terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Limites ao défice e regime de sanções

O "pacto orçamental" aprovado segunda-feira, em Bruxelas, por 25 líderes europeus vai reforçar a disciplina das finanças públicas dos Estados-membros, designadamente através da introdução legal de limites ao défice e à dívida e de um regime de sanções.

A chamada "regra de ouro", que os países devem inscrever "preferencialmente" na Constituição, embora o texto final agora aprovado admita a possibilidade de ficar consagrada de uma outra forma desde que com valor vinculativo e permanente, obriga cada Estado-membro subscritor do pacto a não ultrapassar um défice estrutural de 0,5% e a ter uma dívida pública sempre abaixo dos 60 por cento do produto interno bruto (PIB).

Quem não cumprir estas disposições poderá sofrer sanções pecuniárias, até 0,1% do PIB, impostas pelo Tribunal Europeu de Justiça, e cada Estado-membro compromete-se a colocar em prática internamente um "mecanismo de correção", a ser ativado automaticamente, em caso de desvio dos objetivos, com a obrigação de tomar medidas num determinado prazo.
O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, saudou esta noite a assinatura do pacto orçamental por 25 países europeus, considerando que isso "vai reforçar a confiança na zona euro".

O acordo de reforço da disciplina orçamental é "um primeiro passo para uma união orçamental", congratulou-se Draghi.

À exceção do Reino Unido e da República Checa, os países europeus aceitaram inscrever nas suas legislações a chamada "regra de ouro" para garantir o equilíbrio orçamental, bem como sanções quase automáticas em caso de derrapagens dos défices públicos, como queria a Alemanha em contrapartida da sua solidariedade financeira.

Este pacto "vai reforçar, sem qualquer dúvida, a confiança na Zona Euro", acrescentou Mario Draghi, cuja opinião interessa, já que vários países europeus esperam que o pacto encoraje a ajuda do BCE aos países mais frágeis da União Monetária.

"Também saudamos a entrada em vigor" em junho do mecanismo europeu de estabilidade, o fundo de socorro permanente da zona euro, disse ainda o líder do BCE.

O flagelo do desemprego

A taxa de desemprego em Portugal subiu para 13,6% em dezembro de 2011, mais quatro décimas que no mês anterior, e é a terceira pior da zona euro no referido período, divulgou hoje o Eurostat.

Do total dos países dos quais o Eurostat disponibiliza números para dezembro, a taxa de desemprego em Portugal situa-se apenas abaixo da registada em Espanha (22,9%) e Irlanda (14,5%). No entanto, é de esperar que na Grécia o número de desempregados seja também superior, já que os dados de outubro - os mais recentes para o país divulgados pelo Eurostat - apontam para valores perto dos 20%.

No conjunto da União Europeia (UE) e na zona euro os valores registados em dezembro estabilizaram quando comparados com novembro: 9,9% nos 27 e 10,4 entre os países que partilham a moeda única, informou hoje o gabinete de estatísticas da UE.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

As taxas Euribor

As taxas Euribor continuavam hoje a descer em todos os prazos, com maior destaque para os três meses onde se situavam em 1,955 por cento, segundo o 'fixing' diário da Federação Europeia de Bancos.

No prazo dos três meses, o principal indexante dos empréstimos às empresas, recuou 0,009 pontos percentuais para 1,955 por cento, face a quarta-feira.

Já a seis meses, a taxa usada como principal referencial para o crédito à habitação em Portugal, caiu 0,006 pontos percentuais para 1,480 por cento.

A confiança dos consumidores

A confiança dos consumidores da União Europeia (UE) na economia subiu em janeiro, embora permaneça em valores negativos, de -21 pontos, divulgou hoje o Eurostat.

De acordo com o gabinete de estatísticas da UE, tal valor demonstra uma melhoria da confiança face a dezembro: aí, a confiança dos consumidores dos 27 Estados-membros situava-se nos -22,1 pontos.

