quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Todos os olhos estarão postos na Alemanha

Ainda assim, o futuro da Europa não se decidirá na periferia greco-britânica mas, como é lógico, no seu núcleo. O Governo alemão continua obstinadamente a fazer uma leitura da crise que torna impossível a sua solução, uma vez que, como ficou demonstrado, a crise exige uma alteração das normas que regem a zona euro e, muito especialmente, um novo papel do BCE e a emissão de euro obrigações.

Em Berlim, a chanceler Merkel agarrou-se conscientemente não a um mas a dois mastros: o de uma opinião pública muito reticente à união monetária e ao do Tribunal Constitucional, hostil ao projeto de integração europeia. Mas a causa das suas ações não é essa opinião pública, por trás da qual Merkel se escuda, e, sim, algo que ela própria e o seu partido estimularam, infundindo nos alemães, contra todas as provas empíricas, a convicção de que euro não só foi um mau negócio para a Alemanha mas também, como parece acreditar o seu Tribunal Constitucional, é uma ameaça para a democracia alemã.

Numa situação como esta, uma vez que o BCE mudou de rumo e decidiu salvar o sistema financeiro, todos os olhos estarão postos na Alemanha, tentando discernir em que medida Berlim continuará a liderar a Europa com base nas suas dúvidas, reticências e medos ou a partir de uma visão construtiva e a longo prazo do continente. Esqueçamos, portanto, o calendário maia: vai ser em Berlim que Cassandra se vingará ou será desmentida.

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