quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

OLHARES SOBRE A EUROPA Ambicionando permanecer otimista

O escritor Tim Parks defende uma Europa construída sobre uma visão partilhada, que se entusiasme na reformulação do mundo, em vez de lutar por mantê-lo como está.

Os desafios multiplicam-se e a Europa permanece preconceituosa e confusa. Independentemente dos efeitos palpáveis das alterações climáticas, da diminuição dos recursos naturais, da imigração maciça, do Islão militante, do declínio norte-americano e do reforço da China. É claro que o nosso modo de vida atual é insustentável. Têm de ser feitas enormes mudanças, as quais, pela primeira vez, terão que ser conduzidas e negociadas a nível global. É difícil imaginar a Europa, tal como funciona presentemente, a procurar a unidade, a visão e a coragem necessárias para dar um contributo válido. A alternativa, desgraçadamente, é a guerra.

Ao longo das décadas de 1980 e 1990, numa altura em que a Comunidade Europeia se expandia e consolidava, eu tinha reservas quanto ao processo. Vivi toda a vida adulta em Itália, pelo que não era o típico cético inglês, desejoso de preservar os cacos do imperialismo britânico. Era a retórica fóbica e o tom derrotista que eram tão desinspiradores. Com receio de nova guerra entre nós, tivemos que nos amarrar num enleio de regras comerciais e regulamentos cada vez mais burocratizados; com receio das ameaças do exterior, tivemos que formar um bloco contínuo de defesa coletiva, contra os produtos agrícolas de África, a manufatura da China, o império russo a leste.

As nações juntaram-se para formar a Europa, não como convertidos a uma ideologia empolgante, mas como pragmáticos que negoceiam a rendição. Convencidas de que um destino nacional autónomo era um delírio antiquado, agarraram-se a todos os fragmentos de soberania que conseguiram. O lado tranquilizador foi que a Europa nunca atraiu a lealdade visceral que pode levar as pessoas a morrer por uma bandeira; a Comunidade não se pode vangloriar de nenhum mártir. Por outro lado, o seu único grande sucesso foi burocrático; não houve nunca um orgulhoso centro de poder eleito a tomar conta do nosso futuro coletivo. Enquanto a retórica falava de iguais colocando o seu destino em comum, as decisões emergiam com evidente manipulação dos antagonismos e alianças entre França, Alemanha e Grã-Bretanha. Nunca foi fácil ser um crente.

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