quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O ambiente geral é conservador e mesquinho

Em Itália, a hipocrisia e o oportunismo do processo eram inegáveis: a Europa produzia uma retórica de devoção e progresso que se substituía a qualquer debate real.

Responsabilizavam-se as suas instituições por decisões económicas duras, que os fracos governos de coligação não podiam de outra maneira impor. Os seus fundos iam sendo usurpados e defraudados, as suas regras postas de lado quando não serviam.

Apesar de se gabar do seu europeísmo, a Itália, como todos os outros países, vê-se como uma entidade autónoma, que ordenha o que pode do grupo. O egoísmo parece realmente crescer à medida que vão sendo feitas cedências na identidade soberana. A única vindicação de maior honestidade da parte do Reino Unido está em nunca ter escondido este cinismo. A longa insistência de Blair/Brown em permanecer fora do euro – “entraremos quando fizer sentido fazê-lo” – pode parecer de um pragmatismo inteligente, mas não anima as almas. Nem os mercados. Abraçar uma ideia com entusiasmo ou, em alternativa, rejeitá-la por princípio são decisões que alteram as condições económicas e estimulam todo o tipo de comportamentos positivos.

A ambivalência sobre onde se situa hoje o poder na Europa afeta todas as áreas da vida. Nenhum país se vê como decisivo a nível internacional e nenhuma instituição expressa a vontade coletiva. As possibilidades de uma visão arrojada e de alterações de vulto não se perfilam no horizonte. Ninguém é responsável porque ninguém pode ser.

O ambiente geral é conservador e mesquinho: vamos lá preservar a qualquer preço o nosso modo de vida privilegiado; vamos lá aproveitar o que pudermos enquanto pudermos. Ouça-se o discurso dos grupos de pressão dos automobilistas quando o preço da gasolina sobe um centavo e toma-se o pulso à situação. É um espírito de negação.

Realidades como as alterações climáticas são aceites a nível intelectual, mas ignoradas na prática. Passam-se numa dimensão à parte, onde somos totalmente impotentes. Só temos de lutar contra as subidas de preços, nada deve alterar os nossos padrões de vida. Ora bem, o que temos efetivamente que fazer é alterar mentalidades e padrões de vida muito acima das nossas possibilidades.

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