No que refere à zona euro, o indicador permaneceu estável em janeiro, subindo 0,3 décimas, de -21,3 pontos para -21 pontos.

Os nichos 'gourmet'

O setor agroalimentar, particularmente os nichos 'gourmet', devem ser uma das grandes apostas na internacionalização da economia portuguesa, com destaque para o azeite, vinhos, conservas e derivados do tomate.

A nível mundial "o setor agroalimentar 'gourmet' tenderá a crescer, em média, 2,3 por cento ao ano nos próximos cinco anos, já que estudos internacionais apontam para que seja relativamente imune à crise financeira e económica internacional.

Este nicho, constituído por consumidores de rendimentos mais elevados, não tem reduzido as suas compras; pelo contrário, regista-se um aumento considerável da procura de bens 'topo de gama', desde o azeite ao vinho, conservas e preparados de sofisticação elevada, pastelaria de requinte.
O Fundo Monetário Internacional defendeu hoje a criação de um "guardião macro prudencial" que assegure a nível europeu a desalavancagem ordenada dos bancos, de forma a não comprometer o crédito à economia e criar uma contração no crédito.

Na sua atualização de janeiro do Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global hoje divulgada, o FMI diz que "é necessário um 'guardião macro prudencial" que assegure que os planos de desalavancagem são consistentes com a manutenção do fluxo de crédito para suportar a atividade económica e que evite uma espiral de queda nos preços dos ativos".

O FMI diz mesmo que dentro da União Europeia esse papel poderia recair sob a liderança da Autoridade Europeia de Bancos (EBA, sigla em inglês) em coordenação com a European Systemic Risk Board, os bancos centrais nacionais e os próprios bancos.

Promover o crescimento em vez de austeridade

Os países da zona euro com mais "folga orçamental" devem "reconsiderar" as políticas de austeridade e promover políticas de crescimento, defende o Fundo Monetário Internacional (FMI) em documentos hoje divulgados.

"Tendo em conta o grande ajustamento já em curso este ano, os governos devem evitar mais políticas de austeridade", lê-se numa atualização do "Fiscal Monitor" (publicação sobre políticas orçamentais) do Fundo.

Noutro documento (uma atualização ao "Outlook") publicado também hoje, o FMI argumenta que "o desafio mais imediato" que se põe à economia global é "restaurar a confiança e acabar com a crise na zona euro através da promoção do crescimento" económico.

A redução no défice orçamental

A redução no défice orçamental conseguida por Portugal em 2011 foi "significativa" mas ficou aquém das expetitativas, defende o Fundo Monetário Internacional (FMI) em documentos hoje divulgados.

"Em Portugal, a meta orçamental foi atingida através de uma transferência parcial dos fundos de pensões da banca, o que implica que o ajustamento subjacente em 2011 tenha sido inferior ao esperado", lê-se numa atualização do "Fiscal Monitor" (publicação sobre políticas orçamentais) do Fundo.

Segundo números do Governo, o défice orçamental em 2011 cifrou-se nos 4 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), abaixo dos 5,9 por cento inicialmente previstos. No entanto, sem a transferência dos fundos de pensões, o défice teria ficado nos 7,5 por cento do PIB.

Economia global abranda

A economia global vai abrandar mais do que o previsto, sobretudo devido à crise financeira na Europa.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) mundial vá aumentar 3,3 por cento este ano e 3,9 por cento no próximo. Um desempenho positivo, mas abaixo do registado em 2011 (3,8 por cento) ou em 2010 (5,2 por cento).

A desaceleração é mais pronunciada nas economias avançadas, que em média vão crescer 1,2 por cento este ano e 1,9 por cento no próximo. No entanto, as economias emergentes também vão abrandar - depois de uma taxa de 6,2 por cento em 2011, deverão crescer 5,4 por cento este ano e 5,9 por cento no próximo.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Por vezes, a Europa colonizou pedaços da China. Agora, é a China que está a colonizar pedaços da Europa. Informalmente, é claro, e de uma forma muito mais bem-educada do que nós o fizemos. O crescimento da China tanto ilumina como explora o relativo declínio da Europa.

