segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Bem-vindos à união de desiguais

Crise na zona euro

França e Alemanha foram em grande parte responsáveis por frustrar a decisão do primeiro-ministro grego, George Papandreu, em realizar um referendo sobre as condições do apoio financeiro da UE/FMI. Uma manifestação despudorada de poder que é mau presságio para uma união de iguais.

Não devia surpreender ninguém que a proposta de George Papandreu para realização de um referendo nacional sobre as últimas decisões de apoio europeu tivesse durado apenas 72 horas, antes de ser trucidada e enviada para os confins da memória por alemães e franceses. Angela Merkel e Nicolas Sarkozy não fizeram a menor tentativa de utilizar qualquer subtileza diplomática, ao assestarem as armas contra este problemático surto de democracia. O referendo grego não pode acontecer, insistiram – e portanto não acontecerá. Foi uma cena confrangedora.

Bem-vindos à nova Europa. É agora geralmente aceite que o avanço para a união fiscal, a par da monetária, é a única forma viável de a moeda única funcionar. O que significa que este tipo de agressões vai ser a norma, com a soberania nacional a tocar sistematicamente segundo violino perante os ditames não apenas do Banco Central Europeu, mas também de uma central europeia de Finanças, cuja criação agora é só uma questão de tempo. Ambos, é claro, dominados pela economia preponderante da união monetária, a Alemanha.

Apesar de a Grécia poder estar a ser vítima de um excesso de força, não está isenta de culpas neste cartório – muito pelo contrário. Trata-se de um caso perdido em termos económicos, com uma corrupção política avassaladora; não conseguiu cumprir as suas obrigações como membro da união monetária e viveu alegremente acima das suas possibilidades. Mas o que dizer da Alemanha? Tem cumprido as suas obrigações? Continua a insistir na moeda única e no Banco Central Europeu que a serve, conduzido de modo a ajustar-se às suas prioridades económicas e não às de uma mais vasta zona euro.

Mau presságio para a UE
É aqui que a verborreia sobre o grande projeto europeu colide com a dura realidade do poder. A Alemanha afirma os seus direitos de soberania porque tem poder económico para o fazer. Nações periféricas, como a Grécia e a Irlanda, são violentadas e postas para o lado. Hipnotizadas pela obsessão de aguentar o euro, não parece ocorrer às elites políticas da Europa que as sementes que estão a ser plantadas não são de uma união cada vez mais estreita entre iguais, mas de uma infeliz aliança com um parceiro dominante. Um mau presságio para toda a União Europeia.

Entretanto, a crise imediata atingiu já um tal ponto que o Fundo Monetário Internacional terá que desempenhar um papel importante em qualquer plano de recuperação. David Cameron tem razão em argumentar que, embora o Reino Unido não vá apoiar qualquer investimento direto do FMI na recuperação da zona euro, está disposto – como membro fundador do Fundo – a disponibilizar mais dinheiro, se necessário.

Toda esta trapalhada foi produzida pela própria zona euro, e deviam ser os seus membros a resolver o assunto. Mas perante o desastre, cada nação corre o risco de ver-se arrastada para o abismo.

O fracasso dos fundos europeus

Fundo Europeu de Estabilidade Financeira deveria salvar a moeda única. Mas os investidores torcem o nariz a este produto financeiro complexo e incerto, cujas fragilidades os políticos tentam ocultar.


Apesar de ter por objetivo aliviar as dores de cabeça do clube do euro, acabou por se tornar mais uma. Criado para salvar a moeda única, o FEEF acabou por ficar doente. Ao longo dos meses da sua curta existência, o fundo europeu que deveria fazer sair da crise os países da zona euro mais afetados já teve de ser revisto e corrigido – para não dizer salvo – por várias vezes, para não ser, ele próprio, esvaziado, esgotado e liquidado. Depois de ter sido alargado e, em seguida, reforçado, apresentou um balanço pouco brilhante, em Cannes. O FEEF continua a não ser o que deveria ser.

A verdade é que este instrumento não dispõe de meios para cumprir a missão que lhe foi atribuída, a saber, encontrar dois biliões de euros para apagar o fogo na zona euro. Sob a sua forma atual, apenas consegue manter controlados alguns focos de incêndio menores. Se a Itália ou a Espanha começarem a arder, o fundo nada pode. Por conseguinte, os ministros das Finanças da zona euro voltaram a reunir-se na segunda-feira, 7 de novembro, em Bruxelas, para tentar descobrir onde irão buscar as verbas necessárias.

Na realidade, esperavam que o dinheiro afluísse da Ásia e da Rússia. Na China e no Japão há bastantes investidores, privados e públicos, suscetíveis de comprar ativos europeus, incluindo do FEEF. Prevendo a chegada desse dinheiro, os europeus remodelaram o seu plano de resgate, com a finalidade de atrair mais grandes investidores e de acabarem por reunir os milhares de milhões necessários para resolver a crise.


O problema é que os seus cálculos estavam errados. Os asiáticos mostram-se relutantes e os russos também. Ninguém está realmente disposto a investir mais no FEEF. Na semana passada, este fundo europeu teve mesmo de renunciar a lançar um novo empréstimo obrigacionista. Não há motivo para preocupações, tratava-se apenas de um teste, comentam os responsáveis do fundo.

A situação é grave, replicam os especialistas financeiros: os investidores não se interessam pelo FEEF. E provou-se que tinham razão, quando, em 7 de novembro, o fundo emitiu um novo empréstimo obrigacionista. Os compradores mostraram reduzido interesse e os prémios de risco foram os mais elevados de sempre.

Nos bastidores dos guardiães das notações de crédito, murmura-se que, hoje, até o AAA está periclitante. E estas três letras representam a garantia de que, apesar da crise, os investidores continuarão a comprar títulos europeus. Infelizmente, o FEEF tornou-se demasiado complicado para muitos desses investidores.


