quinta-feira, 19 de abril de 2012

GLOBALIZAÇÃO Não é preciso ter medo da China O desenvolvimento da China, a segunda potência económica mundial, preocupa os outros grandes atores mundiais, como os Estados Unidos e a Europa. No entanto, o seu crescimento também beneficia as empresas europeias e, como o Japão nos anos 1970-1980, a China não representa uma ameaça. Desde há pouco tempo, a China é oficialmente a segunda potência económica do planeta. No segundo trimestre, o país produziu apenas um pouco mais bens e serviços do que o Japão. Só os Estados Unidos têm ainda muito melhor desempenho, mas Washington não deve ter grandes ilusões. Em 2027, a economia americana, que tem um crescimento médio de 4,25% por ano, terá também de se inclinar perante a economia chinesa, cujo crescimento nos últimos 10 anos raramente se situou abaixo dos 10%. Neste momento, o país produz cerca de 100 vezes mais bens e serviços do que em 1978. O que representa um crescimento médio de um pouco mais de 14% por ano – números que chocam a imaginação. E que até fazem medo a muitos. O maior exportador do mundo A piada ["Deus fez o céu e a terra e o resto é feito na China"] não é completamente destituída de receio. A China é, neste momento, o maior mercado automóvel do mundo. Desde o ano passado que, todos os meses, são ali vendidos mais veículos do que nos Estados Unidos. Atualmente, o país é também o maior exportador do mundo, tendo ultrapassado a Alemanha. Nenhum país compra mais aço e cobre no mercado internacional de matérias-primas e, recentemente, concluiu-se que a China consumia mais petróleo do que qualquer outro país. Em vários domínios, a China caminha implacavelmente para a posição cimeira. E, quando não dispõe da tecnologia necessária, limita-se a comprá-la, como se viu recentemente com a aquisição da Volvo pela empresa chinesa Geely. Mas haverá motivo para ter medo? Não tivemos já medo, nos anos 1980, quando a economia japonesa ganhava inexoravelmente terreno, enquanto, tanto na Europa como na América, o setor automóvel parecia ter sido riscado do mapa? A verdade é que as marcas francesas e alemãs recuperaram, reforçando os seus pontos fortes – design, tecnologia, imagem de marca – e trabalhando para melhorar os seus pontos fracos – a qualidade e a produtividade. O desafio era enorme mas as marcas europeias, em especial, saíram claramente mais fortes da luta. Um país em vias de desenvolvimento Agora, com a China, passa-se a mesma coisa. Este país inunda o mundo de têxteis, móveis, produtos eletrónicos, vestuário de desporto – tudo barato. O que não deixa de ter vantagens. Sem a China, as nossas T-shirts, os nossos sapatos de desporto e as engenhocas da Apple custariam claramente mais dinheiro. A curto e a médio prazo, devemos congratular-nos com o espantoso crescimento chinês. Sem ele, a economia mundial ainda estaria num impasse. A Organização para a cooperação e o desenvolvimento económico (OCDE) considera que a China representará este ano um terço do crescimento mundial. Para já, a produção chinesa é ainda muito complementar da produção ocidental. Os produtos que requerem muito trabalho manual relativamente simples são fabricados na China. No entanto, quando as coisas são um pouco mais complexas, a produção mantém-se no Ocidente. Mas por quanto tempo mais? Num país como a China, há todos os anos mais novos engenheiros diplomados do que nos Estados Unidos e na Europa juntos. Gigante com pés de barro É também aí que reside a grande diferença em relação ao Japão dos anos 1970 e 1980. Muito simplesmente há 10 vezes mais chineses do que japoneses e isso confere ao país um potencial muito maior do que o de qualquer outro. Contudo, não há motivo para preocupações, porque, "de outra forma, a Bélgica nunca poderia ter sobrevivido entre vizinhos poderosos e muito maiores, como a Alemanha e a França". Para já, a China é ainda um gigante com pés de barro. É verdade que, desde ontem, o país é a segunda economia do mundo – mas é também um país gigantesco. No que se refere ao PIB por habitante, verifica-se que a China figura em 127.º lugar da classificação do Banco Mundial, depois de Angola e do Azerbaijão. Por conseguinte, a China continua a ser um país em vias de desenvolvimento. Segundo os economistas, é por isso que a probabilidade de a China poder manter por muito mais tempo o ritmo de crescimento dos últimos 30 anos parece reduzida. No ano passado, algumas greves dispersas resultaram em aumentos de salários significativos. Esses aumentos fazem-se em detrimento da competitividade e, portanto, abrandam o crescimento.