Durante a sua visita à Europa, o primeiro-ministro Wen Jiabao vai visitar a Alemanha, o Reino Unido e a Hungria. Porquê a Hungria? Porque, por um lado, tem atualmente a presidência rotativa da UE mas, também, porque a China ali tem grandes investimentos e quer ter ainda mais – como acontece um pouco por todo o lado no sul e no sudeste da Europa.

Um estudo recente do Conselho Europeu de Relações Externas (ECFR) estima que 40% do investimento chinês na UE está em Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Europa de Leste.

Porquê tanta atenção à periferia? Bom, porque há investimentos prometedores a serem feitos lá e porque estas pequenas e periféricas economias são a porta de entrada mais fácil para um mercado único europeu de 500 milhões de consumidores. O mercado da UE está muito mais aberto aos chineses do que o chinês está aberto aos europeus.

Investir muito nestes países também traz recompensas políticas. Não é excesso de cinismo ver Pequim construir uma espécie de lobby da China dentro das estruturas de tomada de decisão, onde o Estado mais pequeno é, pelo menos teoricamente, exatamente igual ao maior.

Com a maior reserva de divisas do mundo – cerca de três biliões de euros, atualmente – a China pode comprar metade dos bens públicos gregos a privatizar, de uma só vez. A Grécia deverá ter cuidado com estes presentes chineses? Bem, quem pede não escolhe. Como disse, com uma delicadeza requintada, um geoestratega chinês a um dos autores do relatório do ECFR: “Vocês precisam do nosso dinheiro”.

Europa pode aprender com os nossos erros e correções

Quando afirmam depreciativamente que a Europa está a ficar parecida com a América Latina, os críticos que fazem tal observação têm em mente a América Latina do passado, a que sofreu crises económicas em série. Mas há outra maneira de encarar a questão: o melhor que poderia acontecer à Europa era ficar parecida com a América Latina de hoje.

A que soube navegar por entre a crise mundial sem perder o rumo, que gere as suas finanças públicas com prudência e sabe regulamentar a banca. Nos últimos anos, os melhores países da região – o Brasil, o Chile e a Colômbia, entre outros – têm crescido, criado emprego e ampliado a sua classe média.

Além disso, e para surpresa de muitos, "a América Latina tem hoje o sistema financeiro mais sólido do mundo", segundo afirma José Juan Ruiz, economista do Banco Santander e atento observador da situação financeira mundial.

Não se trata de a Europa estar a caminhar para a pobreza, a desigualdade, a corrupção e a violência tão comuns na América Latina. Trata-se de a Europa aprender com os erros e as correções de uma região que sabe mais do qualquer outra sobre crises económicas, colapsos bancários, choques externos e efeitos de gastos descontrolados, forte endividamento e promessas vãs do populismo.

Oxalá a Europa consiga gerir a sua crise, como a nova América Latina aprendeu a fazê-lo. Neste sentido, falar de latino-americanização da Europa é um bom desejo.

Prometer a um país austeridade quase perpétua não funciona

Além disso – e isto é muito importante – inclui cortes na despesa pública e austeridade mas, também, uma distribuição justa dos custos do ajustamento económico entre os diferentes grupos sociais, o reforço das redes de segurança social para os mais vulneráveis, reformas estruturais capazes de gerar mais emprego e, sobretudo, esperança num futuro melhor.

Lamentavelmente, a tentação de evitar um pacote amplo e coerente é tão forte como o efeito salutar deste. O erro mais recorrente é tentar resolver a crise com medidas parciais e fragmentadas e pensar que é possível adiar indefinidamente as decisões mais impopulares. É isso que tem estado a passar-se na Europa.

