à UE deverá atrair os países da ex-União Soviética. Mas a ausência de uma lógica de acção para o longo prazo, o peso de sistemas fiscais desfavoráveis e uma imensidão de formalidades tornam infrutífera qualquer tentativa de estímulo às trocas mútuas dentro da CEEA. A ausência de concorrência real por parte da CEEA é uma fraca consolação para a União Europeia. A economia da UE parece um atleta que substituiu a sala de musculação por uma dieta no MacDonald's. Há vários anos que a sua balança de trocas comerciais é negativa: compra mais do que vende. O seu PIB gigantesco, de 19 triliões de dólares, contrasta com o declínio do seu crescimento (cerca de 0,5% em 2009, contra 3% em 2006). É o resultado de uma má gestão de prioridades: ainda não tinha terminado a integração económica e já se iniciava a integração política.

Uniões que não fazem a nossa força

Da Ásia às Américas, as associações regionais multiplicam-se, seguindo o modelo da UE. A má notícia é que corremos o risco de, a prazo, nos fazerem sombra na cena internacional. Quase quatro vezes mais habitantes que os 27 países da UE, uma superfície de 14 milhões de quilómetros quadrados e um Produto Interno Bruto de mais de 6 triliões de dólares: eis as características da nova zona de comércio livre formada a 1 de Janeiro pela China e os dez países da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), incluindo a Indonésia, Singapura e a Tailândia. Pequim manifesta assim a determinação de unir os vizinhos em seu redor, em vez de alimentar dissensões. Em 2013, o grupo China-ANSEA poderá alargar-se ao Japão, à Coreia do Sul, à Índia, à Austrália e mesmo à Formosa, que se mantém em conflito com a China. Nos 20 a 30 próximos anos, vai surgir na Ásia a mais poderosa união de todos os tempos, sendo a zona de comércio livre apenas uma etapa preliminar para a união aduaneira e monetária.
LIVRE CIRCULAÇÃO Desistir de Schengen é matar a ideia da Europa Cedendo ao pedido da França e da Itália, Bruxelas admitiu o princípio da reposição temporária dos controlos de fronteira dentro da UE. A decisão deve ser ratificada a 12 de maio. Uma regressão!!!! Imaginemos por um momento que os controlos nas fronteiras internas da União Europeia (UE) eram restaurados. Seria um desastre. Os cidadãos perderiam o tempo em alfândegas, os guardas de fronteira voltariam a ser esmagados pela carga de trabalho e voltariam às greves pela simplificação dos controlos (como fizeram os italianos e franceses no início da década de 1980, contribuindo assim para o estabelecimento do primeiro acordo de Schengen, assinado em 14 de junho de 1985 na cidade homónima, no Luxemburgo). Os orçamentos públicos seriam inflacionados pelos custos de pessoal e infraestruturas fronteiriças e os custos adicionais seriam pagos pelo cidadão, que sofreria mais impostos e compraria os produtos mais caros. Na verdade, isso remeteria para a situação que prevalecia antigamente. Mas haveria um outro preço enorme a pagar pela UE: abdicar de um princípio básico, a liberdade de movimento. O espaço Schengen deu a todos um sentimento de pertença a um território único. Quando nos deslocamos, de comboio ou de automóvel, de um país europeu para outro e apenas vemos um letreiro onde antes havia barreiras e polícia, é nesse momento que nos apercebemos da realidade criada pela UE. O “estrangeiro" fica mais próximo. Se reintroduzirmos controlos de fronteira, é provável que se assista a uma "tribalização" dos povos europeus: os vizinhos tornar-se-iam novamente "estrangeiros", mais estrangeiros do que há 20 anos. E para a União, seria o começo do fim.

ESPAÇO SCHENGEN

França e Alemanha querem poder controlar as fronteiras A França e a Alemanha querem travar a livre circulação na Europa. Uma carta assinada pelos dois ministros do Interior, que solicita "a possibilidade do restabelecimento do controlo das fronteiras internas". O documento poderá ser apresentado aos seus colegas europeus, na próxima reunião de 26 de abril. A suspensão do Tratado de Schengen justifica - se , uma vez que a segurança nas fronteiras externas da UE é insuficiente e que as questões de segurança interna se inserem no âmbito da soberania nacional. O restabelecimento dos controlos tem igualmente por objetivo impedir a migração económica, alerta para os riscos de uma política antieuropeia: De que vale uma abertura sob reserva? Que valor tem a liberdade de circulação, se os governos europeus tiverem permissão para a limitar? Se se retirarem para os respetivos territórios nacionais, os Estados estarão a indicar que estão convencidos de que o pequeno mundo do Estado nacional é muito melhor do que a Europa. Nessas circunstâncias, não é de espantar que os partidos nacionalistas, populistas e de extrema-direita melhorem os seus resultados em toda a Europa. O encerramento temporário das fronteiras internas representa uma publicidade constante para os inimigos da Europa. A classe política europeia encontra - se ainda nos anos 60 do século passado. Assim nada fará ressurgir a Europa.

SCHENGEN UE prepara-se para fechar mais a porta à imigração ilegal

“UE mobiliza-se contra a imigração ilegal”, que revela que a Dinamarca, que ocupa a presidência rotativa da UE, deverá propor, a 26 de abril, durante o Conselho de Ministros da Justiça e do Interior 90 medidas que têm como objetivo lutar contra um fenómeno que “aumentou 35% durante o ano passado”. Entre as medidas a propor estão uma melhor cooperação com os países de origem, por exemplo os países do Magrebe, o reforço do dispositivo Frontex e da vigilância da fronteira entre a Grécia e a Turquia, bem como uma melhor gestão dos fluxos migratórios, das expulsões e da luta contra o tráfico de seres humanos. Não se sabe exatamente quantos imigrantes ilegais há na Dinamarca – temos um receio justificado de que o grande número de imigrantes ilegais que estão atualmente na Grécia e em Itália comecem a dirigir-se para o Norte. Estas medidas justificam-se, também, por razões políticas: Os problemas da imigração ilegal prejudicam o mercado interno e o espírito europeu da livre circulação. Por isso, será uma vitória – também para a presidência dinamarquesa – se o projeto for bem-sucedido. Que erro!Espero sinceramente que exista uma nova visão sobre as questões das migrações populacionais por parte da classe política europeia.