O instrumento de salvamento do euro faz agora parte do grupo de produtos financeiros que os investidores quase não entendem e relativamente aos quais preferem, sensatamente, manter distância. Quando criou este mecanismo, o clube do euro anunciou que este valia 440 mil milhões de euros. Na verdade, incluía apenas créditos no montante de 280 mil milhões.

Os mercados financeiros sentiram-se ludibriados e os receios de que venha a faltar dinheiro, se a crise se propagar a outros países, aumentaram. Portanto, os países da zona euro reforçaram o fundo de forma a chegarem a créditos no montante 440 mil milhões de euros, o que requereu um total de 780 mil milhões, uma vez que a diferença se destina a ser mantida como reserva, para garantir a classificação AAA.

A partir do momento em que os mercados financeiros viram perfilar-se a crise da dívida em Itália, tornou-se evidente que esse montante não bastaria e, agora, fala-se em dois biliões de euros. Mas, mais uma vez, a estrutura do fundo é demasiado complexa para este ser capaz de atrair os grandes investidores e a solução não funcionou.

É certo que o clube do euro, ainda pode tentar promover o seu fundo complicado na Ásia. No entanto, nos bastidores, há já algum tempo que está a ser preparado o terreno para se ir beber a outra fonte, a única que nos proporcionou alguns dias sem dores de cabeça: o Banco Central Europeu.

Islândia a Abre o mercado de trabalho aos Búlgaros

“A Islândia acaba de optar pela liberalização total do mercado do trabalho para os cidadãos romenos [e búlgaros] a partir do dia 1 de janeiro de 2012”, regozija-se o Timpul. O jornal moldavo rejubila, visto que 200 mil moldavos já possuem a cidadania romena, que lhes permite trabalhar na UE. Membro do espaço económico europeu e do espaço Schengen, candidata à adesão à UE, a Islândia aplicou em 2007, assim como outros Estados-membros (Áustria, Bélgica, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malta, Reino Unido e Holanda), uma restrição no mercado do trabalho de sete anos que limitava a livre circulação de cidadãos romenos e búlgaros devido à situação económica dos respetivos países. Mas “deste modo, Reiquiavique transmite um sinal coincidente com os valores da construção europeia”.

Crise da dívida - O pânico da dívida em França

“Depois da Grécia e da Itália, será a vez da França”? Os franceses interrogam-se, pela primeira vez, sobre a qualidade da dívida soberana da França, depois de uma vaga de pânico lançada pelos mercados na quinta-feira, 10 de novembro, quando a distância entre as taxas das obrigações a dez anos da Alemanha e da França atingiram um novo recorde histórico ao ultrapassarem os 170 pontos base. Uma desproporção que reflete a diferença de tratamento dos investidores nos dois países, com notação AAA.

Esta diferença explica-se pela "desvinculação em massa dos bancos do mercado das dívidas soberanas", com os investidores europeus a libertarem-se a todo o custo da dívida soberana dos países da zona euro considerados "em risco":

Esta debandada geral foi lançada pelos bancos alemães. O Banco da Alemanha, no final de julho, também bloqueou em oito mil milhões a dívida italiana, o que provocou a descida aos infernos da península. Aos poucos, o pânico generalizou-se e cada um tentou desembaraçar-se de ativos considerados frágeis. O pior é que esta desconfiança em relação à zona euro é alimentada, no essencial, pelos protagonistas dos mercados europeus – bancos, garantias de fundos de pensões – e não por instituições externas.

O nervosismo dos mercados quanto à dívida francesa foi ainda mais reforçado por um grande erro da agência de notação Standard&Poor's que, no dia 10 de novembro, difundiu, por engano, a alguns dos seus assinantes, uma "mensagem" a anunciar que ia baixar a nota da França. Uma informação desmentida pela “S&P”. A França ao anunciar que tinha três meses para determinar se a perspetiva estável da notação ainda se justificaria".

A Comissão Europeia, na pessoa do comissário europeu dos Assuntos Económicos, Olli Rehn, reagiu quinta-feira, dia 10 de novembro, à apresentação do segundo plano de austeridade, anunciado segunda-feira pelo primeiro-ministro francês François Fillon, ao pedir a Paris que tome "medidas suplementares para corrigir o défice público excessivo" em 2013. "Bruxelas estima que este défice irá registar apenas uma ligeira melhoria na ordem dos 5% do PIB dentro de dois anos, um resultado muito distante dos 3% que a França garantiu à Comissão Europeia".

A Comissão regula, mas pouco

“Muito pouco, muito tarde”: a reforma das agências de notação proposta a 14 de novembro por Michel Barnier, a terceira em 3 anos, não satisfaz a tentativa de resolução da crise. Contrariamente às expectativas, o comissário europeu do Mercado Interno e dos Serviços renunciou a uma proposta fundamental: suspender a notação soberana de um país em dificuldades.
O texto apresentado visa diminuir a dependência das instituições financeiras em relação à notação das três grandes agências mundiais, Standard & Poor's, Moody's e Fitch Ratings: “É uma questão de obrigar os investidores a fazer os seus próprios cálculos, de constituir um Índice Europeu de Notações (EURIX) e de forçar a rotatividade destas notações ou a contabilidade simultânea de várias notações para se evitar qualquer decisão automática de investimento assim que uma notação desce”, nota o diário.



A 14 de novembro, o Parlamento Europeu votou a interdição de vendas a descoberto:

Estas operações consistem na venda de um título que ainda não se detém na esperança de o comprar depois a um preço mais baixo que o permitido, mas agora os operadores têm de provar que estão em condições de deter o título no momento em que este for entregue, facto que irá ocorrer num período de tempo mais curto. A Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários e dos Mercados (AEVMM) terá também o poder de interditar estas operações caso se verifiquem tensões generalizadas nos mercados, para assim evitar novas decisões não coordenadas dos 27, à semelhança do verão passado, em plena tempestade financeira. As operações sobre dívidas soberanas serão objeto de uma atenção especial e as operações mais especulativas serão proibidas.