Basta ver o que está a acontecer em Itália ou na Grécia para reconhecermos a experiência da Argentina, por exemplo. Contudo, mais cedo ou mais tarde, a realidade impõe-se e as medidas parciais fracassam. Isto abre caminho para a realização de esforços simultâneos nas áreas afetadas da economia: dívida excessiva e despesa pública descontrolada, bancos pouco capitalizados e mal regulamentados, políticas orçamentais e monetárias descoordenadas, baixa competitividade internacional e leis que inibem o investimento e a criação de emprego.

Atacar um ou vários destes males, sem tocar nos restantes não funciona. E prometer a um país austeridade quase perpétua para pagar as dívidas ao estrangeiro também não.
A crise da dívida deixa a zona euro numa situação idêntica à que a América Latina conheceu na década de 1990. Para uma solução mais rápida, os europeus deviam tirar ilações dos erros cometidos nesta época.


Entre os anos 1980 e 2003, a América Latina sofreu 38 crises económicas. A região, as suas autoridades, os seus políticos e até a sua opinião pública aprenderam com a experiência desses dolorosos episódios."A lição mais importante talvez tenha sido aquilo a que se poderia chamar "o poder do pacote". O pacote é um conjunto de medidas económicas, completo, coerente, credível e politicamente sustentável.

Experimentar e inovar

No que se refere a experimentar e inovar, é ainda demasiado cedo para se riscar a Europa. Nenhum outro continente viveu uma transformação transnacional tão radical como a decorrente da introdução do euro e do alargamento da UE à Europa de Leste, na última década.
É absolutamente natural que essa transformação tenha falhas e seja posta à prova. Portanto, continua a ser um feito o facto de o euro ter sido introduzido de acordo com o plano estabelecido e o facto de, apesar do complexo problema da dívida, cuja amplitude poucos tinham previsto, a zona euro não se ter desintegrado até agora. Isso demonstra que a Europa detém um poder político muito mais forte do que aquele que, em geral, se lhe atribui.

GEOPOLÍTICA - A UE E O MUNDO

O declínio da Europa não é para já

O poder económico não é o único critério para definir o poder mundial. O que importa é a maneira como os sistemas políticos reagem às novas crises. E, segundo esta perspetiva, a UE ainda tem hipóteses.

O ano de 2011 tem tudo para ficar na História como um ano desastroso. Entre outras coisas, porque os Estados Unidos e a Europa estão risco de sucumbir sob o peso das respetivas dívidas. Neste momento, têm a reputação de maus alunos da economia mundial e recebem lições dos capitalistas de Estado da China, de diplomatas de Singapura e de economistas da Índia. Por conseguinte, não é de espantar que muitos observadores sensíveis ao sentimento dominante anunciem o fim de quatro séculos de domínio ocidental e vejam o Sol erguer-se no Extremo Oriente.

Aliás, o comportamento do Presidente norte-americano vai nesse sentido: considera que os Estados Unidos devem pôr em ordem a economia nacional, antes de se lançarem em novas intervenções no estrangeiro. Quando até o homem mais poderoso do mundo considera que Washington colocou a fasquia demasiado alta, temos tendência a concordar com o historiador Paul Kennedy (que escreveu sobre o assunto na sua obra Ascensão e Queda das Grandes Potências, de 1987), quando este diz que a América sofre de "sobrextensão imperial".

CRISE DA DÍVIDA

Perante a Standard & Poor’s, “o rei vai nu”.
A degradação da nota de nove países da zona euro pela agência Standard & Poor’s apenas confirmou o que os mercados e dirigentes já sabiam há muito: as dificuldades da zona euro devem-se sobretudo às divergências entre os países-membros.

EURO

PACTO DE ESTABILIDADE
“Regra de ouro” deixou de brilhar

“A Regra de ouro’ deixa de ser obrigatória nas constituições nacionais”, a aplicação do princípio do equilíbrio orçamental na constituição de cada Estado-membro está prestes a ser abandonada, “embora a Alemanha ainda não esteja completamente convencida".