Apetite pela vida

Se os portugueses se sentem em casa em Angola, adaptarem-se à vida no Brasil é ainda mais fácil. Segundo o Observatório da Imigração de Lisboa há, atualmente, cerca de 700 mil emigrantes portugueses a viverem e a trabalharem no Brasil. Em Espanha, que nos últimos dez anos recebeu cerca de cinco milhões de imigrantes da América do Sul, da África e da Ásia, a emigração espanhola para as antigas colónias da América do Sul é um assunto tão recente que há ainda poucos especialistas preparados para o discutir. Mas os números falam por si: segundo alguns consultores espanhóis na Argentina, há cerca de 1200 cidadãos espanhóis que se instalam naquele país todos os meses. “O emigrante típico é um homem entre os 25 e os 35 anos, quase sempre engenheiro, arquiteto ou especialista em tecnologias de informação”, diz uma especialista em mobilidade internacional. “Em resumo, homens jovens que querem novas experiências e desafios.” Nas antigas colónias a barreira da língua não existe e a adaptação cultural é fácil. Especialmente em Buenos Aires. Na viragem do século XIX para o século XX, cerca de dois milhões de espanhóis chegaram à Argentina na terceira classe dos barcos que faziam a ligação entre os dois países, vinham sobretudo da Galiza, a região mais pobre e agrícola do país, e é por isso que, ainda hoje, os espanhóis são conhecidos por gallegos [galegos] na Argentina. Na segunda metade do século XX, primeiro, por causa da ditadura e, depois, por causa da crise económica da década de 1990, foi a vez de os argentinos virem para a Europa. Agora, a tendência voltou a inverter-se. “Invasão europeia”, “novo Eldorado”, “expedição em busca de emoção” – são conceitos familiares e devem soar preocupantes aos ouvidos europeus. “Não, não há razões para se falar de uma nova colonização”. “Estamos, sim, a assistir ao nascimento de uma nova classe de migrantes que nunca se estabelecem permanentemente em lado nenhum. Mais cedo ou mais tarde, voltarão ao país de origem ou irão estabelecer-se noutro país qualquer onde as ofertas de trabalho sejam melhores.” Mas talvez esta inversão de tendência da migração seja um efeito de mudanças mais profundas que estão a ter lugar no mundo. O equilíbrio de poder entre o Ocidente e o resto do mundo ou, se se preferir, entre o Norte e o Sul, está a mudar.

EMIGRAÇÃO - Indignados estão a partir

Portugal já perdeu um em cada dez licenciados. O êxodo começou há alguns anos porque a crise e a grande taxa de desemprego atingiram o país muito antes de chegarem ao resto da Europa. Atualmente, Portugal tem 34% de jovens desempregados e a Espanha 50%. Se não fosse a emigração, estas taxas seriam ainda mais altas. Os que se tornaram obsoletos na Europa – engenheiros, arquitetos, operários da construção civil – são recebidos de braços abertos em África e na América do Sul. O Brasil está a preparar-se a todo o vapor para o Campeonato do Mundo de Futebol de 2014 e para os Jogos Olímpicos de 2016. Estão a ser contratados engenheiros e arquitetos em grande escala, até mesmo para o setor da energia onde há projetos que rondam os 200 mil milhões de dólares. No ano passado, a economia do Brasil cresceu quase 3%. A Argentina cresceu 8% e tem uma taxa de desemprego de 7%, três vezes mais baixa do que a da Espanha. Rica em petróleo, diamantes e outros recursos naturais, Angola é, hoje em dia, um dos países do mundo em mais rápido crescimento. Ali, o crescimento anual do PIB atinge os 15% e há três mil empresas portuguesas a operarem naquele país africano, construindo estradas, pontes, arranha-céus, linhas de caminho-de-ferro, condutas de petróleo. O país, assolado durante trinta anos por uma guerra civil que acabou apenas há uma década, tem falta de especialistas enquanto Portugal tem excesso de mão-de-obra qualificada. Há sobretudo dois grupos que estão a ir-se embora: pessoas mais velhas que querem poupar dinheiro e os jovens, que procuram desenvolver-se profissionalmente.
A imigração é uma bênção No mesmo dia, e estritamente pelas mesmas razões, o Presidente dos EUA, Barack Obama, num longo discurso proferido na cidade de El Paso, junto da fronteira mexicana, defendeu a legalização dos clandestinos presentes nos Estados Unidos, estimados em 11 milhões de pessoas. Não façamos confusão: nos EUA, a imigração é tão controversa como na Europa. Também lá, suscita uma hostilidade violenta. Também lá, constatamos a mesma hipocrisia: os clandestinos são bem-vindos para fazerem os trabalhos mais humildes em troca de salários magros. E a disponibilidade desse tipo de trabalhos é atrativa. Um outro ponto em comum é a migração de sul para norte. Atualmente nos EUA, um em cada seis americanos tem origem latino-americana; este ano, esta categoria ultrapassou o número da população negra e o espanhol é oficialmente a segunda língua do país. Na Europa, a pequena ilha de Lampedusa é, agora, o símbolo da atração exercida pela Europa próspera e democrática sobre as populações da África e da Ásia. Esta migração do sul para norte irá, provavelmente, continuar e, na opinião de Obama e Fischer, trata-se de uma bênção, desde que se mantenha controlada. Mas, existe uma diferença fundamental entre os Estados Unidos e a Europa. Obama pode incluir os seus argumentos em defesa da imigração num grande discurso sobre a história e a força do seu país. Quando se dirigiu à multidão presente em El Paso, disse: “Vejam a Intel, a Google, a Yahoo e o eBay, as grandes empresas americanas que nos colocam na vanguarda do setor das altas tecnologias. Adivinhem quem fundou cada uma destas empresas. Um imigrante”. No mês passado, em Washington, apanhei um táxi cujo motorista era originário da Etiópia. Confessou-me com algum sarcasmo: “O sonho americano é uma ilusão para a maioria das pessoas, mas é o que nos motiva”. A Europa não tem este tipo de histórias estimulantes. No continente agora sobressai uma história negativa aqui ou ali e os argumentos económicos e culturais em prol da imigração já não são o tema principal da atualidade e do debate político.

A diversidade é uma realidade na Europa

Melhor ainda, a chegada de novas culturas pode contribuir para a criatividade de que a Europa necessita, hoje mais do que nunca. Uma mensagem difícil de transmitir. Contraria completamente o discurso populista que transforma a migração em massa numa ameaça para o Ocidente. Joschka Fischer, antigo ministro alemão dos Negócios Estrangeiros e a sua equipa apelam insistentemente junto das potências líderes da Europa, não só na esfera política, mas também no mundo da cultura, dos órgãos de comunicação social e do ensino, para que se insurjam contra os falsos profetas. Consideram que os políticos das grandes correntes, ao submeterem-se ao populismo, tornando-se, desta forma, mais atraentes aos olhos dos cidadãos, não cumprem a sua missão de liderança. O presidente Nicolas Sarkosy, o primeiro-ministro David Cameron e a chanceler alemã Angela Merkel deveriam lembrar-se disso. Nos últimos tempos, estes dirigentes europeus declararam sucessivamente que a sociedade multicultural tinha falhado. Fischer e a sua equipa, que trabalham para o Conselho da Europa, evitam utilizar este termo que, na sua opinião, não se sabe verdadeiramente se representa uma ideologia ou uma realidade. Limitam-se a constatar que, na Europa, a diversidade é uma realidade, que foi uma realidade e que o continente não pode desviar-se desta realidade sem trair o Estado de direito democrático e se quiser continuar a ter um papel num mundo confrontado com a poderosa concorrência da China, do sudoeste asiático, da Índia e do Brasil.
Imigração, inevitável e indispensável Trabalhadores agrícolas norte-africanos sazonais no Sul de França. A imigração é benéfica para a Europa, assegura um grupo de pessoas eminentes, entre as quais Joshka Fischer, Javier Solana e Timothy Garton Ash. Uma mensagem que os dirigentes europeus deveriam escutar, escreve um jornalista holandês. Em pleno debate sobre a imigração na Europa, o grupo de eminentes personalidades sob a liderança de Joschka Fischer apresentou, a 11 de maio, um relatório (“Viver em conjunto”: Conjugar a diversidade e a liberdade na Europa do séc. XXI) cuja principal mensagem é a seguinte: Se não aprender a cultivar a sua diversidade, a Europa deixar-se-á atrasar inevitavelmente no plano demográfico. Por uma simples razão essencial: sem imigração, a população ativa diminuirá em cem milhões de pessoas nos próximos cinquenta anos, enquanto a população total aumenta e envelhece. A Europa deverá, portanto, abrir-se à imigração e à diversidade na sociedade. Na verdade, não podemos pedir aos imigrantes que renunciem à sua religião, cultura ou identidade quando chegam à fronteira. Na opinião deste grupo composto por oito personalidades, entre as quais o antigo secretário-geral da NATO, Javier Solana, a antiga comissária europeia, Emma Bonino e o académico e autor, Timothy Garton Ash, também nada há de mal no facto de os imigrantes trazerem a sua bagagem cultural, desde que respeitem a lei.
O celeiro ou o deserto da Europa? No Ocidente, o estudo agroquímico das terras é a condição “sine qua non” para todos os agricultores que compram fertilizantes para enriquecerem as suas terras. “Na Roménia acontece o mesmo mas, depois da Revolução de 1989, a fragmentação das terras [que se seguiu à coletivização própria dos regimes comunistas] gerou uma situação absurda”. “Um pequeno agricultor paga a análise quinze vezes mais cara do que um grande proprietário de terras”. Assim, “apenas 25% da superfície agrícola tem estudos agroquímicos, ou seja, trata-se dos terrenos comprados pelos grandes proprietários e pelos estrangeiros que já compraram um quarto da superfície cultivável". Consequência: a terra torna-se menos fértil, empobrece. “A este ritmo, a Roménia arrisca-se a tornar-se uma terra deserta e a perder a oportunidade de ser o celeiro da Europa”.
Voltar a ser o celeiro da Europa O mercado da agricultura biológica está em grande crescimento na Europa Ocidental e os europeus ocidentais estão constantemente em rutura de stocks. Importam da Suíça todos os equipamentos necessários para fazer produção biológica em larga escala. "O cereal que produzimos aqui vinha, até agora, do Canadá, Estados Unidos e da China”, explica um alemão especialista em marketing, que se juntou aos restantes famílias e trata da venda das colheitas. “Portanto, é normal tentar produzi-los na Europa. Há perspetivas extraordinárias na Roménia, convém lembrar que este país foi o celeiro da Europa entre as duas guerras mundiais. E prepara-se para voltar a ser."