União Europeia - O banco que nos quer bem

Mario Monti, Lucas Papademos e Mario Draghi têm uma coisa em comum: trabalharam para o banco de investimento norte-americano. Não se trata de um acaso mas de uma estratégia de influência que talvez já tenha atingido os seus limites.


São sérios e competentes, pesam os prós e os contras, estudam cuidadosamente os dossiês antes de se pronunciarem. A economia é o seu pecado de estimação. É raro encontrar-se filhos da Luz como estes, que entram no Templo na sequência de um longo e meticuloso processo de recrutamento. É, ao mesmo tempo, um grupo de pressão, uma espécie de clube de recolha de informação, uma rede de ajuda mútua. São os companheiros, mestres e grão-mestres levados a "difundir no universo a verdade encontrada na loja".

Os seus críticos acusam esta rede de influências europeia tecida pelo banco norte-americano Goldman Sachs (GS) de funcionar como uma loja maçónica. Em graus diferentes, o novo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, o presidente designado do Conselho italiano, Mario Monti, e o novo primeiro-ministro grego, Lucas Papademos, são figuras totémicas das malhas apertadas dessa rede.

Ex-comissários e responsáveis de bancos centrais
O primeiro foi vice-presidente do Goldman Sachs International para a Europa, entre 2002 e 2005. Era o "associado" que tinha a seu cargo o departamento de "empresas e países soberanos", o mesmo que, pouco antes da sua chegada, tinha ajudado a Grécia a camuflar as suas contas, graças ao produto financeiro "swap" sobre a dívida soberana.

O segundo foi conselheiro internacional do Goldman Sachs, de 2005 até à sua nomeação para a chefia do Governo italiano. De acordo com o banco, a sua missão era dar pareceres "sobre os assuntos europeus e os grandes dossiês de políticas públicas mundiais". Mario Monti foi um homem que "abriu portas", um homem cuja tarefa consistia em penetrar no centro do poder europeu para defender os interesses do GS.

O terceiro, Lucas Papademos, foi governador do Banco Central grego entre 1994 e 2002. Nessas funções, desempenhou um papel não esclarecido na operação de camuflagem das contas públicas levada a cabo com a ajuda do Goldman Sachs. Além disso, o responsável pela gestão da dívida grega é Petros Christodoulos, antigo corretor do banco norte-americano em Londres.

Dois outros pesos pesados da rede Goldman na Europa tiveram igualmente um papel na crise do euro: Otmar Issing, antigo membro da comissão executiva do Bundesbank e antigo economista principal do Banco Central Europeu; e o irlandês Peter Sutherland, administrador do Goldman Sachs International, que participou, nos bastidores, no resgate da Irlanda.


Como foi constituída esta rede de fiéis e intermediários? Nos Estados Unidos, este círculo mágico é integrado por antigos responsáveis da instituição que se passaram, com armas e bagagens, para o mais alto nível da função pública. Em contrapartida, na Europa, o Goldman Sachs tornou-se o apóstolo de um capitalismo de relações.

Mas, ao contrário dos seus concorrentes, este banco não está interessado em diplomatas reformados, em altos funcionários nacionais e internacionais e, ainda menos, em antigos primeiros-ministros ou ministros das Finanças. O Goldman tem sobretudo na mira responsáveis de bancos centrais e antigos comissários europeus.

A sua tarefa prioritária consiste em, de forma absolutamente legal, recolher informações sobre operações futuras ou sobre a política de taxas de juro dos bancos centrais. O banco gosta de colocar os seus homens, sem nunca deixar cair a máscara. É por isso que os seus sequazes escondem essa filiação, quando dão uma entrevista ou realizam uma missão oficial.

Bem relacionados, estes "ex-" conversam sobre isto e aquilo com os seus interlocutores. As línguas soltam-se diante de personagens de tamanha monta. Como se diz coloquialmente, os interlocutores percebem de que lado sopra o vento. As informações confidenciais circulam depois nas salas de negociação do banco.

Um antigo associado do Goldman Sachs no BCE, um antigo intermediário à frente do Governo italiano, um próximo no poder na Grécia: segundo os seus críticos, o banco dispõe hoje de uma extraordinária cadeia de agentes em Frankfurt, Roma e Atenas, que poderá vir a revelar-se útil nestes tempos de tormenta.

Acontece que, para lá das aparências, o governo Goldman na Europa, no pico do seu poder antes e durante a tempestade financeira de 2008, talvez já tenha esgotado o seu estado de graça.

De facto, as antigas cumplicidades mantidas por antigos responsáveis de bancos centrais experientes, mobilizados para mexer os cordelinhos, revelam-se agora menos úteis perante políticos sensíveis à impopularidade dos profissionais do mundo das finanças, considerados culpados pela crise. Onde o Goldman Sachs podia utilizar facilmente os seus talentos, uma série de casos colocou contra ele o poder público. Num planeta financeiro complexo e técnico, a lista de endereços já não basta, face a uma nova geração de industriais menos tolhidos pelo respeito pelo establishment.

Os patrões europeus que partiram à conquista do mundo libertaram-se dos cruzados da alta finança ao estilo SG. A exigência de valorização do acionista, os requisitos de transparência e o ativismo dos contrapoderes (órgãos de comunicação, ONG, investidores institucionais) tendem a enfraquecer o "efeito rede".

Hungria - É preciso escolher entre o FMI e Orbán

A Standard & Poor's colocou no início da semana a dívida soberana da Hungria "sob vigilância negativa". Esta medida provocou a reação imediata do primeiro-ministro Viktor Orbán, que declarou que "a Hungria dispensa contratos de crédito com o FMI. Se o FMI entrar no país, saio".

"Mas onde estamos realmente?" A moeda nacional está em queda livre: a 17 de novembro, um euro valia 316 forintes; em março de 2009, nos 317, a Hungria pediu ajuda ao FMI. A dívida pública atingiu os 76% do PIB e "os economistas e os banqueiros do FMI pensam que é inevitável um futuro compromisso".