Apesar das intenções de Berlim, são muitos os países – por exemplo, Irlanda, Dinamarca, França – que invocaram dificuldades jurídicas ou políticas que impedem a alteração da sua constituição, pondo assim em causa a ratificação do novo pacto de estabilidade da UE. A mais recente versão do tratado, sujeita a apreciação dos funcionários nacionais em Bruxelas, a 12 de janeiro, irá garantir a cada país o direito de decidir sobre o procedimento a adotar.

As novas regras entram em vigor a 1 de janeiro de 2013. Os países da zona euro vão ficar obrigados a eliminar o défice dos seus orçamentos atuais e a garantir o equilíbrio orçamental.

Encontramo - nos "mais perto de um consenso europeu", visto que o novo tratado deverá ser aprovado até ao final do mês por todos os Estados-membros da UE, com exceção do Reino Unido:

As coisas não vão ser feitas exatamente como os alemães queriam. Uma cedência... feita em nome do objetivo principal, que é ter o novo acordo orçamental assinado o mais depressa possível. O calendário do plano alemão para combater a crise do euro exige rapidez e as novas regras ficarão inscritas em legislação permanente dos Estados-membros.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Todos os olhos estarão postos na Alemanha

Ainda assim, o futuro da Europa não se decidirá na periferia greco-britânica mas, como é lógico, no seu núcleo. O Governo alemão continua obstinadamente a fazer uma leitura da crise que torna impossível a sua solução, uma vez que, como ficou demonstrado, a crise exige uma alteração das normas que regem a zona euro e, muito especialmente, um novo papel do BCE e a emissão de euro obrigações.

Em Berlim, a chanceler Merkel agarrou-se conscientemente não a um mas a dois mastros: o de uma opinião pública muito reticente à união monetária e ao do Tribunal Constitucional, hostil ao projeto de integração europeia. Mas a causa das suas ações não é essa opinião pública, por trás da qual Merkel se escuda, e, sim, algo que ela própria e o seu partido estimularam, infundindo nos alemães, contra todas as provas empíricas, a convicção de que euro não só foi um mau negócio para a Alemanha mas também, como parece acreditar o seu Tribunal Constitucional, é uma ameaça para a democracia alemã.

Numa situação como esta, uma vez que o BCE mudou de rumo e decidiu salvar o sistema financeiro, todos os olhos estarão postos na Alemanha, tentando discernir em que medida Berlim continuará a liderar a Europa com base nas suas dúvidas, reticências e medos ou a partir de uma visão construtiva e a longo prazo do continente. Esqueçamos, portanto, o calendário maia: vai ser em Berlim que Cassandra se vingará ou será desmentida.

Entre a espada e a parede

Do ponto de vista institucional, o edifício europeu também sofreu duramente, uma vez que a Alemanha e a França optaram por um intergovernamentalismo sem contemplações nem complexos e viraram as costas às instituições europeias (em especial à Comissão e ao Parlamento) e ao chamado "método comunitário", que, tradicionalmente, tem sido a única garantia de equilíbrio entre grandes e pequenos, ricos e pobres, Norte e Sul.

In extremis, quase no fim do ano, o Banco Central Europeu salvou a economia europeia do colapso, inundando o mercado bancário de liquidez. Ao fazê-lo, deu razão a todos quantos vinham dizendo que as pressões sobre a dívida soberana não eram a causa mas a consequência de uma crise financeira que, devido aos erros na conceção e no funcionamento da zona euro, esteve prestes a arrastar consigo a própria UE. A campanha do BCE salvou a UE, pelo menos de momento, mas não resolveu os problemas de fundo, que continuam presentes e que 2012 terá de enfrentar.

Entre eles, há a destacar a impossibilidade de criar uma barreira de segurança entre o euro e a UE, que separe o fracasso de um do colapso da outra. Por isso, quando, em 2012, gregos e britânicos voltarem à mesa das negociações, a UE estará exatamente no mesmo lugar onde se encontrava em 2011: entre a espada de uma saída da Grécia do euro, cujas consequências seriam devastadoras, e a parede de uma rutura irreversível com o Reino Unido, que ameaçaria a unidade do mercado interno e enfraqueceria a posição da UE no mundo.