Agricultura romena cresceu 11%


É impossível atravessar a Roménia sem nos cruzarmos com esses agricultores do Ocidente que retomam a atividade agrícola neste país. Com a sua experiência e investimentos, a agricultura romena cresceu 11%, em 2011, e estamos apenas no começo. Acabaram as terras de pousio e a sensação de abandono no campo.
Os romenos vendem as suas terras por uma média de 2000 euros por hectare, um preço imbatível na UE. Os subsídios europeus são de 180 euros por hectare, metade do montante que se pode obter na Europa Ocidental. Mas a partir de 2014, a nova Política Agrícola Comum (PAC) deve pôr toda a Europa ao mesmo nível.
Para comprar terras, na Roménia, um agricultor ocidental é obrigado a criar uma empresa no país; mas, a partir de 2014, qualquer residente na UE pode adquirir terrenos diretamente. É por isso que os agricultores se estão a despachar a comprar, antes que a especulação faça subir desmedidamente os preços.
Os mais ansiosos são os suíços, que já não conseguem pagar vários milhares de euros por hectare de terra helvética. Em Firiteaz, uma pequena aldeia no Oeste, os Hani, originários do cantão de Lucerna, mudaram-se com toda a família, há uma década: pai, mãe, dois filhos e dois netos. Compraram 800 hectares.
"Na Europa Ocidental, já não há espaço para os jovens". “Aqui, podemos construir algo a partir do zero. Acho que, para nós, jovens, é muito importante criar algo novo."

