segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Crise da zona euro

Os esforços para salvar o euro não podem continuar indefinidamente contra a vontade dos eleitores.


Em praticamente dois dias, a Europa exigiu a cabeça de dois dirigentes políticos. Primeiro, o primeiro-ministro grego, George Papandreu, prometeu demitir-se e, depois, em Itália, Silvio Berlusconi fez o mesmo. Havia algum tempo que os dois dirigentes estavam numa situação difícil mas a causa imediata da sua queda é clara: o ultimato que lhes foi lançado pelos dirigentes da zona euro na cimeira do G-20, em Cannes, para que reformassem as respetivas economias… fosse como fosse.

Em Cannes, foram quebrados dois tabus. Pela primeira vez, os dirigentes da zona euro aceitaram a ideia de um dos membros entrar em incumprimento e sair do euro. (E, depois de o impensável se tornar possível, porquê ficar só pela Grécia?) Foi também a primeira vez que os dirigentes interferiram de modo tão decidido na política interna de outros países.

É verdade que a União Europeia influencia há muito as políticas nacionais. Recorde-se em que medida, no Reino Unido, as divisões entre os conservadores quanto à Europa contribuíram para a demissão de Margaret Thatcher, em 1990, até que ponto os novos membros se transformaram para aderir à UE, ou a reforma das finanças públicas realizada em Itália, em 1999, para o país poder entrar para o euro. E a crise fez cair os primeiros-ministros da Irlanda e de Portugal, depois de os dois países terem precisado de ajuda externa.

Ainda assim, alguma coisa mudou. Os europeus consideram-se uma família; discutem mas ninguém põe em causa o direito de um membro de fazer parte do clã. Mas, em Cannes, os dirigentes da zona euro deixaram claro que os membros da família podem ser abandonados ou mesmo deserdados. Há quem encare isto como um ataque às democracias nacionais por parte da elite europeia, quer não eleita, quer autoproclamada (como no caso da dupla franco-alemã "Merkozy", Angela Merkel e Nicolas Sarkozy). Muito foi escrito sobre a subjugação da Grécia, o berço da democracia, durante a segunda ocupação alemã.

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