Demasiado pouco, demasiado tarde

Quais foram as consequências da crise do euro? A mais visível e imediata foi a devastação, em termos de emprego e prosperidade, que generalizou a desconfiança no futuro do Estado de bem-estar. A crise também pôs em causa a autoestima democrática das nossas sociedades, sujeitas a forças de mercado em relação às quais estas sentem não ter qualquer controlo. E, apesar de ser ainda cedo para se avaliar o impacto psicológico, a história diz-nos que as sociedades que têm medo e se sentem inseguras tendem a fechar-se sobre si mesmas, a recear o que as rodeia, a abrir as portas ao populismo e a sacrificar a liberdade no altar de uma maior segurança.

Igualmente importantes foram as fragilidades que a crise pôs a descoberto. A união monetária, que pretendia ser tão sólida como todos os imponentes edifícios que figuram nas notas de euro mas que não existem na realidade, revelou-se incapaz de se esquivar em condições meteorológicas adversas, como se tivesse sido concebida para navegar apenas com bom tempo.

E, ao mesmo tempo, o delicado mas imprescindível tecido de identidade sobre o qual assenta a construção europeia também se ressentiu: a solidariedade social e projeto comum, ancorados tanto numa visão do passado como na de um futuro comum, foram postos em dúvida e, até, substituídos pelos piores preconceitos e estereótipos culturais, que julgávamos terem sido superados, entre Norte e Sul, Leste e Oeste, católicos e protestantes. De tudo isto resultou uma gestão da crise dominada pelo "demasiado pouco, demasiado tarde", que manteve o euro à beira do precipício e os cidadãos à beira do enfarte, durante quase todo o ano.
Mas, atenção o perigo de enfarte para os cidadãos europeus continua latente e presente!

Se o euro cair, a Europa também cai

O ano de 2011 será recordado como o ano em que, pela primeira vez, a União Europeia chegou perto do abismo e disse o indizível. Para surpresa dos próprios e de terceiros, dentro e fora da Europa, precisamente no momento em que, após uma década de introspeção e divisões, a Europa empenhava - se em recuperar o tempo perdido e aspirava a ser, finalmente, um ator global, uma crise económica e financeira mundial atingiu-a em cheio e destabilizou a sua conquista principal e melhor sucedida: a união monetária.

"Se o euro cair, a Europa também cai", disseram muitos europeus para uma situação que descreveram como a "mais difícil desde a Segunda Guerra Mundial". E tinham razão, porque as consequências de uma cisão do euro seriam tão profundas que dificilmente se ficariam pela moeda: teriam graves efeitos sobre o mercado interno e sobre as principais políticas comuns, incluindo a política externa, destruindo décadas de laboriosa construção europeia.

A "crise da cadeira vazia" dos anos 1960, a "euroesclerose" dos anos 1970, a sombra do declínio económico e tecnológico face aos Estados Unidos e ao Japão, nos anos 1980, o regresso dos campos de concentração e a limpeza étnica, nos anos 1990, o fracasso dos referendos constitucionais em França e na Holanda, na década passada: a União Europeia já tinha estado em crise antes, mas nenhuma delas teve um caráter existencial no sentido literal da palavra.

10 anos de Euro

O dia 1 de janeiro de 2002 é, provavelmente, uma das poucas datas de que todos os adultos europeus se recordam. Nesse dia, pela primeira vez, um café numa esplanada junto ao mar passou a custar trinta cêntimos – em vez de sessenta escudos. Na cidade, todas as caixas de Multibanco foram tomadas de assalto, as pessoas corriam de um lado para o outro com as carteiras recheadas de euros acabadinhos de imprimir e descobriam com espanto as diferentes faces nacionais dos euros: aqui Mozart, ali o rei dos belgas e, além... quem será aquele espanhol? Nesse dia, 307 milhões de europeus tinham na mão uma nova moeda.