quinta-feira, 19 de abril de 2012

GLOBALIZAÇÃO Não é preciso ter medo da China O desenvolvimento da China, a segunda potência económica mundial, preocupa os outros grandes atores mundiais, como os Estados Unidos e a Europa. No entanto, o seu crescimento também beneficia as empresas europeias e, como o Japão nos anos 1970-1980, a China não representa uma ameaça. Desde há pouco tempo, a China é oficialmente a segunda potência económica do planeta. No segundo trimestre, o país produziu apenas um pouco mais bens e serviços do que o Japão. Só os Estados Unidos têm ainda muito melhor desempenho, mas Washington não deve ter grandes ilusões. Em 2027, a economia americana, que tem um crescimento médio de 4,25% por ano, terá também de se inclinar perante a economia chinesa, cujo crescimento nos últimos 10 anos raramente se situou abaixo dos 10%. Neste momento, o país produz cerca de 100 vezes mais bens e serviços do que em 1978. O que representa um crescimento médio de um pouco mais de 14% por ano – números que chocam a imaginação. E que até fazem medo a muitos. O maior exportador do mundo A piada ["Deus fez o céu e a terra e o resto é feito na China"] não é completamente destituída de receio. A China é, neste momento, o maior mercado automóvel do mundo. Desde o ano passado que, todos os meses, são ali vendidos mais veículos do que nos Estados Unidos. Atualmente, o país é também o maior exportador do mundo, tendo ultrapassado a Alemanha. Nenhum país compra mais aço e cobre no mercado internacional de matérias-primas e, recentemente, concluiu-se que a China consumia mais petróleo do que qualquer outro país. Em vários domínios, a China caminha implacavelmente para a posição cimeira. E, quando não dispõe da tecnologia necessária, limita-se a comprá-la, como se viu recentemente com a aquisição da Volvo pela empresa chinesa Geely. Mas haverá motivo para ter medo? Não tivemos já medo, nos anos 1980, quando a economia japonesa ganhava inexoravelmente terreno, enquanto, tanto na Europa como na América, o setor automóvel parecia ter sido riscado do mapa? A verdade é que as marcas francesas e alemãs recuperaram, reforçando os seus pontos fortes – design, tecnologia, imagem de marca – e trabalhando para melhorar os seus pontos fracos – a qualidade e a produtividade. O desafio era enorme mas as marcas europeias, em especial, saíram claramente mais fortes da luta. Um país em vias de desenvolvimento Agora, com a China, passa-se a mesma coisa. Este país inunda o mundo de têxteis, móveis, produtos eletrónicos, vestuário de desporto – tudo barato. O que não deixa de ter vantagens. Sem a China, as nossas T-shirts, os nossos sapatos de desporto e as engenhocas da Apple custariam claramente mais dinheiro. A curto e a médio prazo, devemos congratular-nos com o espantoso crescimento chinês. Sem ele, a economia mundial ainda estaria num impasse. A Organização para a cooperação e o desenvolvimento económico (OCDE) considera que a China representará este ano um terço do crescimento mundial. Para já, a produção chinesa é ainda muito complementar da produção ocidental. Os produtos que requerem muito trabalho manual relativamente simples são fabricados na China. No entanto, quando as coisas são um pouco mais complexas, a produção mantém-se no Ocidente. Mas por quanto tempo mais? Num país como a China, há todos os anos mais novos engenheiros diplomados do que nos Estados Unidos e na Europa juntos. Gigante com pés de barro É também aí que reside a grande diferença em relação ao Japão dos anos 1970 e 1980. Muito simplesmente há 10 vezes mais chineses do que japoneses e isso confere ao país um potencial muito maior do que o de qualquer outro. Contudo, não há motivo para preocupações, porque, "de outra forma, a Bélgica nunca poderia ter sobrevivido entre vizinhos poderosos e muito maiores, como a Alemanha e a França". Para já, a China é ainda um gigante com pés de barro. É verdade que, desde ontem, o país é a segunda economia do mundo – mas é também um país gigantesco. No que se refere ao PIB por habitante, verifica-se que a China figura em 127.º lugar da classificação do Banco Mundial, depois de Angola e do Azerbaijão. Por conseguinte, a China continua a ser um país em vias de desenvolvimento. Segundo os economistas, é por isso que a probabilidade de a China poder manter por muito mais tempo o ritmo de crescimento dos últimos 30 anos parece reduzida. No ano passado, algumas greves dispersas resultaram em aumentos de salários significativos. Esses aumentos fazem-se em detrimento da competitividade e, portanto, abrandam o crescimento.
Os chineses no resgate da SAAB “Os chineses disseram sim”, após o anúncio pela Spyker, a empresa holandesa proprietária da SAAB, do acordo de parceria estratégica assinado com o fabricante de automóveis chinês Hawtai. Este, prometeu 150 milhões de euros à construtora de automóveis sueca, cujos problemas financeiros se agravaram nas últimas semanas, a tal ponto que a produção foi interrompida no início do mês de abril. O acordo também prevê parcerias na produção, de intercâmbio tecnológico e de distribuição. “Esta parceria assegura-nos o financiamento a médio prazo e permite-nos entrar no mercado chinês”.
Os milhões de Pequim não têm preço “Não há muito tempo, a visita de um primeiro-ministro chinês seria sinónimo de protestos e debates sobre os direitos do Homem e a repressão no Tibete”. No entanto, “agora, a presença de Wen Jianao na Hungria, no Reino Unido e na Alemanha é vista apenas sob o prima da importância do gigante asiático para a economia europeia. E o convidado tomou mesmo a liberdade de prevenir o seu anfitrião sobre os riscos de querer impor, pelas armas, a paz na Líbia. Previdentes, na véspera da visita, os chineses libertaram alguns dissidentes, entre os quais o artista Ai Weiwei”. “Quando Wen Jiabao visitou o reino Unido pela primeira vez, em 2009, um jovem atirou-lhe um sapato durante uma conferência na Universidade de Cambridge. Hoje, dois anos e uma crise depois, Wen prometeu, em Budapeste, que a China não deixará cair a Europa, visitou uma fábrica de automóveis chineses em Birmingham como se estivesse em casa e a 28 de junho discutirá com Angela Merkel as vicissitudes do euro. Tudo isto recheado com milhares de milhões de euros de contratos.” O facto de Pequim ter comprado títulos de dívida pública dos países em dificuldades da zona euro, como a Espanha, a Irlanda, Portugal e Grécia, tal como a sua sede de tecnologia, desperta a simpatia e o sentido de negócio da Europa. Por isso, “[a Europa] está encantada por poder ajudar [a China]. Mesmo que tenha de tapar o nariz e virar as costas sempre que for necessário. A isto se chama pragmatismo, e o pragmatismo sempre existiu”
Por vezes, a Europa colonizou pedaços da China. Agora, é a China que está a colonizar pedaços da Europa. Informalmente, é claro, e de uma forma muito mais bem-educada do que nós o fizemos. O crescimento da China tanto ilumina como explora o relativo declínio da Europa. Durante a sua visita à Europa, o primeiro-ministro Wen Jiabao vai visitar a Alemanha, o Reino Unido e a Hungria. Porquê a Hungria? Porque, por um lado, tem atualmente a presidência rotativa da UE mas, também, porque a China ali tem grandes investimentos e quer ter ainda mais – como acontece um pouco por todo o lado no sul e no sudeste da Europa. Um estudo recente do Conselho Europeu de Relações Externas (ECFR) estima que 40% do investimento chinês na UE está em Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Europa de Leste. Porquê tanta atenção à periferia? Bom, porque há investimentos prometedores a serem feitos lá e porque estas pequenas e periféricas economias são a porta de entrada mais fácil para um mercado único europeu de 500 milhões de consumidores. O mercado da UE está muito mais aberto aos chineses do que o chinês está aberto aos europeus. Investir muito nestes países também traz recompensas políticas. Não é excesso de cinismo ver Pequim construir uma espécie de lobby da China dentro das estruturas de tomada de decisão, onde o Estado mais pequeno é, pelo menos teoricamente, exatamente igual ao maior. Com a maior reserva de divisas do mundo – cerca de três biliões de euros, atualmente – a China pode comprar metade dos bens públicos gregos a privatizar, de uma só vez. A Grécia deverá ter cuidado com estes presentes chineses? Bem, quem pede não escolhe. Como disse, com uma delicadeza requintada, um geoestratega chinês a um dos autores do relatório do ECFR: “Vocês precisam do nosso dinheiro”. Acreditar no comércio livre Não devemos ser excessivamente paranoicos sobre este assunto. Se acreditamos no comércio livre e nos mercados, temos de praticar o que defendemos. No entanto, não há dúvida de que o poder económico chinês está a crescer na Europa – e a traduzir-se em influência política. Alguns dos vizinhos asiáticos da China sofreram muito mais com o crescimento da China. Enquanto alguns, na Europa, ainda sonham com um mundo pós-moderno de soberania partilhada, em que a UE seria um modelo de governo global, a geopolítica da Ásia está cada vez mais parecida com a da Europa do século XIX – em vez de se assemelhar à do fim do século XX. Incansáveis poderes soberanos lutam pela