segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Guardiões europeus da disciplina

Os argumentos racionais não permitem sequer compreender como chegámos a este ponto. Naturalmente que, se olharmos mais atentamente, percebemos que países como a Espanha ou a Itália não estão assim tão mal, bem pelo contrário, se tivermos em conta a subida das suas taxas de juro. E que a Alemanha, em especial, não é o exemplo de rigor que pretende fazer crer.

Nos primeiros prognósticos, a Comissão Europeia conta com uma taxa de endividamento de 81,7% do Produto Interno Bruto (PIB) para a Alemanha, em 2011. É claramente mais que o limite de 60% prescrito no Pacto de Estabilidade Europeia – o mesmo que o governo federal repete consecutivamente aos países do sul da Europa e que tanto gostaria de reforçar. Quem quer prescrever um endurecimento das regras melhor faria que as cumprisse primeiro.

Jean-Claude Juncker, chefe do Governo luxemburguês, tem direito a sentir-se indignado com o paternalismo alemão. Apesar da crise que atravessa, a Espanha, por exemplo, está muito mais próxima de cumprir o pacto de estabilidade, com uma taxa de endividamento de 69,6%, que a Alemanha. Até mesmo os holandeses (64,2%), ou os finlandeses (49,1%) estão mais bem colocados que os alemães para se arvorarem guardiões europeus da disciplina orçamental.

A única coisa que nos deixa confiar atualmente nas finanças públicas alemãs é o nível do défice relativamente baixo do país, ou seja, a dívida suplementar atribuída ao desempenho económico. O facto de ser muito inferior ao dos países em crise do sul da Europa tem múltiplas razões – mas nenhuma que esteja ligada à imagem de exemplo de rigor que o Governo dá de si próprio.

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