Gastos do orçamento federal aumentaram

Pelo contrário: a Alemanha não poupa. Os gastos do orçamento federal chegaram mesmo a aumentar recentemente e é provável que se situem à volta dos 300 mil milhões de euros nos próximos anos, de acordo com a previsão orçamental. O programa de austeridade adotado durante o período mais crítico do outono passado pouco evoluiu para além da regra de ouro que os alemães gostam de apregoar na Europa.

Se o nível do défice baixar é apenas por causa da conjuntura favorável destes últimos dezoito meses. Permitiu que a Alemanha arrecadasse receitas fiscais superiores ao que havia sido previsto estimulando o PIB. Como é uma proporção calculada com base no endividamento suplementar, o rácio défice-PIB regride. Mas nada disto está muito relacionado com as medidas de austeridade.

A boa saúde económica do país até este momento não é o resultado de uma ascese – pelo menos não a do Estado. Se o made in Germany também chega ao estrangeiro é sobretudo graças aos empregados alemães que fabricam produtos de qualidade a custos relativamente vantajosos.

Ao fazer o elogio arrogante da disciplina do estado alemão, o atual Governo faz imensos estragos na Europa. Na Grécia, em Espanha ou na Itália, onde eram estimados pelas suas virtudes – pelo menos, antigamente – os alemães são agora considerados os pais arrogantes do rigor, que pretendem ensinar às pessoas do resto do continente como devem viver e trabalhar. E isto não pode funcionar indefinidamente.

Guardiões europeus da disciplina

Os argumentos racionais não permitem sequer compreender como chegámos a este ponto. Naturalmente que, se olharmos mais atentamente, percebemos que países como a Espanha ou a Itália não estão assim tão mal, bem pelo contrário, se tivermos em conta a subida das suas taxas de juro. E que a Alemanha, em especial, não é o exemplo de rigor que pretende fazer crer.

Nos primeiros prognósticos, a Comissão Europeia conta com uma taxa de endividamento de 81,7% do Produto Interno Bruto (PIB) para a Alemanha, em 2011. É claramente mais que o limite de 60% prescrito no Pacto de Estabilidade Europeia – o mesmo que o governo federal repete consecutivamente aos países do sul da Europa e que tanto gostaria de reforçar. Quem quer prescrever um endurecimento das regras melhor faria que as cumprisse primeiro.

Jean-Claude Juncker, chefe do Governo luxemburguês, tem direito a sentir-se indignado com o paternalismo alemão. Apesar da crise que atravessa, a Espanha, por exemplo, está muito mais próxima de cumprir o pacto de estabilidade, com uma taxa de endividamento de 69,6%, que a Alemanha. Até mesmo os holandeses (64,2%), ou os finlandeses (49,1%) estão mais bem colocados que os alemães para se arvorarem guardiões europeus da disciplina orçamental.

A única coisa que nos deixa confiar atualmente nas finanças públicas alemãs é o nível do défice relativamente baixo do país, ou seja, a dívida suplementar atribuída ao desempenho económico. O facto de ser muito inferior ao dos países em crise do sul da Europa tem múltiplas razões – mas nenhuma que esteja ligada à imagem de exemplo de rigor que o Governo dá de si próprio.

O mito da disciplina germânica

Quem teme a Alemanha?

Berlim revela estabilidade em plena crise – e os mercados financeiros mostram-se confiantes. No entanto, o país não respeita os critérios de disciplina orçamental. Uma atitude simultaneamente arrogante e perigosa.


Os investidores dos mercados financeiros e os dirigentes políticos alemães, de facto, têm pouco em comum: regra geral, os primeiros não compreendem por que motivo os segundos precisam de tanto tempo para aplicar as decisões tomadas nas cimeiras de crise. Em contrapartida, os primeiros são os bodes expiatórios apontados pelos segundos assim que se trata de atribuir a culpa da crise a alguém.

Surpreendentemente, uns e outros estão de acordo sobre uma questão: a opinião que têm sobre a política orçamental alemã. Sendo sólida, é um exemplo para todos os países endividados do sul da Europa. Mesmo quando a realidade mostra algo bem diferente, ninguém quer pôr em questão esta verdade geral.

Isto permiteu a Volker Kauder, chefe do grupo parlamentar da CDU-CSU [no Bundestag], regozijar-se recentemente, no congresso do partido, com o facto de, na Europa, agora, "falar-se alemão". Este chauvinismo fanfarrão resume bem a política da chanceler alemã. Desde o início da crise do euro, na primavera de 2010, que o leitmotiv de Angela Merkel se pode resumir a isto: se toda a gente conseguisse, como os alemães, fazer economias, não haveria problemas.

Há uma coisa que temos de reconhecer em Angela Merkel: realmente foi bem convincente. Os investidores dos mercados financeiros, em todo o caso, acreditaram visivelmente na chanceler. Enquanto impõem um aumento das taxas de juro na quase totalidade dos países da zona euro relativamente à aquisição de obrigações do Estado, entregam o dinheiro quase a troco de nada ao ministro alemão das Finanças.

Crise da zona do euro

A moeda comum europeia está em apuros, vários países da UE estão a enfrentar montanhas de dívidas e a solidariedade dentro do bloco está a diminuir. É a juventude europeia, em particular, que têm atraído a vara curta. Uma cooperação mais estreita é a única forma de avançar.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Solideriedade serve os interesses dos bancos privados

Quem diz a perder (a democracia, o Estado de Direito, os cidadãos), diz a ganhar. São os partidários da centralização, a quem Roland Vaubel chama "euromânticos". O escritor Hans Magnus Enzensberger prefere "monstro": curadores dos seus cidadãos, que condenam com argumentos morais todos os indivíduos chauvinistas e anti-europeus que chamam a atenção para o custo de uma União onde os ricos financiam os pobres.

Os intelectuais de esquerda (de Jürgen Habermas a Joschka Fischer) defendem a elite política de euromânticos denunciando uma "renacionalização" da Europa sem perceberem que o seu pathos e os seus discursos de solidariedade servem os interesses dos capitais financeiros e dos bancos privados.