supremacia, constroem navios e armas, disputam o controlo de territórios (como é o caso de Caxemira) e do mar. Os interesses e as paixões nacionais são um trunfo para a interdependência económica. Para além das dimensões económica e militar do poder emergente da China, há ainda uma terceira dimensão: política, cultural ou de “suave” poder. Yan Xuetong, um dos principais autores chineses sobre relações internacionais, acaba de lançar um fascinante novo livro intitulado “Antigo Pensamento Chinês, Moderno Poder Chinês”. Explora os ensinamentos do pensamento político na era pré-Qin – isto é, anterior a 221 AC – no papel que a China hoje tem no mundo. Yan defende que há duas ideias antagónicas sobre o poder do Estado nesses antigos pensadores chineses: hegemonia ou aquilo a que chamam “autoridade humana”. Com a “autoridade humana”, a sabedoria, a virtude e a bondade dos governantes não só satisfazem o seu próprio povo como atraem outros povos, espalhando assim o seu modo de agir além das suas próprias fronteiras. Apesar de não parecer completamente adverso à mera hegemonia, Yan defende que a China deve aspirar a este género de poder mais ambicioso – “renovando constantemente o sistema político”, entre outras coisas. Apesar das suas palavras serem um pouco elípticas neste aspeto, também sugere que “a China deve fazer do princípio moral da democracia um dos princípios que promove”. Há que dizer que a China de 2011 está muito longe desta “autoridade humana”. Começando pelo grande reformador Deng Xiaoping, pode moralmente reclamar que tirou milhares de pessoas da pobreza. Aos olhos dos países em vias de desenvolvimento, este modelo de capitalismo de Estado é um desafio ideológico ao modelo, agora em crise, do capitalismo liberal de mercado livre. O homem que está a chegar à Europa, Wen Jiabao, tem um outro pensamento, verdadeiramente atraente, notavelmente aberto a debater as críticas estrangeiras e é muito popular, no seu país, entre a muito crítica juventude chinesa. Mas, nos últimos anos, um Partido Comunista nervoso, a caminho da transição de liderança de 2012, voltou-se para uma fórmula que nada tem de humana – do tratamento dado às minorias étnicas do país à prisão do artista Ai Weiwei. A sua reação ao espetro da Primavera Árabe foi mais ansiosa do que a maior parte dos observadores achou possível. Nenhuma das três faces do poder chinês – económica, militar e política – pode ser separada das outras. Tudo está a mudar. É desejável o género de compromisso crítico que tanto David Cameron como Angela Merkel esperam ter com o admirável senhor Wen. A dura verdade, no entanto, é que a influência externa no desenvolvimento destas superpotências emergente será sempre limitada. Por isso, precisamos de por a nossa casa em ordem, vigiá-la de perto, e ter esperança.
INDÚSTRIA E COMÉRCIO SAÚDE Lóbis controlam segurança alimentar europeia 15 novembro 2011 SÜDDEUTSCHE ZEITUNG MUNIQUE Comentar3 Text larger Text smaller Send Print Chuck Keeler A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar decide o que colocamos no nosso prato. Mas as suas ligações com a indústria são muitas – e os consumidores estão a pagar. A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) foi criada para proteger os consumidores. É a sua missão. Mas, no entanto, o pessoal desta agência, que deveria decidir com independência sobre os novos produtos a admitir no mercado, trabalha de perto com a própria industria alimentar. Documentos desta autoridade revelam que o presidente da comissão de Nutrição, Albert Flynn, também trabalha para a empresa americana, Kraft. Até março de 2011, Jiri Ruprich, membro da administração da EFSA, trabalhou para a Danone na República Checa, ao passo que Carlo Agostini, membro da comissão desde 2000, recebeu pagamentos de empresas como a Nestlé, a Danone, a Heinz, a Hipp, a Humana e a Mead Johnson para falar em conferências. Atuar em nome da indústria alimentar Isto é alarmante na medida em que o que é, ou não, colocado no prato dos consumidores europeus é determinado pela autoridade máxima europeia de supervisão alimentar. Com sede em Parma, na Itália, 450 trabalhadores e um orçamento anual de, pelo menos, 73 milhões de euros, a EFSA é o principal responsável pela avaliação dos riscos alimentares na Europa. Os analistas acusam-na agora de não admitir os conflitos de interesse, apesar de vários escândalos. "É simplesmente inaceitável que os representantes de uma indústria, cujos produtos devem ser avaliados, estejam envolvidos precisamente com a agência que supostamente deverá avaliá-los". O maior obstáculo à reforma são os regulamentos da UE existentes. Segundo estes, os membros da EFSA não estão proibidos de atuar em nome da indústria alimentar, desde que admitam os conflitos num documento de declaração de interesses. Que este procedimento está longe de ser uma atuação independente é demonstrado pelo exemplo de Albert Flynn, da Irlanda, que lidera a comissão da EFSA para os Produtos Dietéticos, Nutrição e Alergias. Sob a sua presidência, foi publicada uma decisão particularmente delicada, relacionada com a aprovação de um produto da Kraft Foods Europe, "Biscuits for Breakfast", em 21 de julho de 2011. O facto de o nutricionista ser, ao mesmo tempo, membro do conselho consultivo da Kraft Foods, evidentemente, não perturbou a administração. Praticar aquilo que pregam A comissão de Flynn decidiu aprovar o pedido da Kraft para uma maior proporção de amidos de digestão lenta (ADL) no seu produto. Segundo o fabricante, os ADL desaceleram a subida dos níveis do açúcar no sangue após a ingestão, o que representa uma boa notícia para os diabéticos. Para os fabricantes de alimentos, tudo tem a ver com dinheiro e quota de mercado. O argumento de que os alimentos proporcionam uma saúde melhor é uma ferramenta de marketing perfeita. Quando um fabricante consegue convencer um consumidor acerca de um benefício específico para a saúde contido num produto alimentar, está a impulsionar também a sua quota de mercado. A base para as avaliações da EFSA é o Regulamento para a Nutrição e Saúde (RNS), em vigor desde 2007. Os alimentos com alegações nutricionais só podem ser comercializados se esses argumentos forem comprovados cientificamente. É responsabilidade da ASAE investigar essas alegações. No entanto, existem fortes ligações não só entre a EFSA e os fabricantes, mas também com organizações relacionadas com esta indústria. Flynn, por exemplo, é também membro de grupos de trabalho científicos do grupo de interesses International Life Sciences Institute Europe [Instituto Internacional de Ciências da Vida Europa]. Entre os membros deste grupo, encontram-se empresas como a Monsanto, a Coca-Cola, a Nestlé, a Unilever, a Danone, a Bayer e a Kraft. Outros peritos da EFSA aceitaram cargos no instituto, que foi colocado na lista negra de grupos de interesses pela Organização Mundial de Saúde. Na página de internet da EFSA pode ler-se que as suas atividades são definidas por valores fundamentais como a “independência, a abertura, a transparência e a responsabilidade”.
INDÚSTRIA E COMÉRCIO INDÚSTRIA AUTOMÓVEL Travagem a fundo para os construtores europeus O mercado automóvel europeu ainda não parou de registar números desanimadores: -9,7% para o mês de fevereiro. Os construtores franceses encontram-se na primeira linha deste “desaparafusamento”. A Renault registou uma queda de 27,7% enquanto a Peugeut baixou 20,9% e a Citroën 12% (grupo PSA). Uma situação que deverá sustentar a guerra das rebaixas entre os grandes grupos que frequentemente vendem 20% abaixo do preço de catálogo. Em Itália a situação não é melhor: as vendas da Fiat baixaram cerca de 16,6 % em fevereiro de 2012 em relação a fevereiro de 2011. A 16 de março, o CEO do grupo Sergio Marchionne deverá reencontrar o chefe do governo italiano, Mario Monti, a fim de discutir aquela que será a estratégia da Fiat para os próximos anos.
UNIÃO EUROPEIA Nove países querem adotar a taxa Tobin “Os países da UE querem impor a taxa sobre as transações financeiras". Os ministros das Finanças de nove países – Alemanha, França, Espanha, Áustria, Bélgica, Finlândia, Portugal, Grécia e Itália – pediram numa carta comum à presidência dinamarquesa da UE para “superar todos os obstáculos” à implementação da taxa Tobin até julho de 2012. Segundo os ministros, esta medida será, de facto, "um instrumento crucial para garantir um contributo justo do setor financeiro aos custos da crise financeira". A iniciativa não é inédita. A Comissão Europeia já tinha proposto uma taxa sobre a troca de ações, produtos derivados e outros produtos financeiros no passado mês de setembro, uma proposta imediatamente rejeitada pelo Reino Unido e a Suécia. Desta vez, os ministros afirmam querer procurar “alternativas”, caso não seja elaborada uma solução até meio do ano. O número nove transmite uma mensagem muito clara: podemos fazê-lo sozinhos. [De acordo com os tratados europeus] os Estados podem avançar sozinhos numa cooperação reforçada, caso consigam, no mínimo, nove membros a favor. Daí a carta curta se ler quase como uma forte ameaça para os colegas que hesitam. Uma vez que todos os envolvidos já sabem que a taxa muito provavelmente será introduzida.