Os chineses no resgate da SAAB “Os chineses disseram sim”, após o anúncio pela Spyker, a empresa holandesa proprietária da SAAB, do acordo de parceria estratégica assinado com o fabricante de automóveis chinês Hawtai. Este, prometeu 150 milhões de euros à construtora de automóveis sueca, cujos problemas financeiros se agravaram nas últimas semanas, a tal ponto que a produção foi interrompida no início do mês de abril. O acordo também prevê parcerias na produção, de intercâmbio tecnológico e de distribuição. “Esta parceria assegura-nos o financiamento a médio prazo e permite-nos entrar no mercado chinês”.
Os milhões de Pequim não têm preço “Não há muito tempo, a visita de um primeiro-ministro chinês seria sinónimo de protestos e debates sobre os direitos do Homem e a repressão no Tibete”. No entanto, “agora, a presença de Wen Jianao na Hungria, no Reino Unido e na Alemanha é vista apenas sob o prima da importância do gigante asiático para a economia europeia. E o convidado tomou mesmo a liberdade de prevenir o seu anfitrião sobre os riscos de querer impor, pelas armas, a paz na Líbia. Previdentes, na véspera da visita, os chineses libertaram alguns dissidentes, entre os quais o artista Ai Weiwei”. “Quando Wen Jiabao visitou o reino Unido pela primeira vez, em 2009, um jovem atirou-lhe um sapato durante uma conferência na Universidade de Cambridge. Hoje, dois anos e uma crise depois, Wen prometeu, em Budapeste, que a China não deixará cair a Europa, visitou uma fábrica de automóveis chineses em Birmingham como se estivesse em casa e a 28 de junho discutirá com Angela Merkel as vicissitudes do euro. Tudo isto recheado com milhares de milhões de euros de contratos.” O facto de Pequim ter comprado títulos de dívida pública dos países em dificuldades da zona euro, como a Espanha, a Irlanda, Portugal e Grécia, tal como a sua sede de tecnologia, desperta a simpatia e o sentido de negócio da Europa. Por isso, “[a Europa] está encantada por poder ajudar [a China]. Mesmo que tenha de tapar o nariz e virar as costas sempre que for necessário. A isto se chama pragmatismo, e o pragmatismo sempre existiu”
Por vezes, a Europa colonizou pedaços da China. Agora, é a China que está a colonizar pedaços da Europa. Informalmente, é claro, e de uma forma muito mais bem-educada do que nós o fizemos. O crescimento da China tanto ilumina como explora o relativo declínio da Europa. Durante a sua visita à Europa, o primeiro-ministro Wen Jiabao vai visitar a Alemanha, o Reino Unido e a Hungria. Porquê a Hungria? Porque, por um lado, tem atualmente a presidência rotativa da UE mas, também, porque a China ali tem grandes investimentos e quer ter ainda mais – como acontece um pouco por todo o lado no sul e no sudeste da Europa. Um estudo recente do Conselho Europeu de Relações Externas (ECFR) estima que 40% do investimento chinês na UE está em Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Europa de Leste. Porquê tanta atenção à periferia? Bom, porque há investimentos prometedores a serem feitos lá e porque estas pequenas e periféricas economias são a porta de entrada mais fácil para um mercado único europeu de 500 milhões de consumidores. O mercado da UE está muito mais aberto aos chineses do que o chinês está aberto aos europeus. Investir muito nestes países também traz recompensas políticas. Não é excesso de cinismo ver Pequim construir uma espécie de lobby da China dentro das estruturas de tomada de decisão, onde o Estado mais pequeno é, pelo menos teoricamente, exatamente igual ao maior. Com a maior reserva de divisas do mundo – cerca de três biliões de euros, atualmente – a China pode comprar metade dos bens públicos gregos a privatizar, de uma só vez. A Grécia deverá ter cuidado com estes presentes chineses? Bem, quem pede não escolhe. Como disse, com uma delicadeza requintada, um geoestratega chinês a um dos autores do relatório do ECFR: “Vocês precisam do nosso dinheiro”. Acreditar no comércio livre Não devemos ser excessivamente paranoicos sobre este assunto. Se acreditamos no comércio livre e nos mercados, temos de praticar o que defendemos. No entanto, não há dúvida de que o poder económico chinês está a crescer na Europa – e a traduzir-se em influência política. Alguns dos vizinhos asiáticos da China sofreram muito mais com o crescimento da China. Enquanto alguns, na Europa, ainda sonham com um mundo pós-moderno de soberania partilhada, em que a UE seria um modelo de governo global, a geopolítica da Ásia está cada vez mais parecida com a da Europa do século XIX – em vez de se assemelhar à do fim do século XX. Incansáveis poderes soberanos lutam pela