Vemos que se trata, em vez de solidariedade, para intelectuais e responsáveis políticos sem distinção, de fazer crescer a sua influência em detrimento das liberdades civis. A ideologia centralizadora está constantemente a ir contra a concorrência, os dispositivos democráticos e a informação dos cidadãos e esconde-se por trás de um incompreensível jargão de siglas e acrónimos (EFSF, ESM).

O nível de preocupação que os cidadãos revelam, sobre um assunto tradicionalmente tão aborrecedor como é a Europa, revela bem a sensação que têm de que alguma coisa de passa. Enquanto os mercados não retomarem a confiança, a nossa única esperança é o Supremo Tribunal Constitucional. Dia 5 de julho, a Europa vai estar na agenda de Karlsruhe.

A Grécia tornou-se escrava da Europa

De facto, há um ano que a Grécia deixou de ter autonomia política. A liberdade de Atenas limita-se à escolha dos portos que serão vendidos em primeiro lugar – Pirée, ou Thessalonique. O dilema do Governo consiste em decidir se prefere reduzir os salários dos funcionários públicos em 10% e as pensões de reforma em 20%, ou o inverso. Naturalmente, seria preferível fazer as duas coisas. "O Bundestag impõe-se na Grécia", foram títulos recentes na imprensa. Na certeza de que os países passariam a ser um "protetorado" alemão (segundo Rainer Brüderle).

"Como na Idade Média, a Grécia trocou a liberdade pelo dinheiro e tornou-se uma serva da Europa", explica Roland Vaubel. Este país, berço da democracia, vendeu a sua liberdade a pretensos salvadores no papel de administradores da insolvabilidade. A União da solidariedade sofre uma castração democrática.

Do lado dos doadores, este crédito de milhões a juros reduzidos assemelha-se a "luvas". É o preço que a UE tem de pagar para salvar os bancos franceses e alemães.

Do lado dos beneficiários, os gregos comportam-se como chantagistas, exigindo sem parar condições de crédito mais favoráveis com o pretexto de defenderem os bancos dos Estados credores. Os europeus honestos transformaram-se num bando de bando de ladrões chantagistas.

Esta forma de solidariedade prejudica o Parlamento Europeu. Dia 9 de maio de 2010, uma ação de comando, realizada pelos responsáveis de Bruxelas, por iniciativa de Nicolas Sarkozy e aconselhada por Jean-Claude Trichet, fez nascer o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), que ficará para a posteridade com o nome de MES (Mecanismo Europeu de Estabilização).

O Governo não para de encostar os deputados alemães à parede e de lhes extorquir o consentimento brandindo a ameaça de uma crise em mercados anónimos ("Lehman, Lehman, Lehman") capaz de provocar uma catástrofe ("efeito dominó")

O drama da solidariedade

Crise da dívida
O plano de resgate da Grécia, para além de ser nefasto, não serve para nada. O Estado de Direito está em declínio. A Europa "virtuosa" está a ser vítima de um bando de ladrões chantagistas, escreve o Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung.


Há cerca de um ano, os responsáveis políticos europeus criaram um plano de resgate do euro que tinha sido solicitado há muito tempo. Foi dado um crédito superior a 110 milhões de euros à Grécia. A seguir foi a vez da Irlanda e de Portugal. E agora outra vez a Grécia.

Se os responsáveis políticos da UE também não fizeram caso da cláusula de não solidariedade do Tratado Europeu [segundo a qual: "a UE não assume os compromissos das administração centrais"], é porque se trata de uma situação de emergência.

Prevê-se, com efeito, que os Estados possam prestar auxílio imediato a um parceiro atingido por uma catástrofe natural. O facto de a Grécia apresentar um índice de endividamento próximo dos 150% do seu PNB passa agora por uma espécie de decreto da natureza e não da obra de homens e de responsáveis políticos.

De igual modo, há tratados internacionais que impedem o FMI e o BCE de aplicar planos de resgate de uma tal amplitude. A aquisição pelo BCE de dívidas de Estado no mercado dito secundário – isto é, nos bancos de crédito – é um mero artifício. Na realidade, o BCE passa assim a ser o primeiro credor da Grécia e, na verdade, um "mau banco".

Perante tal situação contata - se que "nunca na história da integração europeia se registou uma tão grande violação dos tratados". Ao não cumprimento dos princípios do Estado de Direito acrescenta-se um ataque insidioso, e não menos grave, à democracia.

O federalismo pode salver o euro?

Crise da dívida


“Mais Europa para salvar o euro?”, perguntam os europeus, no dia em que começa um Conselho Europeu em parte dedicado à procura de soluções duradouras para resolver a crise da dívida. “Já não se trata essencialmente de ter peso no mundo mas sim de não ser um peso para os outros”. Assim, “no auge da crise, a ideia federal volta a ser muito falada”. “Os velhos caminhantes do Eurogrupo” (o luxemburguês Jean-Claude Juncker, o italiano Giulio Tremonti e o belga Didier Reynders), são grandes promotores das euro-obrigações, que implicam um financiamento sólido e conjunto de uma parte das dívidas públicas da zona euro. Quanto a Jean-Claude Trichet “sai do seu papel de presidente do Banco Central Europeu (BCE) e luta por um de ministro das Finanças europeu”.

Mas, previne - se que, uma coisa é a gestão económica colegial e outra o abandono da soberania política, “para garantir a sustentabilidade de uma zona monetária, é preciso poder realizar transferências internas que redistribuam os excedentes dos países ricos pelos países deficitários. Por enquanto, com um orçamento de 12% do PIB europeu, a Europa não só tem um problema de legitimidade política, como também não tem meios”.

"Quebra de confiança"

Mas em vez de mobilizarem todos os seus recursos para fazer face à crise, estes procuram limitar a sua responsabilidade. O facto cria a sensação de que há duas medidas: um tipo de democracia para os credores e outro para os devedores. Toda a gente é obrigada a entender os condicionalismos que pesam sobre Angela Merkel. Mas, quando Papandreu fala de referendo, está a cometer uma "quebra de confiança".

