segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Bem-vindos à união de desiguais

Crise na zona euro

França e Alemanha foram em grande parte responsáveis por frustrar a decisão do primeiro-ministro grego, George Papandreu, em realizar um referendo sobre as condições do apoio financeiro da UE/FMI. Uma manifestação despudorada de poder que é mau presságio para uma união de iguais.

Não devia surpreender ninguém que a proposta de George Papandreu para realização de um referendo nacional sobre as últimas decisões de apoio europeu tivesse durado apenas 72 horas, antes de ser trucidada e enviada para os confins da memória por alemães e franceses. Angela Merkel e Nicolas Sarkozy não fizeram a menor tentativa de utilizar qualquer subtileza diplomática, ao assestarem as armas contra este problemático surto de democracia. O referendo grego não pode acontecer, insistiram – e portanto não acontecerá. Foi uma cena confrangedora.

Bem-vindos à nova Europa. É agora geralmente aceite que o avanço para a união fiscal, a par da monetária, é a única forma viável de a moeda única funcionar. O que significa que este tipo de agressões vai ser a norma, com a soberania nacional a tocar sistematicamente segundo violino perante os ditames não apenas do Banco Central Europeu, mas também de uma central europeia de Finanças, cuja criação agora é só uma questão de tempo. Ambos, é claro, dominados pela economia preponderante da união monetária, a Alemanha.

Apesar de a Grécia poder estar a ser vítima de um excesso de força, não está isenta de culpas neste cartório – muito pelo contrário. Trata-se de um caso perdido em termos económicos, com uma corrupção política avassaladora; não conseguiu cumprir as suas obrigações como membro da união monetária e viveu alegremente acima das suas possibilidades. Mas o que dizer da Alemanha? Tem cumprido as suas obrigações? Continua a insistir na moeda única e no Banco Central Europeu que a serve, conduzido de modo a ajustar-se às suas prioridades económicas e não às de uma mais vasta zona euro.

Mau presságio para a UE
É aqui que a verborreia sobre o grande projeto europeu colide com a dura realidade do poder. A Alemanha afirma os seus direitos de soberania porque tem poder económico para o fazer. Nações periféricas, como a Grécia e a Irlanda, são violentadas e postas para o lado. Hipnotizadas pela obsessão de aguentar o euro, não parece ocorrer às elites políticas da Europa que as sementes que estão a ser plantadas não são de uma união cada vez mais estreita entre iguais, mas de uma infeliz aliança com um parceiro dominante. Um mau presságio para toda a União Europeia.

Entretanto, a crise imediata atingiu já um tal ponto que o Fundo Monetário Internacional terá que desempenhar um papel importante em qualquer plano de recuperação. David Cameron tem razão em argumentar que, embora o Reino Unido não vá apoiar qualquer investimento direto do FMI na recuperação da zona euro, está disposto – como membro fundador do Fundo – a disponibilizar mais dinheiro, se necessário.

Toda esta trapalhada foi produzida pela própria zona euro, e deviam ser os seus membros a resolver o assunto. Mas perante o desastre, cada nação corre o risco de ver-se arrastada para o abismo.

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