supremacia, constroem navios e armas, disputam o controlo de territórios (como é o caso de Caxemira) e do mar. Os interesses e as paixões nacionais são um trunfo para a interdependência económica. Para além das dimensões económica e militar do poder emergente da China, há ainda uma terceira dimensão: política, cultural ou de “suave” poder. Yan Xuetong, um dos principais autores chineses sobre relações internacionais, acaba de lançar um fascinante novo livro intitulado “Antigo Pensamento Chinês, Moderno Poder Chinês”. Explora os ensinamentos do pensamento político na era pré-Qin – isto é, anterior a 221 AC – no papel que a China hoje tem no mundo. Yan defende que há duas ideias antagónicas sobre o poder do Estado nesses antigos pensadores chineses: hegemonia ou aquilo a que chamam “autoridade humana”. Com a “autoridade humana”, a sabedoria, a virtude e a bondade dos governantes não só satisfazem o seu próprio povo como atraem outros povos, espalhando assim o seu modo de agir além das suas próprias fronteiras. Apesar de não parecer completamente adverso à mera hegemonia, Yan defende que a China deve aspirar a este género de poder mais ambicioso – “renovando constantemente o sistema político”, entre outras coisas. Apesar das suas palavras serem um pouco elípticas neste aspeto, também sugere que “a China deve fazer do princípio moral da democracia um dos princípios que promove”. Há que dizer que a China de 2011 está muito longe desta “autoridade humana”. Começando pelo grande reformador Deng Xiaoping, pode moralmente reclamar que tirou milhares de pessoas da pobreza. Aos olhos dos países em vias de desenvolvimento, este modelo de capitalismo de Estado é um desafio ideológico ao modelo, agora em crise, do capitalismo liberal de mercado livre. O homem que está a chegar à Europa, Wen Jiabao, tem um outro pensamento, verdadeiramente atraente, notavelmente aberto a debater as críticas estrangeiras e é muito popular, no seu país, entre a muito crítica juventude chinesa. Mas, nos últimos anos, um Partido Comunista nervoso, a caminho da transição de liderança de 2012, voltou-se para uma fórmula que nada tem de humana – do tratamento dado às minorias étnicas do país à prisão do artista Ai Weiwei. A sua reação ao espetro da Primavera Árabe foi mais ansiosa do que a maior parte dos observadores achou possível. Nenhuma das três faces do poder chinês – económica, militar e política – pode ser separada das outras. Tudo está a mudar. É desejável o género de compromisso crítico que tanto David Cameron como Angela Merkel esperam ter com o admirável senhor Wen. A dura verdade, no entanto, é que a influência externa no desenvolvimento destas superpotências emergente será sempre limitada. Por isso, precisamos de por a nossa casa em ordem, vigiá-la de perto, e ter esperança.
INDÚSTRIA E COMÉRCIO SAÚDE Lóbis controlam segurança alimentar europeia 15 novembro 2011 SÜDDEUTSCHE ZEITUNG MUNIQUE Comentar3 Text larger Text smaller Send Print Chuck Keeler A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar decide o que colocamos no nosso prato. Mas as suas ligações com a indústria são muitas – e os consumidores estão a pagar. A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) foi criada para proteger os consumidores. É a sua missão. Mas, no entanto, o pessoal desta agência, que deveria decidir com independência sobre os novos produtos a admitir no mercado, trabalha de perto com a própria industria alimentar. Documentos desta autoridade revelam que o presidente da comissão de Nutrição, Albert Flynn, também trabalha para a empresa americana, Kraft. Até março de 2011, Jiri Ruprich, membro da administração da EFSA, trabalhou para a Danone na República Checa, ao passo que Carlo Agostini, membro da comissão desde 2000, recebeu pagamentos de empresas como a Nestlé, a Danone, a Heinz, a Hipp, a Humana e a Mead Johnson para falar em conferências. Atuar em nome da indústria alimentar Isto é alarmante na medida em que o que é, ou não, colocado no prato dos consumidores europeus é determinado pela autoridade máxima europeia de supervisão alimentar. Com sede em Parma, na Itália, 450 trabalhadores e um orçamento anual de, pelo menos, 73 milhões de euros, a EFSA é o principal responsável pela avaliação dos riscos alimentares na Europa. Os analistas acusam-na agora de não admitir os conflitos de interesse, apesar de vários escândalos. "É simplesmente inaceitável que os representantes de uma indústria, cujos produtos devem ser avaliados, estejam envolvidos precisamente com a agência que supostamente deverá avaliá-los". O maior obstáculo à reforma são os regulamentos