Isso passou-se há dez anos. Sendo assim, feliz aniversário, euro, congratulemo-nos e façamos saltar as rolhas das garrafas de champanhe! Acontece que o clima atual em que decorrem os preparativos para esse grande aniversário é marcado pelos receios. O Banco Central Europeu (BCE), autoridade monetária suprema da Europa, apenas previu um dia de portas abertas, "no segundo trimestre de 2012" e um concurso, aberto às escolas e denominado "Eurocorrida", entre 1 de janeiro e 31 de março. O BCE vai ainda cunhar uma moeda especial e apresenta, no seu sítio da Internet, vídeos sobre o fabrico da moeda e as características que tornam impossível falsificar as notas.

Deslocalização das empresas portuguesas para a Holanda

Mas o que atrai as empresas portuguesas para a Holanda?, pergunta o comum dos portugueses, que também dá a resposta: uma tributação mais branda, acesso mais fácil ao crédito e, neste momento, uma imagem de estabilidade que Portugal não pode oferecer.

Alarmante, mas das 20 empresas do índice PSI-20 da bolsa portuguesa, 17 já estão instaladas na Holanda. A isenção de tributação de dividendos e taxas mais baixas são razões que podem levar ainda mais empresas a deixar o país num futuro próximo.

O que custa a engolir não é que Soares dos Santos [presidente da JM] tenha cortado o passado com Portugal, esse mantém-no e continua a pagar impostos. É que tenha cortado o futuro. É que tenha decidido investir fora daqui porque aqui não tem por onde crescer, para procurar lucros fora de Portugal, criar postos de trabalho fora de Portugal e, então sim, pagar impostos desse futuro fora de Portugal. Mas investir fora do País não é traição. É apenas desistir dele.

Grécia - sair do euro uma ideia arriscada

O euro ou o dracma? A pergunta percorre a sociedade grega numa altura em que o Governo continua as negociações com a UE e o FMI para um novo plano de resgate.

"Perante este desafio – o mais importante para o país depois da queda da ditadura dos coronéis em 1974 -, devemos escolher entre tomarmos todas as medidas necessárias para permanecer na zona euro ou seguirmos num descalabro descontrolado e voltarmos, de facto, ao dracma", dizem os gregos.
Por seu lado,é também realçado que "o dilema entre o euro e o dracma não deixa ninguém indiferente. A verdade é que este dilema esconde uma grande verdade. As medidas, os planos de resgate, impostos pela UE e pelo Governo grego em nome do euro nos últimos dois anos, e tudo o que não fizemos pelo bem do país, reaproximou-nos do dracma”.
No entanto, "um regresso ao dracma empobrecerá 90% da população. Devemos, portanto, entender que, queiramos ou não, é preciso fazer tudo para permanecer no clã do euro para não nos tornarmos o vizinho pobre da ‘Grande Turquia’. Temos muito, muito trabalho, com grandes sacrifícios, mas a escolha é nossa”.
Assim falam os gregos! Espero sinceramente que não passe pela cabeça dos nossos governantes a ideia de regressar ao escudo!

Os países que têm dinheiro

A questão, portanto, é: porquê estes países e não outros? A resposta, à partida, é simples: são os que têm dinheiro. É uma questão de preço e, para colossos como o Brasil ou a China, são mesmo vendas a preço de saldo. Angola é um caso à parte, que envolve outro tipo de interesses além dos financeiros, bem como a Alemanha e o Reino Unido.

"O investimento angolano em Portugal tem uma componente política forte, como afirmação daquele país no mundo lusófono de onde no futuro espera tirar dividendos económicos".

Esta é também uma forma de legitimar os capitais angolanos, menos escrutinados em Portugal, e de entrar à boleia em outros mercados. O risco, dada a falta de transparência, é o de nunca se saber claramente qual é a identidade de quem investe. Angola investe, mas só dinheiro. Não há know-how associado.