Objetivo: 17 milhões de empregos

"UE lança programa para aumentar emprego” como reação ao número recorde de 10% de desempregados na Europa.
Perante as violentas críticas contra a política de austeridade na Europa, a Comissão Europeia agarra-se a um bastião nacional: a política social e o mercado de emprego, noticia o diário de Munique.
O comissário encarregue do dossiê deverá apresentar esta semana um “pacote para o emprego” que terá como objetivo a criação de 17 milhões de novos postos de trabalho na Europa até 2020.
As principais medidas desse plano são a total abertura dos mercados de trabalho, tanto público como privado, a todos os cidadãos europeus – incluindo romenos e búlgaros –, “salários mínimos adaptados” que permitam aos trabalhadores viverem do seu ordenado, reconhecimento dos respetivos diplomas e diminuição dos impostos sobre o trabalho.
A Comissão espera maior potencial de setores como a saúde, os cuidados a pessoas idosas, o desenvolvimento económico sustentável a nível climático e as tecnologias de informação. Resta saber se os Estados permitirão uma tal ingerência nos seus assuntos sociais: o plano será discutido durante a cimeira europeia do próximo mês de junho.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Ambições políticas e económicas

Brasil e China são os dois grandes gigantes, ambos com ambição de potência global. Mas são casos diferentes. Para o Brasil, cujo investimento em Portugal tem décadas, a diferença está no volume e na entrada em força do Estado brasileiro, política mas também empresarialmente.

O Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) apoia ativamente o processo de internacionalização das empresas brasileiras, que olham para Portugal como um mercado-trampolim para a Europa. Por outro lado, o alvo são sobretudo empresas "interessantes" com mercados globais, como é o caso da Cimpor (onde entraram em 2010), da EDP e até da RTP, cuja presença nos PALOP pode ser um atrativo.

Quanto à China, conta a oportunidade de entrar em mais um mercado europeu (e vulnerável), com ligações únicas à África lusófona, aceder a tecnologias e (porque não?) conseguir contornar ou impedir algumas barreiras protecionistas.

"Não se pode esquecer também o objetivo chinês de agilizar as suas empresas no mercado global, num processo de aprendizagem e captação de quadros".

O interesse na EDP é exemplar. Empresa líder nas renováveis (e a China tem um vasto plano de reforço de eficiência energética) com presença forte no mercado americano e brasileiro, a EDP é quase um íman. De uma assentada, alcançam dois fins: ganham competências técnicas e entram em mercados onde o seu peso já começa a suscitar anticorpos.

A Portugal, cujo interesse prioritário é neste momento "encaixar receita", não será porém indiferente quem ganha esta corrida. Mas o que parece estar a desenhar-se, é que, de uma forma ou de outra, brasileiros, chineses e angolanos serão quem vai dar as cartas nas últimas privatizações portuguesas.

Os países que têm dinheiro

A questão, portanto, é: porquê estes países e não outros? A resposta, à partida, é simples: são os que têm dinheiro. É uma questão de preço e, para colossos como o Brasil ou a China, são mesmo vendas a preço de saldo. Angola é um caso à parte, que envolve outro tipo de interesses além dos financeiros, bem como a Alemanha e o Reino Unido.

"O investimento angolano em Portugal tem uma componente política forte, como afirmação daquele país no mundo lusófono de onde no futuro espera tirar dividendos económicos".

Mas esta é também uma forma de legitimar os capitais angolanos, menos escrutinados em Portugal, e de entrar à boleia em outros mercados. O risco, dada a falta de transparência, é o de nunca se saber claramente qual é a identidade de quem investe. Angola investe, mas só dinheiro. Não há know-how associado.

Com a Alemanha (que concorre à EDP) e a quem o primeiro-ministro estendeu o tapete, o processo é outro. Se a este país pode interessar associar-se a Portugal em África, onde tem escassa penetração, para Portugal é um "um negócio" europeu, uma maneira de agarrar os alemães e comprometê-los com o país nesta fase difícil da crise europeia. "É uma visão de curto prazo". "Portugal está refém da Europa e interessa-lhe o mais possível estabelecer ligações fora do continente para recuperar a sua autonomia".

Portugal, um prémio cobiçado pelos países emergentes

Do lado de lá estão gigantes como as estatais Eletrobras e Cemig (Brasil), a China Three Gorges e State Grid (China), ou ainda a Sonangol (Angola). Todas oriundas de países de economias em crescimento acelerado e potências emergentes. Do lado de cá, estão empresas de dimensão modesta à escala mundial, com acionistas descapitalizados, num país em dificuldade extrema, a quem um acordo de assistência financeira impôs um agressivo pacote de privatizações.

Brasil, China, Angola – e também Alemanha e Reino Unido – são os países de origem dos principais candidatos, para já, às privatizações em curso ou à venda de ações ou participações do Estado.

EDP e REN são as operações que estão em cima da mesa, mas para 2012 está prevista a privatização da Galp, TAP, ANA, CP Carga e CTT. Não por acaso, são as empresas que mais se internacionalizaram e cujo valor é realizado em grande parte no exterior que suscitam maior interesse.

Pouco a pouco, Angola faz o seu ninho

Bancos, sociedades petrolíferas, meios de comunicação social, empresas de telecomunicações... aguçado pela crise, o apetite dos angolanos pelas empresas portuguesas parece insaciável. Por um lado, a falta de dinheiro, por outro, a sua abundância podem explicar esta tendência que está longe de abrandar. Mas não só.

Entram devagar, através da compra de pequenas participações no capital de uma empresa. Depois, esperam que a empresa ou algum outro acionista tenha necessidade de dinheiro, algo que não falta aos grandes investidores angolanos.

Aos poucos, vão reforçando as suas participações até conseguirem ascender a uma posição dominante, nomear administradores e assumir o poder.

A banca, símbolo inequívoco de poder e Angola tem posições significativas em vários instituições financeiras portuguesas, não é o único alvo do interesse africano. Outros setores são objeto da atenção de cada vez mais investidores, próximos do poder político angolano, concentrado no Presidente José Eduardo dos Santos, mas com estratégias próprias, menos concertadas do que possa parecer à primeira vista.

Há tomadas de posição na comunicação social, na energia e até no setor agroindustrial. Nos últimos anos, têm passado para mãos angolanas várias quintas, em quase todo o território nacional, desde o Douro até ao Algarve.

"O vinho e o azeite são produtos com uma grande procura e que atingem preços exorbitantes em Luanda. Por essa razão, alguns angolanos decidiram comprar quintas produtoras, em Portugal, e, deste modo, controlar todo o processo de um negócio garantido", diz um empresário de import-export.

O caso mais emblemático da estratégia angolana para Portugal é o BCP. Não foi muito difícil para a Sonangol comprar, em 2008, assim que estoirou a crise, 469 milhões de ações do banco, correspondentes a 9,99% do capital. No final do ano passado, a posição da petrolífera era de 12,44 por cento. Já na condição de maior acionista, tomou as rédeas da instituição bancária e substituiu a estrutura administrativa.