da UE existentes. Segundo estes, os membros da EFSA não estão proibidos de atuar em nome da indústria alimentar, desde que admitam os conflitos num documento de declaração de interesses. Que este procedimento está longe de ser uma atuação independente é demonstrado pelo exemplo de Albert Flynn, da Irlanda, que lidera a comissão da EFSA para os Produtos Dietéticos, Nutrição e Alergias. Sob a sua presidência, foi publicada uma decisão particularmente delicada, relacionada com a aprovação de um produto da Kraft Foods Europe, "Biscuits for Breakfast", em 21 de julho de 2011. O facto de o nutricionista ser, ao mesmo tempo, membro do conselho consultivo da Kraft Foods, evidentemente, não perturbou a administração. Praticar aquilo que pregam A comissão de Flynn decidiu aprovar o pedido da Kraft para uma maior proporção de amidos de digestão lenta (ADL) no seu produto. Segundo o fabricante, os ADL desaceleram a subida dos níveis do açúcar no sangue após a ingestão, o que representa uma boa notícia para os diabéticos. Para os fabricantes de alimentos, tudo tem a ver com dinheiro e quota de mercado. O argumento de que os alimentos proporcionam uma saúde melhor é uma ferramenta de marketing perfeita. Quando um fabricante consegue convencer um consumidor acerca de um benefício específico para a saúde contido num produto alimentar, está a impulsionar também a sua quota de mercado. A base para as avaliações da EFSA é o Regulamento para a Nutrição e Saúde (RNS), em vigor desde 2007. Os alimentos com alegações nutricionais só podem ser comercializados se esses argumentos forem comprovados cientificamente. É responsabilidade da ASAE investigar essas alegações. No entanto, existem fortes ligações não só entre a EFSA e os fabricantes, mas também com organizações relacionadas com esta indústria. Flynn, por exemplo, é também membro de grupos de trabalho científicos do grupo de interesses International Life Sciences Institute Europe [Instituto Internacional de Ciências da Vida Europa]. Entre os membros deste grupo, encontram-se empresas como a Monsanto, a Coca-Cola, a Nestlé, a Unilever, a Danone, a Bayer e a Kraft. Outros peritos da EFSA aceitaram cargos no instituto, que foi colocado na lista negra de grupos de interesses pela Organização Mundial de Saúde. Na página de internet da EFSA pode ler-se que as suas atividades são definidas por valores fundamentais como a “independência, a abertura, a transparência e a responsabilidade”.
INDÚSTRIA E COMÉRCIO INDÚSTRIA AUTOMÓVEL Travagem a fundo para os construtores europeus O mercado automóvel europeu ainda não parou de registar números desanimadores: -9,7% para o mês de fevereiro. Os construtores franceses encontram-se na primeira linha deste “desaparafusamento”. A Renault registou uma queda de 27,7% enquanto a Peugeut baixou 20,9% e a Citroën 12% (grupo PSA). Uma situação que deverá sustentar a guerra das rebaixas entre os grandes grupos que frequentemente vendem 20% abaixo do preço de catálogo. Em Itália a situação não é melhor: as vendas da Fiat baixaram cerca de 16,6 % em fevereiro de 2012 em relação a fevereiro de 2011. A 16 de março, o CEO do grupo Sergio Marchionne deverá reencontrar o chefe do governo italiano, Mario Monti, a fim de discutir aquela que será a estratégia da Fiat para os próximos anos.
UNIÃO EUROPEIA Nove países querem adotar a taxa Tobin “Os países da UE querem impor a taxa sobre as transações financeiras". Os ministros das Finanças de nove países – Alemanha, França, Espanha, Áustria, Bélgica, Finlândia, Portugal, Grécia e Itália – pediram numa carta comum à presidência dinamarquesa da UE para “superar todos os obstáculos” à implementação da taxa Tobin até julho de 2012. Segundo os ministros, esta medida será, de facto, "um instrumento crucial para garantir um contributo justo do setor financeiro aos custos da crise financeira". A iniciativa não é inédita. A Comissão Europeia já tinha proposto uma taxa sobre a troca de ações, produtos derivados e outros produtos financeiros no passado mês de setembro, uma proposta imediatamente rejeitada pelo Reino Unido e a Suécia. Desta vez, os ministros afirmam querer procurar “alternativas”, caso não seja elaborada uma solução até meio do ano. O número nove transmite uma mensagem muito clara: podemos fazê-lo sozinhos. [De acordo com os tratados europeus] os Estados podem avançar sozinhos numa cooperação reforçada, caso consigam, no mínimo, nove membros a favor. Daí a carta curta se ler quase como uma forte ameaça para os colegas que hesitam. Uma vez que todos os envolvidos já sabem que a taxa muito provavelmente será introduzida.

