quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Como chegar a uma mudança de rumo?

Um resultado disto é que as mentes mais brilhantes do continente, os mais inteligentes e iluminados, sejam novos ou velhos, não encaram participar no serviço público como uma carreira. No melhor dos casos, envolvem-se de tempos a tempos num ou outro movimento de protesto condigno. Mas a maioria retira-se para as suas vidas pessoais, pondo de lado o coletivo. Este abandono do talento do espaço público é sintoma de decadência. Pode originar algumas boas produções. Mas não nos liberta.

Contudo, ansiamos por permanecer otimistas. Talvez a própria premência dos problemas acabe por acordar-nos da desgraça do nosso torpor atual. Que tipo de Europa gosto de imaginar para o futuro? Principalmente, uma Europa que se veja como uma comunidade construída sobre uma visão partilhada, uma Europa que se empolgue com a redefinição do mundo, em vez de lutar para o manter como está, uma Europa corajosa e positiva, em vez de fóbica e negativa. Tal comunidade encontraria uma forma de se expressar politicamente, mesmo através do labirinto das instituições que presentemente toldam o exercício de poder. Podia até tornar-se suficientemente sedutora para levar os seus imigrantes a uma integração entusiástica, em vez da atual coabitação relutante.

Como poderá chegar-se a uma tal mudança de rumo, de sentimentos? Não faço ideia e tenho pouca fé. Seguro é que os europeus devem abolir definitivamente a noção de que são de algum modo superiores, de que a sua cultura já expressou o auge da civilização humana e da realização artística. Esta conceção vigora e é profundamente corrosiva. Mais crucial ainda é abandonar a orientação da vida para o desejo individual de acumular bens e uma companhia amável no seu pequeno castelo. No fundo, a meu ver, trata-se de uma mudança profunda da perceção do que seja o bem-estar e de como a vida deve ser vivida. Abertura de espírito, generosidade e tolerância são essenciais. Mas é melhor parar por aqui a lista dos desejos. Ao expressar estas ideias, uma pessoa sente-se ingénua e fútil. Não vai acontecer. Falar sobre o futuro da Europa equivale a candidatar-se a uma séria depressão.

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