Além disso, os devedores suportam os custos dos erros dos credores. No caso da Grécia, o FMI queria (acertadamente) que o programa de ajustamento se centrasse em reformas estruturais que promovessem o crescimento; os europeus deram prioridade à redução do défice. Uma recessão superior à prevista significaria que a Grécia seria obrigada a estabelecer objetivos orçamentais cada vez mais estreitos, que implicam cada vez mais austeridade.

O primeiro resgate incluiu empréstimos a três anos a taxas de juro punitivas, sem redução da dívida. O último oferece à Grécia taxas baratas durante 30 anos, com uma dedução de 50% para os detentores privados de obrigações. Pelo menos uma destas opções estava errada e nenhuma das duas bastaria para salvar a Grécia. A Alemanha aceitou demasiado tarde a necessidade de reforçar e tornar mais flexível o fundo de resgate. Se o tivesse feito mais cedo, a crise poderia ter sido contida mais facilmente e com custos menores.

Os "donos" da Zona Euro

Resposta conduzida pela Alemanha e França
Boa parte do que foi escrito é disparate. A Itália e a Grécia optaram livremente por aderir ao euro e todos os clubes têm regras de comportamento. Numa união monetária, a irresponsabilidade de um dos membros põe em perigo o bem-estar dos restantes. Se não estivessem tão fortemente endividadas e escleróticas, a Itália e a Grécia não enfrentariam hoje tantas dificuldades.

Os países que lhes prestaram assistência financeira têm direito a impor condições, para garantir que os seus empréstimos sejam re-embolsados. A alternativa às imposições da zona euro é ficarem à mercê do mercado. E, quando é precisa uma resposta, esta será inevitavelmente conduzida pela Alemanha e pela França.

Contudo, as acusações dos críticos têm algum fundamento. A UE foi a âncora da democracia para muitos países, como por exemplo a Espanha. Mas, se a crise se mantiver, a austeridade se prolongar e a zona euro proceder à sua integração, para se salvar, a legitimidade da iniciativa será prejudicada. Os sacrifícios seriam mais suportáveis, se os atos dos credores indicassem que estes acreditam enfrentar uma ameaça à sua existência.

Crise da zona euro

Os esforços para salvar o euro não podem continuar indefinidamente contra a vontade dos eleitores.


Em praticamente dois dias, a Europa exigiu a cabeça de dois dirigentes políticos. Primeiro, o primeiro-ministro grego, George Papandreu, prometeu demitir-se e, depois, em Itália, Silvio Berlusconi fez o mesmo. Havia algum tempo que os dois dirigentes estavam numa situação difícil mas a causa imediata da sua queda é clara: o ultimato que lhes foi lançado pelos dirigentes da zona euro na cimeira do G-20, em Cannes, para que reformassem as respetivas economias… fosse como fosse.

Em Cannes, foram quebrados dois tabus. Pela primeira vez, os dirigentes da zona euro aceitaram a ideia de um dos membros entrar em incumprimento e sair do euro. (E, depois de o impensável se tornar possível, porquê ficar só pela Grécia?) Foi também a primeira vez que os dirigentes interferiram de modo tão decidido na política interna de outros países.

É verdade que a União Europeia influencia há muito as políticas nacionais. Recorde-se em que medida, no Reino Unido, as divisões entre os conservadores quanto à Europa contribuíram para a demissão de Margaret Thatcher, em 1990, até que ponto os novos membros se transformaram para aderir à UE, ou a reforma das finanças públicas realizada em Itália, em 1999, para o país poder entrar para o euro. E a crise fez cair os primeiros-ministros da Irlanda e de Portugal, depois de os dois países terem precisado de ajuda externa.

Ainda assim, alguma coisa mudou. Os europeus consideram-se uma família; discutem mas ninguém põe em causa o direito de um membro de fazer parte do clã. Mas, em Cannes, os dirigentes da zona euro deixaram claro que os membros da família podem ser abandonados ou mesmo deserdados. Há quem encare isto como um ataque às democracias nacionais por parte da elite europeia, quer não eleita, quer autoproclamada (como no caso da dupla franco-alemã "Merkozy", Angela Merkel e Nicolas Sarkozy). Muito foi escrito sobre a subjugação da Grécia, o berço da democracia, durante a segunda ocupação alemã.

A perda de confiança de Berlim, Paris e Bruxelas

Berlim, Paris e Bruxelas aproveitaram a ocasião para exigirem a cooperação dos dois principais partidos, colocando à cabeça [do Governo] um tecnocrata, uma vez que não confiam nos líderes políticos. Papandreu foi posto fora de jogo por causa da sua proposta de referendo.

Depois de ter hesitado entre as suas ambições pessoais e os ardores da sua base de apoio, o seu rival Antonis Samaras, líder da Nova Democracia, voltou às suas posições iniciais, apoiando completamente Papademos e aprovando as decisões que o novo Governo será obrigado a tomar durante o seu mandato. Os dois maiores partidos gregos concordam que o novo Governo deverá durar apenas até ao próximo mês de fevereiro.

Mas uma nova realidade é visível. O Governo de Papademos deverá selar o orçamento para 2012 e fazer ratificar o acordo europeu de 27 de outubro último, que prevê a redução de 50% da dívida e medidas de austeridade suplementares. Não diz se o faz até ao fim do seu mandato. Tem o apoio dos europeus que, a priori, têm mais confiança nele para que seja aplicado o acordo de 27 de outubro. E não se importavam de ver o mandato deste Governo ser prolongado.

No entanto, tudo dependerá do quadro interior, dos apetites e das necessidades dos partidos políticos, dos líderes e dos deputados. Mas muitas coisas mudaram e é bem possível que o venha a conseguir.