Objetivo: 17 milhões de empregos

"UE lança programa para aumentar emprego” como reação ao número recorde de 10% de desempregados na Europa.
Perante as violentas críticas contra a política de austeridade na Europa, a Comissão Europeia agarra-se a um bastião nacional: a política social e o mercado de emprego, noticia o diário de Munique.
O comissário encarregue do dossiê deverá apresentar esta semana um “pacote para o emprego” que terá como objetivo a criação de 17 milhões de novos postos de trabalho na Europa até 2020.
As principais medidas desse plano são a total abertura dos mercados de trabalho, tanto público como privado, a todos os cidadãos europeus – incluindo romenos e búlgaros –, “salários mínimos adaptados” que permitam aos trabalhadores viverem do seu ordenado, reconhecimento dos respetivos diplomas e diminuição dos impostos sobre o trabalho.
A Comissão espera maior potencial de setores como a saúde, os cuidados a pessoas idosas, o desenvolvimento económico sustentável a nível climático e as tecnologias de informação. Resta saber se os Estados permitirão uma tal ingerência nos seus assuntos sociais: o plano será discutido durante a cimeira europeia do próximo mês de junho.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Ambições políticas e económicas

Brasil e China são os dois grandes gigantes, ambos com ambição de potência global. Mas são casos diferentes. Para o Brasil, cujo investimento em Portugal tem décadas, a diferença está no volume e na entrada em força do Estado brasileiro, política mas também empresarialmente.

O Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) apoia ativamente o processo de internacionalização das empresas brasileiras, que olham para Portugal como um mercado-trampolim para a Europa. Por outro lado, o alvo são sobretudo empresas "interessantes" com mercados globais, como é o caso da Cimpor (onde entraram em 2010), da EDP e até da RTP, cuja presença nos PALOP pode ser um atrativo.

Quanto à China, conta a oportunidade de entrar em mais um mercado europeu (e vulnerável), com ligações únicas à África lusófona, aceder a tecnologias e (porque não?) conseguir contornar ou impedir algumas barreiras protecionistas.

"Não se pode esquecer também o objetivo chinês de agilizar as suas empresas no mercado global, num processo de aprendizagem e captação de quadros".

