sexta-feira, 4 de maio de 2012

Apetite pela vida

Se os portugueses se sentem em casa em Angola, adaptarem-se à vida no Brasil é ainda mais fácil. Segundo o Observatório da Imigração de Lisboa há, atualmente, cerca de 700 mil emigrantes portugueses a viverem e a trabalharem no Brasil. Em Espanha, que nos últimos dez anos recebeu cerca de cinco milhões de imigrantes da América do Sul, da África e da Ásia, a emigração espanhola para as antigas colónias da América do Sul é um assunto tão recente que há ainda poucos especialistas preparados para o discutir. Mas os números falam por si: segundo alguns consultores espanhóis na Argentina, há cerca de 1200 cidadãos espanhóis que se instalam naquele país todos os meses. “O emigrante típico é um homem entre os 25 e os 35 anos, quase sempre engenheiro, arquiteto ou especialista em tecnologias de informação”, diz uma especialista em mobilidade internacional. “Em resumo, homens jovens que querem novas experiências e desafios.” Nas antigas colónias a barreira da língua não existe e a adaptação cultural é fácil. Especialmente em Buenos Aires. Na viragem do século XIX para o século XX, cerca de dois milhões de espanhóis chegaram à Argentina na terceira classe dos barcos que faziam a ligação entre os dois países, vinham sobretudo da Galiza, a região mais pobre e agrícola do país, e é por isso que, ainda hoje, os espanhóis são conhecidos por gallegos [galegos] na Argentina. Na segunda metade do século XX, primeiro, por causa da ditadura e, depois, por causa da crise económica da década de 1990, foi a vez de os argentinos virem para a Europa. Agora, a tendência voltou a inverter-se. “Invasão europeia”, “novo Eldorado”, “expedição em busca de emoção” – são conceitos familiares e devem soar preocupantes aos ouvidos europeus. “Não, não há razões para se falar de uma nova colonização”. “Estamos, sim, a assistir ao nascimento de uma nova classe de migrantes que nunca se estabelecem permanentemente em lado nenhum. Mais cedo ou mais tarde, voltarão ao país de origem ou irão estabelecer-se noutro país qualquer onde as ofertas de trabalho sejam melhores.” Mas talvez esta inversão de tendência da migração seja um efeito de mudanças mais profundas que estão a ter lugar no mundo. O equilíbrio de poder entre o Ocidente e o resto do mundo ou, se se preferir, entre o Norte e o Sul, está a mudar.

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