Crise da dívida - Itália e Grécia dois destinos paralelos

Em Atenas e em Roma, a crise derrubou os líderes eleitos e substituí-os por tecnocratas que têm como principal missão porem em prática os planos de austeridade impostos por Bruxelas e pelos mercados e que os seus antecessores não conseguiram aplicar.


No auge da crise económica e depois de várias más escolhas dos líderes e, em primeiro lugar, do primeiro-ministro que agora sai, os não políticos entram em cena. Aqui, na Grécia, é o banqueiro central Lucas Papademos.

Em Itália, suspeita de ser o próximo elo fraco da zona euro no que diz respeito à crise da dívida soberana, é igual: o Governo desapareceu. E é um antigo membro da Comissão Europeia, que tem boas relações com o sistema bancário europeu, que deve chefiar o próximo Governo.

As semelhanças são notáveis. Em ambos os casos, o sistema político não conseguiu gerir a crise. Na Grécia, o Governo do socialista George Papandreu, apesar de ter atuado em conformidade com as exigências dos mutuantes europeus, perdeu a confiança do seu povo, sobretudo depois de o primeiro-ministro que agora sai ter decidido realizar – antes de reconsiderar – um referendo. Esta decisão marcou o início do fim e facilitou muito a formação de um Governo de coligação com a direita.

Não matem o euro

Entre operações de salvamento, orçamentos de austeridade para fazer face à crise e mercados obrigacionistas agressivos, há muito quem se pergunte se os dias do euro estarão contados. Mas um colapso da moeda europeia acarretaria custos técnicos, económicos e políticos sem precedentes.

Os mercados obrigacionistas menosprezaram o salvamento de 85 mil milhões de euros, oferecido à Irlanda em 28 de novembro. Os rendimentos aumentaram não apenas para a Irlanda mas também para Portugal, Espanha, Itália e até para a Bélgica. O euro caiu – mais uma vez. À medida que os salvamentos fracassados se vão sucedendo, as afirmações solenes dos líderes da União Europeia de que o fim da moeda única é impensável e impossível vão perdendo o poder de convencer alguém. E isso leva muita gente a perguntar-se se o euro conseguirá sobreviver.

O argumento contra é que os cidadãos europeus não podem continuar a viver subjugados a ele. Na periferia da Europa, algumas pessoas anseiam por serem poupadas aos anos de austeridade opressiva, que poderão vir a ser necessários para que os salários e os preços se tornem competitivos. No centro, dominado pela Alemanha, as pessoas estão fartas de pagar pelas incapacidades de outros países e, na sua qualidade de credores, receiam vir a sofrer, se o Banco Central Europeu (BCE) inflacionar as dívidas dos faltosos. No fundo, paira a sombria suspeita de que se trata de um drama que a zona euro poderá estar condenada a viver repetidamente. Então, porque não sair agora?

A agonia da moeda única

“A última batalha. Como a Europa arruína a sua moeda”: os europeus desenham um retrato sombrio do futuro do continente. “Os Governos decidem salvamento após salvamento, mas não conseguem controlar a crise”. Os líderes europeus parecem “de espírito estreito, em desacordo e ultrapassados”, favorecendo um colapso financeiro muito pior do que aquele que se seguiu à derrocada do Lehman Brothers em 2008. Salvar Estados até ao infinito não é suficientes e o Eurogrupo estuda duas opções: uma garantia geral para as obrigações do Estado de todos os países da zona euro, uma ideia que está a fazer escola na Alemanha, ou a criação “de euro obrigações” emitidas conjuntamente por todos os países (criando assim uma “garantia comunitária” com a mesma taxa de juro para o conjunto da zona euro), uma opção defendida pela Itália e pelo presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker. Em qualquer dos casos, a Alemanha terá de pagar pelos erros do passado. E, segundo o Spiegel, ninguém sabe se a população aceitará de bom grado esse preço.

Crise do euro

Paris e Berlim formam frente comum
10 dezembro 2010
Le Figaro, 10 dezembro 2010
"Sarkozy e Merkel determinados a salvar o euro", assegura Le Figaro, na data em que se realiza, em Friburgo, o 13º Conselho de Ministros franco-alemão. "Muito criticada pela gestão que faz da crise da dívida, Angela Merkel pode, pelo menos, contar com o apoio de Nicolas Sarkozy", adianta o diário. O Presidente francês apoia a chanceler inclusivamente na sua oposição à criação de "euro-obrigações", proposta pelo presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, e pelo ministro italiano das Finanças, Giulio Tremonti, para mutualizar as dívidas europeias. Uma recusa que o primeiro-ministro luxemburguês qualificou de "antieuropeia". Esta troca de galhardetes "entre dirigentes da zona euro não augura nada de bom para o Conselho Europeu, que será consagrado à crise da dívida", a 16 e 17 de dezembro, nota Le Figaro.

Um antieuropeísmo radical

Quanto à Letónia, há dois anos estava numa situação muito semelhante à que a Grécia hoje enfrenta. Uma série de dificuldades económicas obrigaram o país a adotar medidas drásticas impostas pelo BCE e pelo FMI. Os cortes nos salários e em alguns benefícios sociais foram na ordem das dezenas por cento e o Governo introduziu novos impostos e aumentou os que já existiam. Vários observadores previram uma explosão do nacionalismo e dos sentimentos antieuropeus. Mas nada disso aconteceu, pelo menos por enquanto.

Na República Checa estamos muito longe de todas estas considerações. “A entrada, num futuro próximo, na zona euro é um absurdo. A união monetária tornou-se uma união da dívida e não vejo porque razão tenho de pagar as dívidas dos outros”, repetiu, várias vezes, nos últimos tempos, o primeiro-ministro checo, Petr Nečas.

Mas é igualmente importante lembrar que Nečas ainda não fez a posição checa evoluir para esse antieuropeísmo radical incarnado pelo presidente checo Vaclav Klaus. “Aponta simplesmente o dedo ao facto de que pertencer à União Europeia se traduz em custos cada vez maiores e que, para um país como a República Checa, seria preferível uma integração mais lenta.”