O interesse na EDP é exemplar. Empresa líder nas renováveis (e a China tem um vasto plano de reforço de eficiência energética) com presença forte no mercado americano e brasileiro, a EDP é quase um íman. De uma assentada, alcançam dois fins: ganham competências técnicas e entram em mercados onde o seu peso já começa a suscitar anticorpos.

A Portugal, cujo interesse prioritário é neste momento "encaixar receita", não será porém indiferente quem ganha esta corrida. Mas o que parece estar a desenhar-se, é que, de uma forma ou de outra, brasileiros, chineses e angolanos serão quem vai dar as cartas nas últimas privatizações portuguesas.

Os países que têm dinheiro

A questão, portanto, é: porquê estes países e não outros? A resposta, à partida, é simples: são os que têm dinheiro. É uma questão de preço e, para colossos como o Brasil ou a China, são mesmo vendas a preço de saldo. Angola é um caso à parte, que envolve outro tipo de interesses além dos financeiros, bem como a Alemanha e o Reino Unido.

"O investimento angolano em Portugal tem uma componente política forte, como afirmação daquele país no mundo lusófono de onde no futuro espera tirar dividendos económicos".

Mas esta é também uma forma de legitimar os capitais angolanos, menos escrutinados em Portugal, e de entrar à boleia em outros mercados. O risco, dada a falta de transparência, é o de nunca se saber claramente qual é a identidade de quem investe. Angola investe, mas só dinheiro. Não há know-how associado.

Com a Alemanha (que concorre à EDP) e a quem o primeiro-ministro estendeu o tapete, o processo é outro. Se a este país pode interessar associar-se a Portugal em África, onde tem escassa penetração, para Portugal é um "um negócio" europeu, uma maneira de agarrar os alemães e comprometê-los com o país nesta fase difícil da crise europeia. "É uma visão de curto prazo". "Portugal está refém da Europa e interessa-lhe o mais possível estabelecer ligações fora do continente para recuperar a sua autonomia".

Portugal, um prémio cobiçado pelos países emergentes

Do lado de lá estão gigantes como as estatais Eletrobras e Cemig (Brasil), a China Three Gorges e State Grid (China), ou ainda a Sonangol (Angola). Todas oriundas de países de economias em crescimento acelerado e potências emergentes. Do lado de cá, estão empresas de dimensão modesta à escala mundial, com acionistas descapitalizados, num país em dificuldade extrema, a quem um acordo de assistência financeira impôs um agressivo pacote de privatizações.

Brasil, China, Angola – e também Alemanha e Reino Unido – são os países de origem dos principais candidatos, para já, às privatizações em curso ou à venda de ações ou participações do Estado.

EDP e REN são as operações que estão em cima da mesa, mas para 2012 está prevista a privatização da Galp, TAP, ANA, CP Carga e CTT. Não por acaso, são as empresas que mais se internacionalizaram e cujo valor é realizado em grande parte no exterior que suscitam maior interesse.

Pouco a pouco, Angola faz o seu ninho

Bancos, sociedades petrolíferas, meios de comunicação social, empresas de telecomunicações... aguçado pela crise, o apetite dos angolanos pelas empresas portuguesas parece insaciável. Por um lado, a falta de dinheiro, por outro, a sua abundância podem explicar esta tendência que está longe de abrandar. Mas não só.

Entram devagar, através da compra de pequenas participações no capital de uma empresa. Depois, esperam que a empresa ou algum outro acionista tenha necessidade de dinheiro, algo que não falta aos grandes investidores angolanos.

Aos poucos, vão reforçando as suas participações até conseguirem ascender a uma posição dominante, nomear administradores e assumir o poder.

A banca, símbolo inequívoco de poder e Angola tem posições significativas em vários instituições financeiras portuguesas, não é o único alvo do interesse africano. Outros setores são objeto da atenção de cada vez mais investidores, próximos do poder político angolano, concentrado no Presidente José Eduardo dos Santos, mas com estratégias próprias, menos concertadas do que possa parecer à primeira vista.

Há tomadas de posição na comunicação social, na energia e até no setor agroindustrial. Nos últimos anos, têm passado para mãos angolanas várias quintas, em quase todo o território nacional, desde o Douro até ao Algarve.

