terça-feira, 8 de maio de 2012

UE-CHINA

China cerca a Europa. Mas não percamos a esperança! A crise da dívida europeia é um alvo fácil para o investimento externo chinês. Por isso, precisamos de perceber que espécie de poder se está a tornar a China, escreve Timothy Garton Ash. Por vezes, a Europa colonizou pedaços da China. Agora, é a China que está a colonizar pedaços da Europa. Informalmente, é claro, e de uma forma muito mais bem-educada do que nós o fizemos. O crescimento da China tanto ilumina como explora o relativo declínio da Europa. Durante a sua visita à Europa, o primeiro-ministro Wen Jiabao vai visitar a Alemanha, o Reino Unido e a Hungria. Porquê a Hungria? Porque, por um lado, tem atualmente a presidência rotativa da UE mas, também, porque a China ali tem grandes investimentos e quer ter ainda mais – como acontece um pouco por todo o lado no sul e no sudeste da Europa. Um estudo recente do Conselho Europeu de Relações Externas (ECFR) estima que 40% do investimento chinês na UE está em Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Europa de Leste. Porquê tanta atenção à periferia? Bom, porque há investimentos prometedores a serem feitos lá e porque estas pequenas e periféricas economias são a porta de entrada mais fácil para um mercado único europeu de 500 milhões de consumidores. O mercado da UE está muito mais aberto aos chineses do que o chinês está aberto aos europeus. Investir muito nestes países também traz recompensas políticas. Não é excesso de cinismo ver Pequim construir uma espécie de lobby da China dentro das estruturas de tomada de decisão, onde o Estado mais pequeno é, pelo menos teoricamente, exatamente igual ao maior. Com a maior reserva de divisas do mundo – cerca de três biliões de euros, atualmente – a China pode comprar metade dos bens públicos gregos a privatizar, de uma só vez. A Grécia deverá ter cuidado com estes presentes chineses? Bem, quem pede não escolhe. Acreditar no comércio livre Não devemos ser excessivamente paranoicos sobre este assunto. Se acreditamos no comércio livre e nos mercados, temos de praticar o que defendemos. No entanto, não há dúvida de que o poder económico chinês está a crescer na Europa – e a traduzir-se em influência política. Alguns dos vizinhos asiáticos da China sofreram muito mais com o crescimento da China. Enquanto alguns, na Europa, ainda sonham com um mundo pós-moderno de soberania partilhada, em que a UE seria um modelo de governo global, a geopolítica da Ásia está cada vez mais parecida com a da Europa do século XIX – em vez de se assemelhar à do fim do século XX. Para além das dimensões económica e militar do poder emergente da China, há ainda uma terceira dimensão: política, cultural ou de “suave” poder.

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