CRISE DO EURO Austeridade provoca emigração na Irlanda e em Portugal

Desde a sua conceção que a UE revelou ser um paraíso para refugiados de guerra, perseguições e pobreza noutras partes do mundo. Mas como a UE enfrenta aquilo a que Angela Merkel chamou a sua pior hora desde a II Guerra Mundial, as circunstâncias parecem estar a mudar. Há uma nova leva de migrantes a sair do continente. Poderá transformar-se em torrente se a crise da dívida continuar a piorar.
Os países mais afetados são a Irlanda, a Grécia e Portugal, todos eles alvo de ajuda financeira da UE/FMI e de orçamentos de austeridade draconiana nos últimos dois anos. “Na Irlanda, onde 14,5% da população está desempregada, a emigração tem vindo a aumentar continuamente desde 2008, altura em que o Lehman Brothers faliu e o mercado imobiliário irlandês atingiu o ponto de rutura. Entre abril de 2010 e abril de 2011, saíram da Irlanda 40.200 cidadãos com passaporte, excedendo os 27.700 do ano anterior, de acordo com dados oficiais.”

Pelo menos 10 mil portugueses partiram para a antiga colónia de Angola e para Moçambique e o Brasil. Segundo dados do governo brasileiro, o número de portugueses no país passou de 276 mil em 2010 para cerca de 330 mil.

Fuga de cérebros tende a aumentar

Num país preparado para um quinto ano de recessão, com o desemprego a atingir um recorde de 18% – e um índice sem precedentes de 42,5% de jovens sem emprego – a fuga de cérebros terá mesmo de aumentar. A economia australiana, em contrapartida, prevê um crescimento de 4% em 2012. "As pessoas dizem muitas vezes que não querem que os filhos cresçam lá".

Tessie Spilioti está no grupo dos que já se instalaram na Austrália. "Não há sítio no mundo melhor do que a Grécia e todos os dias tenho saudades do meu país e dos meus amigos", disse Spilioti, que passou a infância na Austrália, antes de se mudar para Atenas, há 27 anos. "Mas a Austrália é um país positivo. É uma terra farta, onde se sente a abundância e as oportunidades", afirmou com entusiasmo. "E isso é o que falta completamente na Grécia. As pessoas estão em pânico, o ambiente é mau, o clima psicológico é mau e as pessoas têm a sensação de viver num cerco. Nunca pensei que iria emigrar, mas com o stress da sobrevivência diária percebi que iria ser muito difícil evoluir."

Prevê-se que duas gerações se percam como resultado da grande crise económica grega. A nova diáspora, segundo os especialistas, vai quase de certeza abranger gente mais nova, com boa formação e multilingue, mas incapaz de sobreviver mais tempo num país com uma economia em queda livre, em parte devido às fortes medidas de austeridade que a Grécia foi forçada a aplicar em troca de ajuda.

Um estudo recente da Universidade de Thessaloniki revelou que a grande maioria dos gregos opta agora por trabalhar no estrangeiro e que a geração mais nova vai para países tão diversos como Rússia, China e Irão. Os inquiridos, na sua maior parte, nem sequer tentaram arranjar emprego no seu país porque não veem futuro numa economia que terá de aguentar rigorosos apertos de cinto pelo menos durante mais uma década.

MIGRAÇÕES E DEMOGRAFIA -EMIGRAÇÃO

O êxodo grego para a Austrália

Para os jovens europeus dos países em crise, a Austrália em crescimento passou a ser a nova terra das oportunidades. É o que acontece especialmente à nova geração de gregos licenciados que se junta à enorme comunidade de expatriados do seu país espalhada pelo mundo.

Há uns meses que uma onda de homens e mulheres maioritariamente jovens, acabados de desembarcar do avião que os trouxe da Grécia, bate à porta de um enorme edifício da Lonsdale Street no centro da cidade de Melbourne. Este edifício, da década de 1940, alberga a maior comunidade grega residente na Austrália.

Num cenário que faz lembrar a grande corrida ao ouro na viragem do século XX, esta gente viaja até à outra ponta do mundo à procura de uma vida melhor. Ao contrário dos antigos compatriotas, a notoriedade destes novos emigrantes é visível atendendo aos seus diplomas, ganhos à custa de muito esforço em áreas bastante difíceis. "Andaram todos na universidade, engenheiros, arquitetos, mecânicos, professores, bancários, dispostos a fazer qualquer trabalho". "É um desespero. Estamos todos aterrorizados. Geralmente, chegam apenas com um saco. As histórias que contam são desoladoras e cada avião traz mais".

O êxodo é apenas uma parte do drama humano na Grécia, onde a crise da dívida europeia começou. Desde junho que os responsáveis pela comunidade de Melbourne estão a ser inundados com milhares de cartas, emails e telefonemas de cidadãos gregos desperados para emigrar para um país que, resguardado da trubulência dos mercados globais, é visto agora como uma terra de incomparáveis oportunidades.

Só este ano, foram 2500 os cidadãos gregos que foram viver para a Austrália, embora as autoridades de Atenas afirmem a existência de mais 40 mil que também "expressaram interesse" em iniciar o árduo processo de mudança para aquele país. Uma "skills expo", com 800 lugares, realizada em outubro pelo governo australiano na capital grega, atraiu uns 13 mil candidatos.

A VIDA A 27 - EMPREGO

Alemanha, terra de imigração de trabalho.
“Bem-vindo à Alemanha!” “Pela primeira vez desde há décadas, o número de imigrantes na Alemanha ultrapassa o dos emigrantes” A causa é o aumento do desemprego e muitos países da UE, enquanto a Alemanha está a viver um boom no emprego, atraindo os trabalhadores estrangeiros qualificados. Durante muito tempo, a economia alemã lamentou a ausência de uma “cultura de boas vindas” que, “no mínimo, desse aos imigrantes a impressão de serem ‘simplesmente’suportados na Alemanha. Agora, é a crise do euro que está a realizar esta exigência dos economistas” congratula-se este diário de negócios.

No primeiro semestre de 2011, segundo a agência federal de estatística, o número de imigrantes espanhóis aumentou 49% em comparação com o ano anterior, e o dos gregos cresceu 84%. Ao todo, chegaram à Alemanha, no primeiro semestre deste ano, 435 mil pessoas, o que representa um aumento de 20% em relação aos números do ano passado. No mesmo período, foram 30 mil os alemães que emigraram. “O tempo em que a Alemanha era um país de emigração parece ter acabado”.

Desemprego

Em fevereiro, o desemprego na UE atingiu a taxa mais elevada dos últimos quinze anos. Segundo o Eurostat, 10,2% dos europeus estão sem emprego, ou seja, 24,55 milhões de pessoas. Na zona euro a taxa é de 10,8%, o que significa 17,13 milhões de pessoas.
Com 5,7% (só a Holanda, a Áustria e o Luxemburgo têm menos desemprego) a Alemanha faz figura de eldorado, e “Berlim faz publicidade junto dos europeus” para atrair mão-de-obra.
Em algumas regiões e setores profissionais, a Alemanha está numa situação de pleno emprego e procura aumentar a mão-de-obra estrangeira que fala alemão.  Especialistas em imigração afirmam, no entanto, que as expectativas não devem ser muito elevadas: “A Alemanha não é a primeira escolha para os trabalhadores qualificados, tem que concorrer com outros Estados”. Refere-se sobretudo aos licenciados que falam inglês que procuram emprego sobretudo no Reino Unido. Por isso, Berlim não espera um grande assalto de desempregados gregos e espanhóis.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A Zona Euro

A Zona Euro é composta pelos seguintes países da União Europeia, que adoptaram a moeda comum: Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malta, Países Baixos e Portugal, prevendo-se que com a expansão da União Europeia alguns dos aderentes mais recentes possam nos próximos anos partilhar também o euro como moeda oficial.

