quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Demasiado pouco, demasiado tarde

Quais foram as consequências da crise do euro? A mais visível e imediata foi a devastação, em termos de emprego e prosperidade, que generalizou a desconfiança no futuro do Estado de bem-estar. A crise também pôs em causa a autoestima democrática das nossas sociedades, sujeitas a forças de mercado em relação às quais estas sentem não ter qualquer controlo. E, apesar de ser ainda cedo para se avaliar o impacto psicológico, a história diz-nos que as sociedades que têm medo e se sentem inseguras tendem a fechar-se sobre si mesmas, a recear o que as rodeia, a abrir as portas ao populismo e a sacrificar a liberdade no altar de uma maior segurança.

Igualmente importantes foram as fragilidades que a crise pôs a descoberto. A união monetária, que pretendia ser tão sólida como todos os imponentes edifícios que figuram nas notas de euro mas que não existem na realidade, revelou-se incapaz de se esquivar em condições meteorológicas adversas, como se tivesse sido concebida para navegar apenas com bom tempo.

E, ao mesmo tempo, o delicado mas imprescindível tecido de identidade sobre o qual assenta a construção europeia também se ressentiu: a solidariedade social e projeto comum, ancorados tanto numa visão do passado como na de um futuro comum, foram postos em dúvida e, até, substituídos pelos piores preconceitos e estereótipos culturais, que julgávamos terem sido superados, entre Norte e Sul, Leste e Oeste, católicos e protestantes. De tudo isto resultou uma gestão da crise dominada pelo "demasiado pouco, demasiado tarde", que manteve o euro à beira do precipício e os cidadãos à beira do enfarte, durante quase todo o ano.
Mas, atenção o perigo de enfarte para os cidadãos europeus continua latente e presente!

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