terça-feira, 8 de maio de 2012

Mercado negro para resíduos biológicos

Terceiro: os que produzem energia através da cultura do milho podem dar-se ao luxo de pagar rendas muito mais altas pelos terrenos, chegando aos 1500 euros por hectare, o que gera uma concorrência desleal em relação aos que precisam de pastos para o gado. É o mesmo fenómeno que está a ser criado com os parques fotovoltaicos, pelo que se repetem os mesmos erros. Quarto: as próprias instalações, as de um megawatt, são estruturas de grandes dimensões, cuja construção sacrifica definitivamente terrenos agrícolas. Quinto: já se ouvem rumores sobre o surgimento de um mercado negro de detritos orgânicos, nomeadamente de sobras de matadouros, vendidos ilegalmente para produzir biogás. Nunca deveriam ser utilizados como biomassa, porque os resíduos da "digestão" são espalhados nos campos como fertilizantes, e esse tipo de desperdício não só polui como propaga doenças. É um problema de escala. Em si, o biogás a partir de biomassas é benéfico. Mas se for produzido para fins especulativos e sobredimensionado, se intensificar a produção de milho com o único propósito de alimentar as instalações de produção de energia, se fizer subir os preços dos solos, se os esgotar e poluir, então é preciso dizer basta. Alto e bom som. Estas questões devem ser colocadas sobre a mesa e discutidas durante os debates sobre a nova Política Agrícola Comum (PAC), que começaram há dias, em Bruxelas. Mais cedo ou mais tarde, os subsídios vão acabar. O biogás e as suas grandes instalações são um cautério na perna de pau da nossa agricultura doente e podem mesmo representar o seu golpe de misericórdia. A verdade é que vai ser muito difícil voltar atrás: os terrenos férteis não são recuperáveis, os lençóis freáticos estão contaminados, a salubridade desaparece, os que se esforçam por praticar uma agricultura correta são entravados por uma competição impiedosa e insustentável. Agricultura industrial, que paradoxo!

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