O governo dinamarquês anunciou no seu programa de 22 de Novembro de 2007 a sua intenção de organizar um referendo sobre a entrada do país na Zona Euro.

Alguns países pequenos que não praticam políticas de moeda própria usam também o euro: Andorra, Mónaco, São Marino e Vaticano. Montenegro também utiliza o euro como sua moeda oficial. Também no Kosovo, o euro passou a circular mesmo antes da sua declaração de independência.

Outros países tinham a sua moeda fixada a uma antiga moeda europeia. Este era o caso do escudo cabo-verdiano, que estava ligado ao escudo português, e do franco CFA, que era indexado ao franco francês, em circulação em diversos países africanos, e o Franco CFP, dos territórios franceses no Pacífico.

O banco que controla as emissões do euro e executa a política cambial da União Europeia é o Banco Central Europeu, com sede em Frankfurt, am Main, na Alemanha.

Recessão portuguesa persiste mas na Zona Euro deve ser passageira

Indicadores avançados da OCDE apontam para prolongamento das condições recessivas em Portugal pelo menos até ao Verão. Mas trazem boas notícias para a evolução do contexto externo e, logo, para as exportações que têm sido o único motor da economia portuguesa.
A economia portuguesa vai manter-se em recessão pelo menos até ao Verão, mas a retracção antecipada para a Zona Euro tenderá a ser passageira, sugerem os indicadores avançados, hoje actualizados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

No caso de Portugal, o indicador, que tenta antecipar pontos de viragem no ciclo económico, continua a sinalizar uma trajetória francamente descendente da actividade económica, embora a curva comece a não ser tão inclinada, o que sugere uma progressiva estabilização das condições recessivas.

O indicador referente a Dezembro do ano passado desceu para 96,48 (a média de longo prazo é fixada em 100), o que significa uma descida mensal de 0,51% (0,62% no mês anterior) e uma queda acentuada de 6,47% por comparação com Dezembro de 2010 (a queda homóloga de Novembro havia sido de 5,74%). A previsão oficial do Governo e da troika aponta para que a economia portuguesa recue 3% neste ano, mas esse número data do início do Outono e deverá revelar-se mais sombrio na realidade.

Já para o conjunto dos países membros da OCDE, em particular para os Estados Unidos e para o Japão, os indicadores avançados “mostram uma mudança positiva na dinâmica de crescimento”. No caso da Zona Euro, estes continuam a sinalizar um crescimento inferior ao da média de longo prazo, mas também aqui pode haver boas notícias, com a OCDE a detetar “a emergência de sinais de moderação da recente deterioração” das perspectivas económicas para os próximos seis meses. As últimas previsões do FMI antecipavam uma recessão na Zona Euro de 0,5% no conjunto de 2012.

Em vias de estabilizar a desaceleração do crescimento estará o Brasil. Já para a China, os indicadores da OCDE apontam agora de forma mais pronunciada para um abrandamento do crescimento da actividade económica.

Euro ganha terreno após aprovação de plano de austeridade grego

A moeda única da Zona Euro está a valorizar face ao dólar e ao iene, após o governo grego ter ontem aprovado o plano de austeridade no parlamento, assegurando assim o segundo pacote de ajuda ao país.

O euro está a ganhar terreno face a 10 das 16 maiores contrapartes, com o iene a ceder 0,4% face à moeda europeia, para os 102,87 por euro. Face ao dólar, a divisa europeia aprecia 0,45% para os 1,3257 dólares.

A determinar esta evolução positiva do euro estão os recentes desenvolvimentos na Grécia, onde ontem o Executivo de Lucas Papademos conseguiu assegurar a aprovação de um novo pacote de medidas de austeridade no parlamento do país, um programa que vai permitir o pagamento do segundo pacote de ajuda à Grécia e evitar a bancarrota.

Moody's reduz nota das dívidas de Espanha, Itália e Portugal

A agência de classificação de risco Moody's reduziu nesta segunda-feira a nota da dívida soberana de Espanha, Itália e Portugal e informou que considera a possibilidade de rebaixar a nota máxima 'AAA' de França, Grã-Bretanha e Áustria devido à crise do euro.

Assim, a Moody's reduziu em um grau a classificação de solvência da Itália, para A3, de Portugal, para Ba3, e da Espanha em dois níveis, para A3.

A agência também reduziu em um grau as notas de Eslovênia (para A2) e Eslováquia (para A2) e de Malta (para A3), argumentando que esses nove países são mais suscetíveis aos crescentes riscos financeiros e macroeconômicos derivados da crise da Zona Euro.

A Moody's informou que considera a possibilidade de reduzir ainda mais, no médio prazo, as notas dos seis países que acaba de penalizar.

O anúncio da Moody's acontece exatamente um mês depois de a Standard & Poor's privar a França e a Áustria de suas classificações "AAA" e um dia depois de o Parlamento da Grécia aprovar novas medidas de austeridade, apesar as manifestações contrárias no país.

Mas a Moody's disse que a possibilidade de enfraquecimento económico na Europa "ameaça a implementação de programas nacionais de austeridade e as reformas estruturais que são necessárias para promover a competitividade".

A agência questionou a implementação de reformas institucionais na Zona Euro no lugar de utilizar recursos adequados para combater a crise e que esse conjunto de fatores negativos manterá uma "frágil" confiança no mercado europeu.

"Em diferentes graus, esses fatores estão a limitar a solvência soberana de toda a Europa e exacerbam a suscetibilidade de riscos financeiros e macroeconómicos", segundo a agência.

No entanto, a Moody's assegurou que "o compromisso das autoridades europeias para preservar a união monetária e para instaurar todas as reformas necessárias para restaurar a confiança nos mercados é um fator importante que limitou a envergadura dos ajustes das classificações" desta segunda-feira.
Angela Merkel encontrou-se com o seu professor, em Pequim. “A República Popular da China manda passear a chanceler”, em reação à viagem de três dias de Merkel no Império do Meio, onde esperava, entre outras coisas, pedir a ajuda chinesa para a salvação do euro. É certo que Pequim quer participar na solução da crise mas não conta perder o seu dinheiro.

“Nada de promessas de investimentos diretos aos europeus, declarou friamente o primeiro-ministro Wen Jiabao”. “Os países endividados têm, primeiro, que ‘tomar decisões dolorosas e fazerem os seus deveres’”. Ou seja:

Reduzir as dívidas, alargar os mecanismos de controlo e tomar posições claras, francas e confiáveis para com o resto do mundo. O dinheiro que os chineses querem investir na Europa não tem como objetivo ser uma ajuda ao desenvolvimento mas sim um bom investimento. No melhor dos casos, no plano económico e político.

Do ponto de vista alemão, a China podia desempenhar um papel-chave com os seus 3,2 mil milhões de dólares de reservas de divisas. As contrapartidas exigidas em troca, como por exemplo:


O reconhecimento, pela UE, do estatuto de economia de mercado para a China, o que tornaria mais difícil às empresas europeias tomarem medidas contra os crimes contra a concorrência e o dumping sobre os preços.

Resultado: a chanceler, que pode querer ser considerada pelos chineses como “a renovadora chefe do euro”, não teve oportunidade de promover as relações económicas bilaterais, como estava previsto, e não tem outro remédio senão esperar pelos encontros que ainda terá no decorrer do ano para arrancar as promessas ao primeiro-ministro chinês.