Com a Alemanha (que concorre à EDP) e a quem o primeiro-ministro estendeu o tapete, o processo é outro. Se a este país pode interessar associar-se a Portugal em África, onde tem escassa penetração, para Portugal é um "um negócio" europeu, uma maneira de agarrar os alemães e comprometê-los com o país nesta fase difícil da crise europeia. "Portugal está refém da Europa e interessa-lhe o mais possível estabelecer ligações fora do continente para recuperar a sua autonomia".

A questão, portanto, é: porquê estes países e não outros? A resposta, à partida, é simples: são os que têm dinheiro. É uma questão de preço e, para colossos como o Brasil ou a China, são mesmo vendas a preço de saldo. Angola é um caso à parte, que envolve outro tipo de interesses além dos financeiros, bem como a Alemanha e o Reino Unido.

"O investimento angolano em Portugal tem uma componente política forte, como afirmação daquele país no mundo lusófono de onde no futuro espera tirar dividendos económicos".

Reduzir a dívida

Para reduzir a sua dívida, o Governo português lançou um amplo programa de privatizações. Brasileiros, chineses e angolanos são hoje os principais candidatos à compra de empresas nacionais.

Do lado de lá estão gigantes como as estatais Eletrobras e Cemig (Brasil), a China Three Gorges e State Grid (China), ou ainda a Sonangol (Angola). Todas oriundas de países de economias em crescimento acelerado e potências emergentes. Do lado de cá, estão empresas de dimensão modesta à escala mundial, com acionistas descapitalizados, num país em dificuldade extrema, a quem um acordo de assistência financeira impôs um agressivo pacote de privatizações.

Brasil, China, Angola – e também Alemanha e Reino Unido – são os países de origem dos principais candidatos, para já, às privatizações em curso ou à venda de ações ou participações do Estado.

EDP e REN são as operações que estão em cima da mesa, mas para 2012 está prevista a privatização da Galp, TAP, ANA, CP Carga e CTT. Não por acaso, são as empresas que mais se internacionalizaram e cujo valor é realizado em grande parte no exterior que suscitam maior interesse

Uma Europa a duas velocidades

Emprego

"O desemprego divide a Europa em duas" que refere disparidades significativas entre a Europa do Sul e a Europa do Norte: "A Alemanha apresenta a taxa mais baixa desde 1991, enquanto a [taxa de] Espanha dispara para o máximo de cerca de 23%. E a publicação das estimativas da Comissão Europeia para a zona referentes a dezembro deverá confirmar essa diferença",que acrescenta: "Esta dicotomia europeia reflete sobretudo o estado das economias do Velho Continente. Uns mergulham na recessão (Grécia, Portugal, Espanha), os outros conseguem manter um ritmo de crescimento, ainda que modesto”.

Entre as razões do estado de saúde dos países do Norte, designadamente o Luxemburgo, a Holanda, a Áustria e a Alemanha, incluem-se as reformas do mercado do emprego realizadas antes do início da crise, que "ajudaram a tornar os trabalhadores desses países competitivos a nível internacional – um fator marcadamente ausente nos países da periferia". Nos países em melhor situação, existe uma forte tradição de exportação em setores que beneficiaram da retoma rápida das economias emergentes, após a recessão de 2009. Sem esquecer políticas de emprego específicas, como a da Alemanha, que prefere o recurso ao desemprego parcial aos despedimentos.

É precisamente esse argumento que o Tageszeitung, de Berlim, tenta desmistificar. As reformas lançadas por Berlim não criaram novos empregos: redistribuíram os empregos existentes entre um número mais significativo de trabalhadores, criando de caminho um setor de salários baixos. Assim, o TAZ refere a existência de 8,4 milhões de alemães "subempregados" e recorda que o fosso entre ricos e pobres, no país, está aumentar mais rapidamente do que nos outros países industrializados. Entretanto para comemorar o número recorde de 41 milhões de empregados, o Governo gastou recentemente 330 mil euros na campanha de cartazes com os dizeres: "Danke Deutschland – Wirtschaft. Wachstum. Wohlstand" [Obrigado Alemanha – Economia. Crescimento. Prosperidade].