Com exceção da Hungria, nenhum outro país que está fora da zona euro se exprime assim. “Não podemos esperar um crescimento rápido da UE. A Hungria tem de seguir o seu próprio caminho”, declarou recentemente o primeiro-ministro Viktor Orbán que, há que o dizer uma vez mais, é geralmente considerado, pela UE, como um autocrata, tendo sido sob o seu Governo que a Hungria foi atirada para a periferia da Europa.

O medo de não poder ser dono do seu próprio futuro

Até agora, a República Checa tem estado no segundo grupo. Mas, atualmente, está a mudar de rumo e procura um lugar no primeiro grupo. Londres e Copenhaga negociaram um estatuto de exceção: estão isentas da obrigação de adotarem o euro. A Suécia não beneficia deste estatuto, mas faz parte do grupo de opositores ao euro desde a vitória do não no referendo sobre a adoção da moeda única, em 2003.

Dito isto, o medo de se ser afastado do coração da Europa pode explicar a recente declaração do primeiro-ministro sueco, segundo a qual o seu país poderá participar no plano de resgate à Grécia, apesar de a tal não estar obrigado, uma vez que não é membro da zona euro.

Este medo de não poder ser dono do seu próprio futuro anima hoje, igualmente, os debates na Dinamarca, um país a que se colou o rótulo, tal como ao Reino Unido, de membro mais cético dos Vinte e Sete. No entanto, os observadores não param de lembrar que, de facto, já há muito tempo que a Dinamarca é membro da zona euro. A verdade é que desde há alguns anos a coroa dinamarquesa evolui em estreita relação com o euro, comparável à que se devem submeter todos os Estados-membros da UE durante os dois anos anteriores à entrada na zona euro.

Os pedidos de referendo são uma grande exceção na atual União Europeia. Recentemente, só dois países recorreram a ele: a Letónia e a Polónia. No caso da Polónia, foi defendido pelo líder do partido da oposição Direita e Justiça, Jarosław Kaczyński. Mas, nas últimas eleições, foi derrotado pelo primeiro-ministro pró europeu Donald Tusk.

Novos membros da Eurozona?

Euro, tão perto e tão longe
Do Reino Unido à República Checa, os dez países da UE que não são membros da zona euro são muito diferentes. Mas nesta época de crise do euro, todos se interrogam sobre a oportunidade de adotarem, um dia, a moeda única.


Como devemos considerar o desejo do primeiro-ministro checo, Petr Nečas, de realizar no seu país um referendo sobre a adoção do euro? Como um “triunfo da razão” ou como um “murro nas costas” de Angela Merkel, a salvadora do euro? A República Checa tem de encontrar o seu lugar e o seu papel na crise que a Europa atravessa. Sob este aspeto é interessante examinar as diferentes abordagens a esta questão em todo o continente.

Simplificando um pouco as coisas, podemos dividir em quatro grandes grupos os dez países da UE que não fazem parte da zona euro: os que se opõem abertamente à adoção da moeda única (o Reino Unido, a Dinamarca e a Suécia); os que, apesar de ainda não o conseguirem, querem preencher as condições de adesão (a Lituânia, a Letónia e a Bulgária), os europeístas convencidos (a Polónia); e, por fim, os países “problemáticos” que, por causa da sua frágil situação económica e orçamental nacional nem sequer podem sonhar com essa possibilidade (a Roménia e a Hungria).

E assim se vai "comendo" o Euro até ao miolo!!!!!

Crise da dívida
Vaga de pânico em França
11 novembro 2011
Le Monde, 11 novembro 2011
“Depois da Grécia e da Itália, será a vez da França”? Le Monde interroga-se, na primeira página, sobre a qualidade da dívida soberana da França, depois de uma vaga de pânico lançada pelos mercados na quinta-feira, 10 de novembro, quando a distância entre as taxas das obrigações a dez anos da Alemanha e da França atingiram um novo recorde histórico ao ultrapassarem os 170 pontos base. Uma desproporção que reflete a diferença de tratamento dos investidores nos dois países, com notação AAA.

Para o Libération, a diferença explica-se pela "desvinculação em massa dos bancos do mercado das dívidas soberanas", com os investidores europeus a libertarem-se a todo o custo da dívida soberana dos países da zona euro considerados "em risco":

Esta debandada geral foi lançada pelos bancos alemães. O Banco da Alemanha, no final de julho, também bloqueou em oito mil milhões a dívida italiana, o que provocou a descida aos infernos da península. […] Aos poucos, o pânico generalizou-se e cada um tentou desembaraçar-se de ativos considerados frágeis. […] O pior é que esta desconfiança em relação à zona euro é alimentada, no essencial, pelos protagonistas dos mercados europeus – bancos, garantias de fundos de pensões, … – e não por instituições externas.

O nervosismo dos mercados quanto à dívida francesa foi ainda mais reforçado por um grande erro da agência de notação Standard&Poor's que, no dia 10 de novembro, difundiu, por engano, a alguns dos seus assinantes, uma "mensagem" a anunciar que ia baixar a nota da França. Uma informação desmentida pela “S&P”, refere Le Monde que recorda que, em meados de outubro, a Moody's "deu a primeira machadada no triplo A da França ao anunciar que tinha três meses para determinar se a perspetiva estável da notação ainda se justificaria", adianta Le Monde.

A Comissão Europeia, na pessoa do comissário europeu dos Assuntos Económicos, Olli Rehn, reagiu quinta-feira, dia 10 de novembro, à apresentação do segundo plano de austeridade, anunciado segunda-feira pelo primeiro-ministro francês François Fillon, ao pedir a Paris que tome "medidas suplementares para corrigir o défice público excessivo" em 2013. "Bruxelas estima que este défice irá registar apenas uma ligeira melhoria na ordem dos 5% do PIB dentro de dois anos, um resultado muito distante dos 3% que a França garantiu à Comissão Europeia", nota o Libération.