"O vinho e o azeite são produtos com uma grande procura e que atingem preços exorbitantes em Luanda. Por essa razão, alguns angolanos decidiram comprar quintas produtoras, em Portugal, e, deste modo, controlar todo o processo de um negócio garantido", diz um empresário de import-export.

O caso mais emblemático da estratégia angolana para Portugal é o BCP. Não foi muito difícil para a Sonangol comprar, em 2008, assim que estoirou a crise, 469 milhões de ações do banco, correspondentes a 9,99% do capital. No final do ano passado, a posição da petrolífera era de 12,44 por cento. Já na condição de maior acionista, tomou as rédeas da instituição bancária e substituiu a estrutura administrativa.

CRISE DO EURO Austeridade provoca emigração na Irlanda e em Portugal

Desde a sua conceção que a UE revelou ser um paraíso para refugiados de guerra, perseguições e pobreza noutras partes do mundo. Mas como a UE enfrenta aquilo a que Angela Merkel chamou a sua pior hora desde a II Guerra Mundial, as circunstâncias parecem estar a mudar. Há uma nova leva de migrantes a sair do continente. Poderá transformar-se em torrente se a crise da dívida continuar a piorar.
Os países mais afetados são a Irlanda, a Grécia e Portugal, todos eles alvo de ajuda financeira da UE/FMI e de orçamentos de austeridade draconiana nos últimos dois anos. “Na Irlanda, onde 14,5% da população está desempregada, a emigração tem vindo a aumentar continuamente desde 2008, altura em que o Lehman Brothers faliu e o mercado imobiliário irlandês atingiu o ponto de rutura. Entre abril de 2010 e abril de 2011, saíram da Irlanda 40.200 cidadãos com passaporte, excedendo os 27.700 do ano anterior, de acordo com dados oficiais.”

Pelo menos 10 mil portugueses partiram para a antiga colónia de Angola e para Moçambique e o Brasil. Segundo dados do governo brasileiro, o número de portugueses no país passou de 276 mil em 2010 para cerca de 330 mil.

Fuga de cérebros tende a aumentar

Num país preparado para um quinto ano de recessão, com o desemprego a atingir um recorde de 18% – e um índice sem precedentes de 42,5% de jovens sem emprego – a fuga de cérebros terá mesmo de aumentar. A economia australiana, em contrapartida, prevê um crescimento de 4% em 2012. "As pessoas dizem muitas vezes que não querem que os filhos cresçam lá".

Tessie Spilioti está no grupo dos que já se instalaram na Austrália. "Não há sítio no mundo melhor do que a Grécia e todos os dias tenho saudades do meu país e dos meus amigos", disse Spilioti, que passou a infância na Austrália, antes de se mudar para Atenas, há 27 anos. "Mas a Austrália é um país positivo. É uma terra farta, onde se sente a abundância e as oportunidades", afirmou com entusiasmo. "E isso é o que falta completamente na Grécia. As pessoas estão em pânico, o ambiente é mau, o clima psicológico é mau e as pessoas têm a sensação de viver num cerco. Nunca pensei que iria emigrar, mas com o stress da sobrevivência diária percebi que iria ser muito difícil evoluir."

Prevê-se que duas gerações se percam como resultado da grande crise económica grega. A nova diáspora, segundo os especialistas, vai quase de certeza abranger gente mais nova, com boa formação e multilingue, mas incapaz de sobreviver mais tempo num país com uma economia em queda livre, em parte devido às fortes medidas de austeridade que a Grécia foi forçada a aplicar em troca de ajuda.

Um estudo recente da Universidade de Thessaloniki revelou que a grande maioria dos gregos opta agora por trabalhar no estrangeiro e que a geração mais nova vai para países tão diversos como Rússia, China e Irão. Os inquiridos, na sua maior parte, nem sequer tentaram arranjar emprego no seu país porque não veem futuro numa economia que terá de aguentar rigorosos apertos de cinto pelo menos durante mais uma década.

MIGRAÇÕES E DEMOGRAFIA -EMIGRAÇÃO

O êxodo grego para a Austrália

Para os jovens europeus dos países em crise, a Austrália em crescimento passou a ser a nova terra das oportunidades. É o que acontece especialmente à nova geração de gregos licenciados que se junta à enorme comunidade de expatriados do seu país espalhada pelo mundo.

Há uns meses que uma onda de homens e mulheres maioritariamente jovens, acabados de desembarcar do avião que os trouxe da Grécia, bate à porta de um enorme edifício da Lonsdale Street no centro da cidade de Melbourne. Este edifício, da década de 1940, alberga a maior comunidade grega residente na Austrália.

Num cenário que faz lembrar a grande corrida ao ouro na viragem do século XX, esta gente viaja até à outra ponta do mundo à procura de uma vida melhor. Ao contrário dos antigos compatriotas, a notoriedade destes novos emigrantes é visível atendendo aos seus diplomas, ganhos à custa de muito esforço em áreas bastante difíceis. "Andaram todos na universidade, engenheiros, arquitetos, mecânicos, professores, bancários, dispostos a fazer qualquer trabalho". "É um desespero. Estamos todos aterrorizados. Geralmente, chegam apenas com um saco. As histórias que contam são desoladoras e cada avião traz mais".

O êxodo é apenas uma parte do drama humano na Grécia, onde a crise da dívida europeia começou. Desde junho que os responsáveis pela comunidade de Melbourne estão a ser inundados com milhares de cartas, emails e telefonemas de cidadãos gregos desperados para emigrar para um país que, resguardado da trubulência dos mercados globais, é visto agora como uma terra de incomparáveis oportunidades.

Só este ano, foram 2500 os cidadãos gregos que foram viver para a Austrália, embora as autoridades de Atenas afirmem a existência de mais 40 mil que também "expressaram interesse" em iniciar o árduo processo de mudança para aquele país. Uma "skills expo", com 800 lugares, realizada em outubro pelo governo australiano na capital grega, atraiu uns 13 mil candidatos.

A VIDA A 27 - EMPREGO

Alemanha, terra de imigração de trabalho.
“Bem-vindo à Alemanha!” “Pela primeira vez desde há décadas, o número de imigrantes na Alemanha ultrapassa o dos emigrantes” A causa é o aumento do desemprego e muitos países da UE, enquanto a Alemanha está a viver um boom no emprego, atraindo os trabalhadores estrangeiros qualificados. Durante muito tempo, a economia alemã lamentou a ausência de uma “cultura de boas vindas” que, “no mínimo, desse aos imigrantes a impressão de serem ‘simplesmente’suportados na Alemanha. Agora, é a crise do euro que está a realizar esta exigência dos economistas” congratula-se este diário de negócios.

No primeiro semestre de 2011, segundo a agência federal de estatística, o número de imigrantes espanhóis aumentou 49% em comparação com o ano anterior, e o dos gregos cresceu 84%. Ao todo, chegaram à Alemanha, no primeiro semestre deste ano, 435 mil pessoas, o que representa um aumento de 20% em relação aos números do ano passado. No mesmo período, foram 30 mil os alemães que emigraram. “O tempo em que a Alemanha era um país de emigração parece ter acabado”.

Desemprego

Em fevereiro, o desemprego na UE atingiu a taxa mais elevada dos últimos quinze anos. Segundo o Eurostat, 10,2% dos europeus estão sem emprego, ou seja, 24,55 milhões de pessoas. Na zona euro a taxa é de 10,8%, o que significa 17,13 milhões de pessoas.
Com 5,7% (só a Holanda, a Áustria e o Luxemburgo têm menos desemprego) a Alemanha faz figura de eldorado, e “Berlim faz publicidade junto dos europeus” para atrair mão-de-obra.
Em algumas regiões e setores profissionais, a Alemanha está numa situação de pleno emprego e procura aumentar a mão-de-obra estrangeira que fala alemão.  Especialistas em imigração afirmam, no entanto, que as expectativas não devem ser muito elevadas: “A Alemanha não é a primeira escolha para os trabalhadores qualificados, tem que concorrer com outros Estados”. Refere-se sobretudo aos licenciados que falam inglês que procuram emprego sobretudo no Reino Unido. Por isso, Berlim não espera um grande assalto de desempregados gregos e espanhóis.